Sergipe é referência em rede de abastecimento de água

Data: 23/06/2014
De olho na melhoria da saúde e da qualidade de vida dos sergipanos, a Companhia de Abastecimento de Sergipe (Deso) investiu mais de R$1 bilhão em abastecimento de água e ampliação de esgotamento sanitário. Nos último sete anos, Sergipe deu um salto na área de segurança hídrica e se tornou referência no Nordeste: é o primeiro estado nordestino em rede de abastecimento de água, cujo atendimento chega a 1,52 milhão de habitantes. Nesta entrevista, publicada na edição deste domingo no Jornal da Cidade, o diretor presidente da Companhia, Sérgio Ferrari detalha os investimentos na área e explica a importância das obras da barragem do Poxim e a duplicação da adutora do São Francisco.


O Governo de Sergipe realizou nos últimos 7 anos, através da Deso, um significativo investimento em saneamento básico que supera a marca de R$ 1 bilhão. Esse montante foi destinado integralmente às obras de abastecimento de água e ao esgotamento sanitário. O que motivou esse ciclo de investimentos?

Sérgio Ferrari- Desde 2007, o Governo de Sergipe assumiu o compromisso de evitar que existisse racionamento de água tanto em Aracaju quanto no interior do estado. Durante a construção do programa de governo, se observou que a escassez de água em épocas de verão era um problema grande, que afetava bastante a população. Então, logo no início do Governo, se planejou realizar esses investimentos para evitar que o racionamento ocorresse. É evidente que foram aproveitados estudos e projetos de governos anteriores também, mas houve a determinação de que levar água para a população do sertão e para a região metropolitana seriam prioridade do Governo. A questão do esgotamento sanitário também foi uma determinação diferente de anos anteriores. Desde 2007, que o governo já direcionava para o objetivo de colocar Aracaju na dianteira das capitais do Nordeste, com relação ao esgotamento sanitário. Essa intenção encontrou eco porque foi o momento em que o Governo Federal criou o PAC 1 - Programa de Aceleração do Crescimento -, gerando também um novo ciclo para combater a falta de recursos para o saneamento básico. O Governo do Estado soube entender as diretrizes que estavam acontecendo no quadro do Governo Federal, e priorizou a elaboração de projetos e a captação de recursos para fazer esses investimentos. Hoje, essa é uma atitude que tem tido continuidade, o Governo do Estado tem investido na elaboração de mais projetos, para que Sergipe consiga ter propostas qualificadas e preparadas sempre que houver perspectivas de novos investimentos no setor do saneamento.


Esses investimentos estruturantes promovem resultados a curto, médio e longo prazo. Quais são?

Ferrari- Quando você investe em saneamento, o principal resultado é a saúde da população. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada R$1 investido em saneamento gera economia de R$4 na área da saúde. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Instituto Trata Brasil possuem estudos mostrando o quanto se gasta no país em internamentos por disenteria, enfermidades contagiosas, doenças veiculadas pela água, e diversos problemas de saúde causados pela falta de água tratada e de saneamento básico. Quando aplicamos recursos na área de saneamento, a tendência do resultado, a longo prazo, é você ter uma diminuição dos recursos investidos em saúde. No caso específico do sertão, os investimentos em distribuição de água são uma forma de enfrentamento à seca. Em Sergipe, todas as sedes municipais são abastecidas com água tratada. Quando comparamos ao resto do Nordeste, isso é um diferencial, principalmente nos momentos de seca. No caso da ampliação do abastecimento de água da região metropolitana, essa foi uma conquista que afastou definitivamente o fantasma do racionamento de água que a população vivia em períodos de estiagem.


Como a Deso planeja o aproveitamento da infraestrutura hídrica de Sergipe?

Ferrari - Temos um grande potencial para atrair investimentos. A boa gestão e planejamento desses resultam em obras estruturantes que promovem, por exemplo, a segurança hídrica da região metropolitana. Esse planejamento se mostrou eficaz, quando observamos que a população conseguiu atravessar o período de estiagem sem enfrentar racionamento, enquanto que o Sudeste passa por uma séria crise de falta de água. Não se trata de milagre, de sertão vai virar mar, mas de resultado de investimentos em saneamento básico feitos nos últimos sete anos. No entanto, Sergipe ainda é muito dependente do Rio São Francisco para ter uma segurança hídrica. Grande parte da população sergipana vive na região metropolitana - Aracaju, São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros – praticamente 40% da população do estado mora nessa área que é muito dependente do abastecimento de água do São Francisco. O planejamento que o governo do Estado fez foi no sentido de reduzir essa dependência, e conseguir ter estruturas de abastecimento na região metropolitana que pudessem dar uma segurança maior. O resultado desse planejamento é a Barragem do Poxim. Ela foi feita para que conseguíssemos perenizar o Rio Poxim e evitar que ele secasse em época de estiagem, ao mesmo tempo, permitir a interligação com os outros sistemas que abastecem a região metropolitana e dar uma segurança hídrica. A construção da Barragem foi a primeira etapa. Hoje estamos executando a obra chamada de “anéis de reforço”. Eles vão aumentar cada vez mais a interligação dos sistemas e a segurança hídrica do abastecimento de água da região metropolitana. No interior do estado, nós estamos estudando a possibilidade de melhorar as áreas de integração das regiões de Itabaiana e Lagarto, aumentando a capacidade deste sistema de forma a aumentar a vazão e posteriormente incorporar mais municípios no sistema, melhorando o abastecimento de água da região e dando segurança hídrica para os municípios.


Do total de R$584 milhões destinados à produção de água potável, R$212 milhões foram dedicados a dois importantes projetos de melhoria da oferta de água para Grande Aracaju: a duplicação da Adutora do São Francisco e a construção da barragem do Rio Poxim. O que essas duas obras representam para a história do abastecimento de água da capital sergipana?

Ferrari- Essas duas obras significam o fim do racionamento na região metropolitana pelos próximos 20 a 30 anos. Em 2005 e 2009, por exemplo, a população sofreu com a falta de água, entre os meses de janeiro e março. A duplicação da Adutora do São Francisco e a construção da barragem do Poxim permitem que o abastecimento de água da Grande Aracaju seja assegurado e regularizado. É evidente que nós temos que, cada vez mais, aumentar a segurança desses sistemas. Mas a execução dessas obras foi um passo significativo. A região metropolitana é a área onde se concentra a maior parte da população do Estado, e o maior número de consumidores dos serviços da Deso. Das cerca de 580 mil economias de água da Companhia, quase 300 mil são da Grande Aracaju, praticamente 60% das pessoas atendidas pela Deso estão nessa região. Outro fator é: quando a Deso fornece água tratada, o Governo do Estado está trabalhando o aspecto social, da saúde pública e do bem para a população, já que estamos atendendo a uma necessidade básica. Essas condições adequadas de abastecimento de água é um fator importante para impulsionar o desenvolvimento do comércio e da indústria. Em Sergipe, grande parte do comércio está relacionada ao turismo. Então, a partir do momento que nós garantimos a infraestrutura básica de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, nós estamos ajudando no crescimento e na expansão da região, através do turismo e da indústria.

As obras da barragem do Poxim e da duplicação da Adutora do São Francisco têm potencial para evitar o risco de desabastecimento pelas próximas duas décadas. No entanto, investimentos pontuais são necessários. Quais as iniciativas de expansão da rede de abastecimento que merecem destaque na capital?

Ferrari- A primeira iniciativa foi levar água tratada para a Barra dos Coqueiros. Antigamente o município era abastecido por um sistema de poço, e hoje, a Deso expandiu o sistema de abastecimento de água que atende Aracaju para a Barra dos Coqueiros e Atalaia Nova, através da tubulação que passa pela Ponte Aracaju-Barra. Dessa forma, melhoramos a qualidade da água fornecida na região e permitimos que a área pudesse se expandir com essa infraestrutura garantida. Outra iniciativa foi a duplicação do sistema de abastecimento de água da Zona de Expansão, garantindo o abastecimento regular e seguro da região da Aruanda, Mosqueiro e Pedra Branca, que é outra área em Aracaju em franco desenvolvimento. Agora nós estamos em plena execução das obras dos anéis de reforço, que interligam todos os sistemas que abastecem Aracaju, de maneira que a cidade tenha não só a segurança no abastecimento de água, como também uma versatilidade de operação dos sistemas, um complementando o funcionamento do outro, principalmente em eventuais necessidades.


A partir desse ciclo de investimentos, diversos municípios sergipanos foram contemplados com obras que visavam a expansão do acesso regular à água potável. Quais as principais ações da Deso no interior?

Ferrari- No interior, a obra mais significativa foi a Adutora do Semiárido. Com investimento na ordem de R$ 93 milhões, recursos do Governo de Sergipe, a Deso ampliou em 50% a oferta de água em 20 cidades sertaneja, dentre elas estão Carira, Frei Paulo, Pedra Mole, Pinhão e Poço Redondo. A adutora do Semiárido foi construída para integrar um complexo, formado por outras duas adutoras: do Alto Sertão e Sertaneja, o que garante a regularização do fornecimento de água em sete cidades do semiárido, além de outras 13 que compõem o Sertão sergipano. A adutora do Semiárido é uma grande obra desse governo, pois levou segurança de abastecimento de água para o sertão. O primeiro reflexo disso foi visto o ano passado. Enquanto o restante do Nordeste vivenciava a pior seca dos últimos 20 anos, Sergipe passou o período sem que houvesse desabastecimento nas sedes dos municipais.


A nova era no saneamento básico e na distribuição de água tratada em Sergipe, defendida pelo governador Marcelo Déda, trilha uma estrada de mais esperança para os sertanejos. O PAC Seca promove avanços no setor, mas o programa tem capacidade para ir além. Como isso pode ser possível?

Ferrari- O PAC Seca foi uma decisão do Governo Federal em 2012, inclusive motivada por questionamentos do governador Marcelo Déda. Ele imaginava que os governos não podiam enfrentar a seca só com programas emergenciais, mas principalmente com um projeto estruturante, com serviços que fossem perenes, obras executadas agora para trazer segurança no futuro. O PAC Seca foi concebido nessa época. Sua grande visão é enfrentar os momentos difíceis de seca não só com pequenas obras, mas também com obras que permitam segurança futura. A Companhia de Saneamento de Sergipe conseguiu apresentar para o PAC Seca três grandes projetos, dois deles com uma importância muito significativa que são incorporar, no caso do Sertão, municípios que não eram atendidos pelo Rio São Francisco. A Deso está acrescendo nesse primeiro PAC Seca, os municípios de Ribeirópolis, Moita Bonita, alguns povoados de São Miguel do Aleixo e de Nossa Senhora das Dores, que não pertenciam a essa rede de adutoras. Isso é um avanço muito grande de segurança de abastecimento de água para cidades do sertão. Nós conseguimos também incorporar a região de Tomar do Geru, que era uma região com riscos de desabastecimento, e melhorar a distribuição de água de povoados de Itabaianinha e de Umbaúba. Outra parte da obra é a questão de Aquidabã, que era uma cidade com deficiência de abastecimento de água, e agora nós estamos duplicando a vazão de abastecimento de água para Aquidabã. Nós estamos indo além porque, com essa primeira etapa do PAC Seca, a Deso está realizando novos estudos e novos projetos, para cada vez mais aumentar o que nós chamamos de capilaridade do sistema de adutoras do sertão. Projetamos a possibilidade de estender a adutora para outros municípios que não são abastecidos ainda e assim atender todos os povoados da região do sertão sergipano. Esse projeto nós temos elaborado e é esse projeto que nós vamos tentar apresentar para captar recursos novos recursos para Sergipe.

Durante muitos anos não foram feitos investimentos em obras de esgotamento sanitário no Brasil. Isso criou um abismo entre as necessidades do setor e a infraestrutura disponível. Com o PAC, a expansão da coleta e tratamento de esgoto se tornou prioridade. Em Sergipe, como o volume de recursos garantidos pelo Governo do Estado tem melhorado o saneamento básico?

Ferrari- A questão de saneamento na Grande Aracaju foi um dos avanços mais significativos do Governo, que é praticamente mais do que duplicar a rede de cobertura de coleta e tratamento de esgoto que existia em Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros. Tem sido feito grandes investimentos nesses municípios com o objetivo de universalizar a coleta e tratamento de esgoto na região metropolitana. Agora, a Deso já está iniciando investimentos em outros municípios do estado. No momento, a Deso possui termo de compromisso com a Codevasf e já está em execução o sistema de esgoto em Itabi, São Francisco e Pacatuba. Os projetos já estão prontos e as obras iniciando. Nós conseguimos com o Sergipe Cidades a melhoria do sistema de esgoto em Propriá. A Codevasftem investido com recursos dela, através do PAC, mas com muita interação e cooperação técnica da Deso, em Canindé do São Francisco, Ilha das Flores, Malhada dos Bois, Brejo Grande, Japoatã, Cedro, Aquidabã e Gararu. A Funasa também tem desenvolvido projetos em vários municípios sergipanos, como Laranjeiras, Malhador, Maruim, Poço Redondo, Santa Luzia do Itanhy, Umbaúba. Além disso, a Deso captou recentemente recursos para ampliação da rede de esgoto em Lagarto, através do PAC 2, e em Itabaiana e Nossa Senhora das Dores através do Águas de Sergipe. Dessa forma, Sergipe está passando de 7 para 20 municípios com rede de esgoto. E a tendência é que cada vez mais se procure recursos para dar cobertura de esgotamento sanitário nas principais cidades do estado.

Para além dos projetos e obras estruturantes de abastecimento de água e ao esgotamento sanitário, qual a prioridade da Deso para os próximos anos?

Ferrari - Um desafio ainda a ser enfrentado é reduzir as perdas de água. Desde 2013, a Deso assumiu a prioridade de consolidar o programa de controle de perdas em Aracaju. A meta inicial era reduzir para 35% o índice total de perdas de água na Grande Aracaju, no prazo de dois anos. Hoje, mais de 50% da água produzida deixa de ser faturada devido aos vazamentos e fraudes existentes na rede. Para reforçar o combate ao desperdício, equipes das diretorias Operacional e Comercial da empresa começaram a executar um plano de trabalho que visa identificar os locais onde há queda de distribuição e sanar as ocorrências. Na primeira fase dos trabalhos de combate ao desperdício, a empresa dividiu estrategicamente a capital sergipana em 47 Distritos de Medição e Controle (DMCs), onde é possível identificar com mais precisão o volume de água consumida pelos clientes. Mais de 23 bairros já integram a área que começou a receber a implantação de macromedidores, e onde é feito o trabalho de substituição de hidrômetros, de sondagem e de retirada de vazamentos não visíveis, além de pesquisa para identificação de ligações clandestinas. A atuação da Deso reúne também as atividades educativas, envolvendo comunidades e escolas. Tudo isso influência na diminuição do desperdício de água potável. Com o investimento na redução das perdas, a consequência é aumentar o volume de água ofertado a população, sem a necessidade de se investir em novas tubulações e estações de tratamento. Ao mesmo tempo, esta redução no desperdício melhora as condições ambientais, evitando infiltrações e erosões. Em Aracaju, o programa está em fase de testes e, em breve, a meta será replicar a experiência para todas as cidades do Estado de Sergipe.

Deso


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