Inovação nasce onde tudo é imprevisível, diz especialista

Data: 29/04/2014
Manancial praticamente inesgotável de empresas inovadoras e modelos de negócio revolucionários, o Vale do Silício, nos Estados Unidos, é visto como o paradigma contemporâneo dos ecossistemas de inovação.

O que está por trás desse caso de sucesso é uma cultura de inovação muito especial, de acordo com Victor Hwang, diretor executivo da T2 Venture Creation, uma empresa do Vale do Silício que constrói empresas iniciantes e desenha os ecossistemas que favorecem a inovação empresarial.

Hwang foi o palestrante principal da 14ª Conferência Anpei de Inovação Tecnológica, organizada pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). O evento teve início nesta segunda-feira (28/4), em São Paulo.

O palestrante é conhecido mundialmente por ser um dos autores do livro The Rainforest: The Secret to Building the Next Silicon Valley, lançado em 2012, que explica como empresas, comunidades e países podem fomentar a inovação sistêmica em larga escala.

Segundo Hwang, a forma como se pensa inovação tradicionalmente deixou de ser eficiente – e por isso era necessário estabelecer um novo arcabouço capaz de mudar o sistema econômico, tornando-o mais inovador. Com algumas modificações culturais, outros países podem reproduzir o sucesso obtido no Vale do Silício em inovação, de acordo com o especialista.

“O Vale do Silício mudou seu conceito de inovação. Há 20 anos, só pensávamos na inovação técnica. Na última década, começamos a olhar menos para a inovação de produtos e mais para a inovação de modelos de negócios. Hoje, o que o Vale do Silício está fazendo é uma inovação cultural”, declarou Hwang.

Segundo ele, uma vez que acontece a mudança cultural, os modelos de negócios se renovam e os produtos são necessariamente transformados. “Com isso, seu concorrente pode copiar todos seus produtos e até o seu modelo de negócios, mas você continuará sempre um passo à frente”, disse ele.

Mas essa mudança cultural, segundo ele, é um grande desafio. As empresas ainda pensam com o modelo industrial, com foco na produção eficiente e barata. Hwang traça um paralelo entre esse modelo e a forma de se cultivar uma fazenda. “Uma fazenda segue a lógica industrial: tudo é planejado, previsto, com o máximo de economia e o mínimo de recursos. Se vemos uma erva daninha – algo que sai do previsto – nós arrancamos”, ilustrou ele.

A cultura da inovação, segundo Hwang, se assemelha mais a uma floresta tropical, onde as ervas daninhas crescem sem controle. “Se queremos construir uma floresta tropical, não podamos nada, não enquadramos os canteiros. Apenas criamos as condições de solo, água e atmosfera para que ela cresça espontaneamente”, afirmou.

O controle e a previsibilidade devem ser reservados para as linhas de montagem, segundo o palestrante. Na hora de criar e inovar, é preciso deixar de lado o excesso de controle. “A inovação nasce nesse ambiente onde tudo é imprevisível”, disse.

Segundo ele, a primeira regra para implantar essa nova cultura de inovação consiste em quebrar as regras e sonhar. “Em segundo lugar é preciso abrir as portas e ouvir gente diferente de você, sem preconceitos. Em terceiro, é necessário confiar e ser confiável: no Vale do Silício há uma confiança a priori, pois se for preciso conquistar a confiança, avançamos devagar”, declarou.

Outro conselho para uma inovação sistêmica é buscar a justiça e não a vantagem. “Temos que pressupor que estamos todos buscando juntos um resultado. Não queremos ganhar sempre, mas construir um grupo interativo – é preciso estar disposto a experimentar”, disse Hwang. Além disso, é preciso errar, falhar, mas persistir.
“A última regra é: fazer favores gratuitamente, sem esperar retorno. Quando isso é feito de forma sistemática, esses favores se tornam uma moeda. No Vale do Silício, se você surge com uma proposta boa, consegue ajuda de todo mundo”, explicou Hwang.

ANPEI


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