Bioeletricidade: energia elétrica limpa e renovável

Data: 09/04/2014

A energia elétrica limpa, ou bioeletricidade, é produzida a partir da biomassa da cana – o que sobra depois do processo de extração do caldo para transformar em açúcar ou etanol – que é bagaço e palha. Ambos são combustíveis para geração de bioeletricidade, enviados para as caldeiras das usinas; o vapor gerado nas caldeiras produzem três tipos de energia: a térmica, mecânica e elétrica.
A energia térmica é empregada para o aquecimento no processo produtivo do açúcar e do etanol, além de ser transformada em energia mecânica; a energia mecânica movimenta as máquinas e equipamentos de extração e preparação do caldo, além das turbinas de geração de energia, transformando-se assim em energia elétrica; a energia elétrica, ou a bioeletricidade da cana, é usada para o consumo próprio da usina e o excedente é vendido para o sistema elétrico nacional.
Além da cana, a bioeletricidade é produzida através do licor negro (combustível resultante do processo de produção de papel e celulose), e dos resíduos de madeira, biogás, capim elefante, óleo de palmiste, carvão vegetal e casca de arroz.
“Uma das desvantagens da produção de energia advinda da biomassa tem a ver com a emissão de particulados na queima destes resíduos que, felizmente, pode ter seus efeitos prejudiciais minimizados caso o sistema de geração invista na neutralização e catalisação dos gases e partículas produzidas na queima da biomassa”, afirma o engenheiro elétrico e professor da Universidade de Cuiabá (UNIC-Cuiabá/MT), Hermom Leal Moreira.
Geração e valor
As 389 usinas de açúcar e etanol no país geram sua própria energia através da biomassa da cana (bagaço e palha). Mas desde 1987 algumas usinas começaram a exportar excedentes de energia elétrica para a rede nacional. Atualmente, estima-se um total entre 170 e 180 usinas exportando bioeletricidade para a rede de um universo de quase 400 usinas (pouco mais de 40% do total).
De acordo com o gerente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA), Zilmar de Souza, calcula-se que, em 2013, foram gerados 1844 MW para atender ao próprio consumo das usinas, e 1720 MW médios gerados para a rede elétrica. Estima-se, ainda, que a oferta de bioeletricidade da cana para exportar às redes, tenha atingido os 15 milhões de MWh.
Estes números representam, para a sociedade e para o sistema elétrico brasileiro, alguns pontos positivos. Entre eles estão:
• 37,6% da geração anual prevista para a Belo Monte;
• 15,3% da geração de energia elétrica da usina de Itaipu em 2013;
• A economia em termos de emissões em 2013 foi equivalente a 45% das emissões totais de gases de efeito estufa do município de São Paulo;
• Quase nove vezes o consumo de energia elétrica total da cidade de Ribeirão Preto (com base em 2012), com população atual estimada de 650 mil habitantes;
• 45 vezes o consumo de energia elétrica total da cidade de Sertãozinho (com base em 2012), com população atual estimada de 120 mil habitantes;
• Equivalente a 125% do consumo de energia elétrica residencial de São Paulo capital (base 2012).
“Mas podemos ir além do que ofertamos, hoje, à rede elétrica. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética do Governo Federal (EPE), o potencial da biomassa da cana, em 2013, era de 5,4 GW médios e exportamos 1,72 GW médios. Se no passado (demoramos de 18 a 30 meses para por um projeto cogeração novo de pé) tivéssemos uma contratação mais firme da biomassa, hoje não estaríamos tão dependentes das térmicas sujas e poluentes”, confessa Zilmar.
O preço médio praticado nos leilões de compra para atender o mercado cativo das distribuidoras foi de R$ 133,38 para a biomassa da cana no último leilão A-5 2013, ocorrido em dezembro. “Hoje, preço na região Sudeste é de R$ 822/MWh! Portanto, quanto mais eu consigo colocar de biomassa no portfólio de longo prazo do setor elétrico, mais pouparei águas nos reservatórios e mais contribuirei para que o preço de liquidação de diferenças (PLD) não chegue a valores limites como está hoje”, acrescenta o gerente de bioeletricidade da UNICA.
Projeto Agora e Seminário 1º de abril
O projeto Agora é a maior iniciativa de comunicação institucional do agronegócio brasileiro com o objetivo de integrar a cadeia produtiva da cana-de-açúcar em torno da divulgação da importância da agroenergia renovável.
São associações e empresas do setor sucroenergético unidas na geração de conhecimento, na disseminação de impactos sociais e ambientais positivos e, fundamentalmente, na disponibilização e ampliação de esclarecimentos para a conscientização da opinião pública sobre as questões da indústria da cana-de-açúcar e a sustentabilidade.
O Seminário “1º de abril: dia da verdade sobre a bioeletricidade” teve justamente os objetivos do projeto Agora – que o realizou. Na opinião do professor Hermom Leal Moreira, “a iniciativa de aprofundar as discussões sobre o uso de fontes alternativas de energia para diversificação da matriz energética é providencial e urgente, uma vez que consumo atual bem como a demanda futura acompanham o crescimento e desenvolvimento do país”.
Entre outros pontos citados no seminário, o deputado Antonio Carlos Mendes Thame falou sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto que prevê que a energia suja seja substituída pela limpa, “isso daria um direito ao crédito de carbono, mas os créditos ficam com o governo e não estão sendo utilizados. Minha sugestão é que ficasse com os empreendedores. O governo deveria incentivar o empresário para que pudesse investir mais, mas o governo é muito lento para tomar decisões”.
(Consumidor Consciente)


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