Nepal quer saber mais sobre sua água

Data: 03/04/2014
Especialistas em hidrologia, meteorologia e clima do Nepal concordam quanto à necessidade de reunir mais e melhor informação sobre a água, recurso vital para a agricultura, indústria, energia e a população do país, para criar políticas de manejo baseadas em dados científicos.

O acesso à água nessa pequena nação do Himalaia continua dependendo do que determinam as temporadas anuais de monções, que vão de junho a setembro. “Se não sabemos quanta água há, não podemos administrá-la ou realizar uma correta avaliação dos recursos”, disse à IPS a presidente do escritório em Katmandu do Instituto Internacional de Gestão da Água (IWMI).

Por sua vez, Shib Nandan Shah, do Ministério de Desenvolvimento Agrícola, afirmou que a informação exata e oportuna, sobretudo referente às precipitações, é de suma importância para as comunidades rurais. Mais de 74% dos 27 milhões de habitantes do país e 35% do seu produto interno bruto dependem da agricultura, e a maior parte desta é irrigada pelas chuvas.

“A informação confiável é especialmente importante para um agricultor que deseja assegurar seus cultivos”, observou Shah. “Se a informação carece de precisão, como o pobre agricultor poderá se proteger?”, questionou. “A cada ano, inundações e deslizamentos causam, em média 300 mortes no país, e se estima que as perdas econômicas superem os US$ 10 milhões”, acrescentou.

A informação é importante em um país como o Nepal, que possui grandes fontes de água não utilizada, para que os planos de desenvolvimento não se baseiem em estimativas vagas. “As simulações sem informação verificável não têm nenhum sentido”, pontuou à IPS Vladimir Smakhtin, do IWMI.

Especialistas também destacam que os dados sobre a água não podem ser estudados de forma isolada. “A informação sobre as chuvas, os recursos hídricos e o clima estão todos interligados com o desenvolvimento da energia hidrelétrica, com a construção de estradas e inclusive com a aviação”, pontuou o diretor do Departamento de Hidrologia e Meteorologia (DHM), Rishi Ram Sharma.

Um dos principais desafios do país, e a razão pela qual é tão difícil reunir a informação, é seu terreno desigual. Cerca de 86% do território é coberto por colinas escarpadas e altas montanhas. “A maior parte da informação que temos sobre a água em zonas altas e a mudança climática não é nossa, mas baseada em modelos de circulação globais”, afirmou Sanjay Dhungel, da Comissão de Água e Energia do Nepal. “Quanto mais dados tivermos melhor será, mas em nosso contexto não temos muito com o que comparar”, acrescentou.

Cientistas acreditam que levará muitos anos para criar melhores redes entre as estações de medição. Especialistas recomendam o uso de nova tecnologia, como sensores remotos que possam medir a evapo-transpiração, a umidade do solo e o uso da terra. Uma das razões mais importantes pelas quais os cientistas e os políticos nepaleses precisam de estatísticas sobre a água e o clima é que são fundamentais para compreender a mudança climática.

“Antes de tudo, não temos informação suficiente, e a que temos não é analisada adequadamente, o que significa que muitas previsões da mudança climática relacionadas com a redução de neve, o derretimento de geleiras e a escassez de água são enganosos”, ponderou Luna Bharati, do IWMI. “Se descobrirmos que a água glacial contribui com 5% do total de recursos hídricos, então o efeito do aquecimento global não seria tão dramático como acreditamos. Mas não sabemos nada disso porque não temos informação confiável”, ressaltou.

Uma das últimas medidas para enfrentar este problema foi a criação, em 2012, de um site do DHM com informação sobre clima, água e geografia, que também inclui dados atualizados em tempo real sobre inundações, nível da água e precipitações. Além disso, o IWMI trabalha em um portal que reunirá informação sobre uso da terra, censos e migrações, com o objetivo de ajudar os pesquisadores.

Anil Pojrel, especialista em manejo de desastres para o Banco Mundial em Katmandu, elogiou esses esforços para tornar disponível informação científica e destacou que os dados sobre mudança climática, água e agricultura estão tão conectados entre si que é preciso que sejam acessíveis a todos.

“Se o DHM trabalha em informação relacionada com mudança climática e água, o Departamento de Estradas pode trabalhar em informação viária e mapeamento, e outro departamento pode trabalhar em agricultura, mas têm de poder se retroalimentar entre si. Trata-se de criar sinergias”, destacou Pojrel. Para isto recomenda que o portal web seja uma fonte aberta a todos. “No final das contas, não há outra opção. Temos que fazer portais para consolidar a informação e torná-la acessível”, enfatizou. Envolverde/IPS

(IPS)


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