Com termelétricas, Brasil coloca em risco credibilidade em meio ambiente

Data: 07/04/2009

Com termelétricas, Brasil coloca em risco credibilidade em meio ambiente


Dono de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, o Brasil tem potencial para ser um dos principais atores no debate mundial sobre mudanças climáticas. Mas o país, segundo especialistas, está colocando essa vantagem "em risco".

Isso porque o país tem encontrado dificuldades para colocar novas hidrelétricas em operação. O resultado é o aumento do número de termelétricas. O plano decenal de energia, do governo federal, prevê a construção de 81 novas unidades de usinas térmicas até 2017, sendo que 68 delas são baseadas em combustíveis fósseis, que produzem gases do efeito estufa.

A grande força-motora da energia elétrica brasileira é a água, responsável por 85,9% de todo o abastecimento. Mas a construção desse tipo de usina costuma esbarrar em questões ambientais. De acordo com a Empresa de Pesquisa Enérgica (EPE), responsável pelo plano, a dificuldade em licenciar usinas hidrelétricas está fazendo com que o país ofereça termelétricas.

"Estamos sendo obrigados a aceitar usinas mais caras e piores para o meio ambiente", diz Maurício Tolmasquin, diretor da EPE. "A área ambiental do governo está preferindo licenciar termelétrica a óleo do que hidrelétrica", diz. A participação da energia à base de combustíveis fósseis é pequena no país, com peso de 10,2% no total de geração. Com a construção das novas unidades térmicas, passará para 16,7%.

Já a participação das usinas térmicas nas emissões de dióxido de carbono, pelo país, sairá dos atuais 4,3% para 12% nos próximos oito anos. Os números são pequenos, principalmente quando comparados ao desmatamento, responsável por 75% das emissões brasileiras. Mas ainda assim os especialistas vêem o plano como preocupante. Segundo eles, o país está dando um sinal "errado".

Contramão

A avaliação do economista da Universidade de São Paulo (USP) José Eli da Veiga é de que o país pode estar "jogando uma grande vantagem pela janela". "Estamos no caminho inverso do que vem sendo feito no resto do mundo, por incrível que pareça", diz Veiga. Países em desenvolvimento, como o Brasil, precisam ampliar consideravelmente sua geração de energia para suprir o crescimento econômico previsto para os próximos anos.

Para evitar uma nova crise no abastecimento de energia, o governo brasileiro diz que é necessário ampliar a capacidade energética do país em 54% até 2017. Segundo Veiga, o Brasil é o único país entre os emergentes que pretende expandir o abastecimento usando fontes poluidoras. "É fato que os grandes emergentes partem de uma base energética extremamente poluente e, portanto, têm mais espaço para adotarem tecnologias limpas", diz. "Mas ainda assim o Brasil não deveria caminhar no sentido inverso".

O professor da USP lembra que já existem estudos, de institutos independentes, apontando para o fato de que, no Brasil, as emissões de dióxido de carbono vêm crescendo mais rápido do que o PIB. "O que também preocupa", diz. O governo brasileiro pretende fazer sua parte de outra forma. O país assumiu, pela primeira vez, metas para a redução do desmatamento na Amazônia.

O Plano Nacional de Mudanças de Clima, anunciado em dezembro, prevê a redução de 70% das áreas desmatadas até 2017. Pelos cálculos do governo, a medida resultará em uma redução de 4,8 bilhões de toneladas nas emissões de dióxido de carbono até o final do período. Para o pesquisador Osvaldo Stella, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), as metas foram criadas "a toque de caixa, sem muito estudo, mas ainda assim são bem-vindas".




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