País investe pouco em pesquisa geológica
O Brasil investe em pesquisa de novas jazidas menos do que países menores ou com dimensões e formação geológicas semelhantes. Embora ocupe território sete vezes maior, o país destinou em 2011 cerca de 60% do valor investido pelo Peru em investigação geológica, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Elevar os recursos destinados à pesquisa de novas reservas está fora dos planos de grandes investidores.
Trata-se de uma atividade de alto risco sem nenhum mecanismo de financiamento disponível, explica a gerente de pesquisa e desenvolvimento do Ibram, Cinthia de Paiva Rodrigues. Os investimentos mundiais em exploração mineral foram estimados em US$ 10,7 bilhões pelo Meals Economic Group (MEC).
A participação do Brasil nesse volume é de apenas 3%, enquanto o Canadá e a Austrália, com dimensões e formação geológicas similares às brasileiras, lideram o ranking de investidores, com 19% e 12% respectivamente. Os EUA ocupam a terceira posição, com 8%. O Brasil fica não só atrás da China (4%) e Rússia (4%) como também do México (6%) e do Peru (5%).
Para cada mil áreas pesquisadas, Cinthia calcula, apenas uma vira mina. Dos requerimentos de pesquisa apresentados ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), menos de 1% acabam em registro de extração. O DNPM recebeu no ano passado 20.463 requerimentos de pesquisa e efetivou 136 registros de extração. O risco fica todo para a iniciativa privada, afirma.
Os investimentos em investigação de novas reservas são baixos, mas podem superar os US$ 321 milhões estimados pelo Meals Economic Group, ressalva o diretor-executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), Onildo João Marini. É que o levantamento exclui, segundo ele, os metais ferrosos, urânio e também manganês, que, segundo ele, tem sido bem explorado no Brasil. O estudo exclui também os investimentos de pequenas mineradoras que investem pouco, mas que formam um grupo de até 20 mil empresas, explica.
A ausência de linhas de financiamento é um dos desestímulos à pesquisa. Mas o diretor da Adimb aponta outros fatores importantes para estimular a investigação de novas reservas: incentivos fiscais, garantias e estabilidades jurídicas com menor cobrança de royalties, e menor custo Brasil. No Canadá, ele lembra, os investidores em ações de empresas mineradoras nas bolsas de valores podem abater até 15% do valor no imposto de renda. É uma forma indireta de o setor público investir na exploração mineral, avalia.
O alto custo Brasil, segundo ele, está afugentando até o beneficiamento das commodities. Muitas empresas, ele relata, fazem esse serviço no exterior. Procuram países como o Peru, por exemplo, que tem energia elétrica duas vezes mais barata do que a do Brasil. Novas pesquisas esbarram ainda na falta de infraestrutura. A Amazônia e o Leste do Brasil, ele avalia, seriam mais bem exploradas se houvesse maior oferta de energia elétrica, hidrovias e rodovias.
Falta também informação geológica, mapas geológicos precisos e mais detalhados para facilitar o trabalho e reduzir os gastos. O Brasil avançou nessa área, mas, segundo ele, está longe de ter uma cartografia geológica como as dos distritos minerais do Canadá e Austrália. Os mapas canadenses são de alta qualidade e o investidor sabe onde estão todos os tipos de minerais, diz.
As maiores investidoras nessa área devem manter ou reduzir os investimentos. Os recursos para financiar a pesquisa de novas jazidas da Votorantim Metais no Brasil e no exterior, como Argentina, Colômbia, Peru, Canadá e mais recentemente em países do continente africano estão estimados em R$ 100 milhões e saem do caixa da empresa, segundo o diretor de Exploração Mineral do grupo Votorantim, Jones Belther.
Com o foco principal na alocação de capital, privilegiando investimentos com maior retorno aos acionistas, a Vale tem reduzido os investimentos em P&D, informa a assessoria de imprensa da Vale. No ano passado, a empresa investiu US$ 1,6 bilhão dos US$ 2,35 bilhões previstos para essa área. Este ano, será investido US$ 1 bilhão, equivalente a 7% do valor projetado para 2013. Desse total, US$ 382 milhões devem financiar programa de exploração mineral, US$ 645 milhões estudos conceituais, de pré-viabilidade e de viabilidade e US$ 206 milhões os novos processos e inovações tecnológicas.
(Valor Econômico)
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