Busca por energia limpa requer desvios

Data: 05/07/2013
Jonathan Wolfson e Harrison Dillon começaram daquele jeito mítico do Vale do Silício. Há uma década, os dois amigos de faculdade se puseram a trabalhar na garagem de Dillon, cultivando algas em tubos de ensaio, na esperança de usarem a biotecnologia para criar energia renovável. Aí encontraram um pequeno grupo de investidores.

Agora, eles lançaram seu primeiro óleo derivado de algas em escala comercial: pálido, inodoro e fornecido em um frasquinho dourado, ele não é voltado para tanques de combustível, mas para o rosto de mulheres preocupadas com o envelhecimento cutâneo.

Cada frasco de 30 ml custa US$ 79, e, talvez graças a ele, a empresa da dupla, a Solazyme, consiga ir além do ponto onde tantas outras companhias de tecnologia limpa perderam o gás: a passagem para a produção em escala comercial.

A esperança da Solazyme é se manter à tona fabricando óleos que sirvam a diversas funções – como hidratar a pele ou substituir a manteiga e os ovos em receitas de forno. O passo seguinte é fabricar enormes quantidades de produtos de energia renovável a um preço capaz de concorrer com os combustíveis fósseis.

Há anos, gestores públicos, ambientalistas e empreendedores alardeiam a promessa de domar a energia do sol, do vento, das ondas, dos resíduos sólidos urbanos ou, agora, das algas. Desde 2007, o consumo de energia oriunda de fontes renováveis nos EUA cresceu quase 35%. Hoje, ele representa cerca de 9% do total, segundo a Administração de Informação Energética.

Mas houve fracassos proeminentes. Empreendimentos de energia limpa outrora promissores, que haviam atraído milhões de dólares em apoio do governo americano – como a fábrica de painéis solares Solyndra, a usina de etanol celulósico Range Fuels e o fornecedor de baterias A123 Systems –, faliram. A próxima geração de biocombustíveis, baseada em plantas não alimentícias, ainda luta para conseguir decolar.

O capital de risco se desacelerou, e novas empresas dessa área precisam queimar grandes volumes de capital em muitos anos de pesquisa e em equipamentos antes de comprovarem suas promessas. Em nível global, o capital de risco investido em tecnologias limpas diminuiu de US$ 9,61 bilhões em 2011 para US$ 7,4 bilhões em 2012, uma queda de quase um quarto, segundo o banco de dados i3 Platform, do Cleantech Group.

Por isso, as empresas de energia limpa não podem se apoiar na clássica abordagem em que os investidores recebem dividendos rápidos e polpudos. Elas precisam de uma combinação de verbas governamentais, parcerias setoriais e uma disposição para buscar linhas de produtos com maior valor agregado, como parte da rota que leva a mercados maiores, mas com margens mais reduzidas.

The New York Times


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