Mudanças Climáticas, Riscos e Impactos no Saneamento

Data: 20/06/2013

Há consenso na sociedade e na comunidade científica de que o agravo do efeito estufa está provocando mudanças na temperatura do planeta e, com isso, trazendo transformações também ao saneamento. Para debater as “mudanças climáticas, risco e impactos no saneamento”, a Superintendência de Gestão Ambiental da Sabesp reuniu, no último dia 13, cerca de 500 pessoas no auditório do Espaço Vida, na Ponte Pequena, quando foi possível ouvir especialistas em sustentabilidade como o ex-secretário do Meio Ambiente, Fábio Feldman, a geóloga Célia Regina de Gouveia, que há anos estuda os efeitos do aquecimento nos oceanos, José Marengo, uma das maiores autoridades em clima e em variações da temperatura, Isaac Volchan Jr., da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um engenheiro empenhado em estudar as consequências do efeito estufa no Rio de Janeiro, Oswaldo Lucon, assessor técnico do gabinete da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, especialista que mescla conhecimento jurídico com experiência de engenheiro e Wanderley Paganini, superintendente de Gestao Ambiental da Sabesp.

O diretor de Sistemas Regionais da Sabesp, Luiz Paulo - representando a diretora-presidente, Dilma Pena - lembrou que a limpeza do rio Tietê, a grande obra da empresa na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) só estará completa se também forem despoluídos os afluentes, como os rios Sorocaba e Jundiaí. Para isso, a Sabesp entregará, até o fim de 2014, mais 86 estações de tratamento de esgotos (ETEs). Trinta delas já ficaram prontas e as outras estão em andamento ou em fase de licitação. São Bento do Sapucaí, Guaraí, Águas de Santa Bárbara receberam as novas estações, enquanto outras 45 já se encontram em obras. No Vale do Paraíba, a Sabesp está construindo oito novas ETEs que vão melhorar sensivelmente a qualidade das águas do rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de importantes municípios do Vale, além de abastecer o Rio de Janeiro. “Não somos nós que dizemos. É a imprensa do Vale do Paraíba quem afirma que hoje já é possível pescar no rio Paraíba do Sul.” Outro rio, onde em breve será possível pescar é o rio Jundiaí: “Em qualquer registro da Cetesb ou da Agência Nacional de Águas (ANA) que se pesquise vai se constatar que o rio Jundiaí é tido como poluído. No entanto, com as estações que estamos construindo, logo será possível pescar no rio Jundiaí. Vamos chamar o governador e a diretora-presidente para lançarmos peixes lá, assim como fizemos em Boituva”, arremata Luiz Paulo, um entusiasta da otimização dos recursos naturais.

Após a abertura do evento, a geóloga Dra. Célia Regina de Gouveia Souza ministrou palestra com foco nos efeitos da elevação dos mares na operação de saneamento. Por exemplo, a invasão das águas oceânicas pode afetar as estruturas dos sistemas de água e esgotos presentes nas regiões litorâneas. Com isso, todo um protocolo de procedimentos poderá requerer adequação para se garantir a qualidade dos serviços prestados à população.

Como combater o efeito estufa, se o governo brasileiro fez uma clara opção pelo sistema rodoviário e pelo uso intensivo dos derivados de petróleo? Serão investidos bilhões de dólares na extração do pré-sal, se abandonar os trens e ficar com os caminhões? Esses foram alguns dos questionamentos de Oswaldo Lucon, no início de sua palestra. Um engenheiro também formado em Direito pela USP que utiliza o conhecimento das duas áreas, deixando claro que o Brasil só conseguirá mitigar os danos do aquecimento se mudar sua matriz energética. Ele acha que a preservação ambiental ainda não conseguiu contaminar os setores governamentais que têm mais poder de decisão.

Já para o especialista em clima e meteorologia, José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, a elevação da temperatura tem provocado chuvas mais violentas, temperaturas elevadas no inverno, verões bem quentes e invernos com número menor de dias frios. Some-se a intensificação das secas nos locais onde existe essa tendência. Ele exibiu uma série de gráficos com números evidentes do aumento dos dias quentes e da redução dos dias frios. “Algumas metrópoles, como São Paulo, por exemplo, já sofrem com o efeito estufa. Temos, a cada ano, sofrido com inundações mais drásticas, agravadas com a ausência de terrenos permeáveis para o escoamento das águas”. E continua Marengo: “acrescente-se que tanto o Rio de Janeiro como São Paulo são metrópoles perto do litoral e, com isso, poderão sofrer ainda mais com a elevação do nível do mar”.

O engenheiro Isaac Volschan Jr. fez um trabalho muito interessante ao estudar os efeitos do aquecimento na operação do saneamento no Rio de Janeiro e concluiu que as mudanças climáticas podem trazer elevação de custos para a operação do saneamento, bem como dificuldades para sua consecução.

No período da tarde, coube ao superintendente Wanderley Paganini o enceramento dos trabalhos, destacando, inicialmente, os impactos das mudanças climáticas aos provedores dos serviços de água. Segundo dados do Banco Mundial: menor disponibilidade de água, maior demanda urbana por água, menos qualidade da água superficial, mais competição por recursos hídricos, alteração na vegetação das bacias hidrográficas, modelos climáticos imprecisos com maior dificuldade para o planejamento, alteração dos lençóis freáticos e aquíferos, aumento da demanda de água pela agricultura, intrusão salina e falhas em sistemas combinados de coleta.

Nos últimos anos, frisou Paganini, a Sabesp vem ampliando sua atuação na área ambiental. Como parte desse trabalho, foram elaborados os inventários corporativos de emissões de gases de efeito estufa dos anos 2007, 2008, 2009 e 2010 que, além da quantificação das emissões, trouxe também subsídios para respostas para algumas questões importantes sobre a temática, tais como: diagnóstico sobre o conhecimento do assunto na Empresa, as fontes de emissões características da Cia., identificação, aplicação e desenvolvimento de metodologia para elaboração de inventários em saneamento, gestão e disponibilização de informações, avaliação de riscos e oportunidades relativas às mudanças do clima e identificação de ações de mitigação e compensação de emissões na Sabesp.

Como entusiasta da preservação ambiental, Paganini lembrou que a Sabesp vai continuar avançando em sua iniciativa de promover plantios de árvores e recomposição florestal, respondendo aos céticos que “não somos empresa de reflorestamento, mas com o plantio de árvores estamos ajudando a preservar o insumo básico do nosso negócio que é a água”, destacou.

E o superintendente listou ações que vêm sendo conduzidas na companhia e que contribuem para reduzir as emissões de GEE no saneamento: o PURA, a cobertura de lagoas, a produção de biossólidos, a busca pela eficiência energética, o investimento em reúso, conservação de florestas, automação dos processos, controle de perdas, implantação de pequenas centrais hidrelétricas. Ainda, mencionou todas as certificações que as unidades operacionais da Sabesp já conquistaram e destacou que até 2020, cerca de R$ 15 milhões/ano serão destinados a mitigação das emissões de Gases do Efeito Estufa - GEE.

Sabesp


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