Copasa transforma esgoto em fertilizante para a agricultura

Data: 23/05/2013
Os dados já mostram que a utilização do esgoto, tanto na forma bruta quanto tratada, supriu a necessidade de nutrientes do algodão

Buscar a excelência em saneamento básico. Para muitos, talvez esse objetivo se limite à qualidade nos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Mas para a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), essa missão também envolve educação ambiental, proteção ao meio ambiente e integração com a comunidade e o meio acadêmico. Um exemplo disso é o projeto de fertirrigação na agricultura que utiliza efluentes tratados como fertilizantes. A iniciativa, pioneira em todo o estado de Minas, nasceu em maio de 2012 no Departamento Operacional Norte da Companhia (DPNT), mais precisamente na cidade de Janaúba.

Para consolidar a ideia, os gestores da Copasa na região buscaram parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). O projeto, que conta com a participação de alunos e professores do curso de Agronomia, é desenvolvido em uma área experimental de aproximadamente um hectare, localizada ao lado da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Janaúba. O espaço, cedido pela Copasa, faz parte do investimento de R$ 200 mil feito pela companhia no projeto.

O analista máster de Saneamento, Anibal Oliveira Freire, e o gerente de Divisão de Operação de Montes Claros, Rômulo de Souza Lima, explicam como a iniciativa se desenvolve na prática. “Temos vários módulos experimentais: um com o esgoto bruto, dois outros com o esgoto tratado, vindo diretamente da ETE, e outro com adubação convencional”, esclarece Rômulo Lima. Segundo eles, a ideia é comparar a eficácia do esgoto, como fertilizante, em relação à irrigação com água e adubação convencional (NPK).

E os resultados surpreendem. “Ano passado, começamos dois experimentos: um com banana prata anã, uma das culturas mais utilizadas na região, e outro com algodão. Tendo em vista o ciclo produtivo da banana, só teremos resultados iniciais dessa produção em julho. Mas em relação ao algodão, os dados já mostram que a utilização do esgoto, tanto na forma bruta quanto tratada, supriu a necessidade de nutrientes da planta”, declara o professor de Agronomia da Unimontes e mestre em Irrigação e Drenagem, Silvânio Rodrigues dos Santos.

Ele explica que são utilizadas duas doses do esgoto tratado, correspondendo a 100% e 150% do recomendado em quantidade de potássio. O mesmo foi feito quanto ao esgoto bruto. Em termos de desenvolvimento e produtividade, o esgoto tratado, nas duas doses, atendeu à necessidade da planta, se comparado com a adubação convencional (mineral). Já o esgoto bruto atendeu à necessidade e ainda aumentou a produtividade em relação ao adubo tradicional.

Mas segundo Anibal Freire, a única opção viável de fertilizante para aplicação agrícola irrestrita, ou seja, que pode ser disponibilizado aos agricultores com segurança, é com o esgoto tratado e desinfetado pela ETE. “E é nesse sentido que caminham nossos experimentos”, ressalta.

Para evitar que os nutrientes prejudiciais ao solo, como o sódio, impactem o meio ambiente, o professor Silvânio explica que, em vez de utilizar o critério de irrigação, eles optaram pela fertirrigação – aplicação de fertilizantes por meio da água. “Nesse caso, atendemos à necessidade da cultura em termos de nutriente com o esgoto tratado e complementamos com água limpa. Em se tratando da bananicultura, cerca de 20 a 30 dias antes da colheita, suspendemos a aplicação de esgoto e mantemos a irrigação com água limpa. Depois, avaliaremos os frutos para ver se há contaminação por microorganismos”, detalha.

Um dos benefícios diretos do projeto está ligado, inclusive, ao abastecimento da região. Por estar situada no semiárido mineiro, Janaúba é carente de recursos hídricos. Assim, um reflexo positivo do projeto será criar uma alternativa para poupar o reservatório que abastece a cidade. “Se utilizarmos o esgoto para atender a exigência da cultura, podemos economizar a água da Barragem do Bico da Pedra. No caso da banana, por exemplo, se usarmos esgoto limitado a 150 quilogramas por hectare de sódio, ao final de um ano teremos economizado 16% de água de boa qualidade, que poderá ser usada para outro fim. Também, esperamos economizar 50% da dose de nitrogênio e 40% da dose de potássio. Em termos econômicos e ambientais é muito interessante. Além disso, o fato de o esgoto ser direcionado a outro local e não ao rio contribui para a manutenção da qualidade do curso d’água”, conclui.

O projeto ainda possibilita à Unimontes e aos futuros profissionais o acesso a uma nova área de pesquisa, aplicação e atuação, com benefícios para todos. “Nada melhor, enquanto estudante, do que aliar teoria e prática. Mas o mais importante nessa oportunidade é a inovação tecnológica, que nos permitirá utilizar fontes menos degradantes para o meio ambiente e manter a agricultura produtiva”, declara o aluno do 6º período do curso de agronomia da Unimontes e participante do projeto, Edcássio Dias Araújo. E ele já tem planos para quando se formar. “Pretendo incentivar o uso de outras fontes, além dos adubos químicos, para beneficio de um todo”, conta.

Futuramente, o protótipo poderá ser aplicado em outras unidades similares da Copasa, criando, assim, condições de reuso de efluentes tratados na agricultura e proporcionando o aproveitamento dos nutrientes e da água em benefício da sociedade e do meio ambiente.

www.agenciaminas.mg.gov.br


< voltar