Brasil estuda geração de energia elétrica a partir de resíduos sólidos urbanos

Data: 22/05/2013
Representantes do governo federal e do setor privado se reuniram na última quinta-feira (16), em São Paulo (SP), para debater a viabilidade técnica e econômica da implantação, no Brasil, de uma usina de geração de energia elétrica a partir da incineração de resíduos sólidos urbanos – tecnologia conhecida como mass burning. As discussões foram baseadas em dados iniciais de um estudo contratado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que mostra como esse tipo de tecnologia é usado em outros países, o possível modelo de negócio nacional e o arcabouço legal necessário.



Um dos pontos cruciais do debate é o custo de instalação e manutenção do empreendimento. “Uma usina como essa tem capacidade para, através da incineração, converter os resíduos em vapor, por onde é gerada a energia elétrica. Além disso, ela opera com filtros destinados ao tratamento dos gases efluentes da combustão, antes que eles sejam dispersos na atmosfera. Segundo o estudo, realizado pela Proema Engenharia e Serviços Ltda, toda a estrutura envolve um investimento estimado em 140 milhões de euros, além do custo de manutenção, que pode ficar em 29 milhões por ano”, conta Junia Motta, coordenadora da Área de Química da ABDI.



Por outro lado, frente aos altos custos desse tipo de recuperação energética estão os impactos ambientais dos aterros sanitários, principal forma de tratamento utilizada no Brasil e que envolve alto risco de contaminação do solo no longo prazo. “O grande destaque do projeto que estamos desenvolvendo aqui é a definição de um modelo técnico-econômico que torne viável a instalação de uma usina de mass burning no Brasil. Por meio do estudo e da colaboração de diversas instâncias envolvidas, estamos adequando esse objetivo à realidade do país e, com isso, tornando-o possível”, afirma o gerente de projetos da ABDI, Miguel Nery.



A versão final do documento deve ser apresentada em julho, mas empresas como Braskem, Foz do Brasil/Odebrecht, Foxx e Proema já estão inseridas no debate e participaram do encontro. Também estiveram presentes representantes do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP).



Entre os dados mostrados no evento está o crescente uso do mass burning em países como Estados Unidos, Portugal, Inglaterra, França e, principalmente, Alemanha. “Vemos que essas nações promovem cada vez mais a incineração, ainda que também realizem outros tipos de tratamento de resíduos, como reciclagem, compostagem e aterros sanitários. A Alemanha se destaca por promover os mass burning desde 1965 – em 2009, o país já tinha cerca de 70 usinas – e por já não possuir aterros, seguindo a diretriz da Comissão Europeia de eliminar todos os aterros sanitários até 2020”, descreve Maria Helena Orth, diretora da Proema.





Projeto de viabilização do mass burning no Brasil é resultado de agenda estratégica do governo



Iniciativa começou a ser debatida em 2010 e agora chega a um modelo técnico-econômico viável



O projeto de instalação de uma usina de geração de energia elétrica a partir da incineração de resíduos sólidos urbanos – tecnologia conhecida como mass burning – se torna cada vez mais real no Brasil desde que o tema foi colocado na agenda estratégica do governo, entre 2010 e 2011, por meio do Fórum de Competitividade da Indústria do Plástico, promovido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A reunião da última quinta-feira (16) marca a execução dessa agenda, com a participação de integrantes do governo e da iniciativa privada, que avaliam um modelo técnico-econômico viável para mass burning.



“A discussão nasceu na cadeia de transformados plásticos e ganhou voz com a criação de um grupo de trabalho sobre recuperação energética no âmbito do Fórum”, conta Ana Sofia Peixoto, que integra as discussões pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e coordena um estudo sobre o uso desse tipo de tecnologia e a sua viabilidade técnica e econômica no Brasil. Embora a conclusão do documento, encomendado pela ABDI e MDIC, esteja programada para julho deste ano, ele já apresenta resultados que permitem modelar o projeto.



Como referência, o estudo analisa as condições de instalação do empreendimento nas regiões metropolitanas de Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA). As prefeituras de todos os municípios pertencentes a essas áreas foram convidadas a responder questões-chave da pesquisa, que está sendo executada pela empresa Proema Engenharia. No encontro de quinta-feira, representantes dos setores públicos e privado iniciaram as definições que consolidarão o modelo de negócios mais viável para o mass burning no Brasil. Entre os pontos a serem amadurecidos estão incentivos relacionados a: aquisição de máquinas, equipamentos e serviços na fase de implantação; importação de equipamentos sem similar nacional; investimentos em reposição de equipamentos, peças e partes; entre outros.



“É muito interessante ver que uma ideia, iniciada lá atrás, na agenda estratégica, agora está estruturada em um projeto que mostra claramente quais são os pontos críticos a serem solucionados por meio de legislação, incentivos e investimentos”, declara o diretor de Inovação e Tecnologia da Braskem, Luís Cassinelli, que participa dos debates desde o início. Na opinião dele, com a definição do modelo, os próximos passos são a atração de investidores e a consolidação de uma política pública de longo para o tema. “Uma usina dessas não se paga em pouco tempo. Para ser viável, o projeto precisa estar amparado por uma política de 20 ou 30 anos”, diz.



Para a coordenadora do Departamento Técnico da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o detalhamento do estudo é um ponto surpreendente. “Eu não esperava que já estaríamos, agora, discutindo pontos tão específicos e importantes para a viabilidade da usina. Foi uma surpresa muito positiva ver que o trabalho contratado pela ABDI e pelo MDIC nos deu condições para analisar não só a tecnologia – que todos sabemos que funciona –, mas como ela pode ser implantada no Brasil, quais incentivos são necessários, como ela será viável”, assinala.



O coordenador-geral do Complexo Químico e da Saúde do MDIC, Marcus de Freitas Simões, avaliou o encontro em São Paulo como uma etapa importante para que a construção do modelo seja concluída com qualidade. “Até lá, a modelagem do negócio ganhará ainda mais corpo, com a colaboração de outros órgãos públicos e privados relacionados a esse assunto, que é totalmente transversal”, antecipa.



Assessoria de Comunicação Social ABDI


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