Inovação depende de reestruturação produtiva, aponta estudo
O economista Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2006-2007) e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), e o reitor do Instituto Tecnológico de Engenharia (ITA), Carlos Américo Pacheco, também professor da Unicamp, estão convencidos que o Brasil tem uma estrutura industrial frágil nos setores que mais inovam e também que em muitos setores a produção doméstica está situada em patamares de baixa agregação de valor na cadeia produtiva, em pontos onde a liderança não depende do avanço tecnológico. Dessa constatação, eles concluem que para desatar o nó da inovação no Brasil é essencial estimular uma transformação na estrutura produtiva do País.
A agenda de inovação [no Brasil"> pressupõe mudança da estrutura industrial, com estímulo a setores intensivos em tecnologia. E pressupõe também apoiar as empresas em suas ações de alterar suas posições na cadeia de valor. As duas recomendações fazem parte do trabalho A Política de Inovação, preparado pela dupla de estudiosos, e apresentando no painel O Brasil e a Inovação - Chave do Desenvolvimento Moderno, o terceiro dos cinco em que estão divididos os debates do 25º Fórum Nacional que termina no dia 16 de maio, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Almeida e Pacheco destacam que as indústrias eletrônica e farmacêutica são internacionalmente as que mais inovam e investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Às duas, somam-se os segmentos de instrumentos médico-hospitalares, de ótica e instrumentação, aeronáutico e, em menor escala, os de informática, de máquinas e equipamentos e a indústria automotiva.
Para os dois especialistas, a inovação está intimamente associada à necessidade de inserção cada vez maior do país no comércio internacional e, por isso, eles defendem, em consequência, a continuidade da política de estímulo à internacionalização de empresas com potencial. Recentemente, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que essa política, popularizada como de eleição de campeões nacionais, esgotou-se, pelo menos temporariamente, por falta de mais empresas domésticas com potencial para se tornarem multinacionais.
Os autores ressaltam ser consenso entre os especialistas o aumento recente do apoio à inovação no Brasil, incluindo a aprovação da chamada Lei do Bem (incentivos fiscais para pesquisa e desenvolvimento) e da própria Lei de Inovação, além do aumento expressivo de linhas de financiamento do BNDES e da Financiadora e Estudos e Projetos (Finep). Apesar desses esforços eles avaliam que temos ainda um longo caminho para alterar o quadro da inovação no Brasil, destacando que aproximadamente dois terços de todo apoio dado ao setor privado para P&D vêm da renúncia fiscal da Lei de Informática, cujo alvo é o estímulo à Zona Franca de Manaus.
Excluída a Lei de Informática, segundo Almeida e Pacheco, o apoio brasileiro na forma de incentivos fiscais e subvenções representa metade do que dá a Espanha, um terço do que fazem Japão e Reino Unido e um quarto dos Estados Unidos e França. Rever esse quadro é uma tarefa urgente, afirmam, defendendo tanto a necessidade de ampliação dos incentivos fiscais como do apoio a fundo perdido na forma de subvenções, de modo a alcançar as pequenas e médias empresas.
Os autores também destacam outros dois aspectos quase consensuais: a falta e integração entre a pesquisa acadêmica e as empresas e a insuficiente formação de engenheiros e profissionais de outras ciências exatas, 6% de um total já baixo, contra quase 40% em países como China e Coreia do Sul. Para eles, o setor público brasileiro já gasta razoavelmente, 0,6% do PIB em inovação, mas no setor privado o gasto não passa de 0,5% do PIB, que seria um quarto do que se aplica nas economias mais avançadas. E concluem que a eficácia deve ser medida por sua capacidade de induzir o gasto privado em inovação.
Em outro trabalho sobre o tema que será apresentado no Fórum, Marcos Cavalcanti, professor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e André Pereira, pesquisador da Fiocruz, discordam que o Brasil invista pouco em ciência, tecnologia e inovação (1,16% do PIB em 2010). Para eles, o problema é que o país investe mal, focado na academia (publicação de artigos) em vez de estimular a interação entre os diversos atores para que a inovação chegue aos produtos comerciais.
Os dois pesquisadores constatam também que mais problemático do que a baixa formação de doutores é o fato de que a esmagadora maioria deles está trabalhando nas universidades como professores. Estudo da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia de Empresa Inovadoras (Anpei) citado pelos autores computou apenas 750 doutores trabalhando em empresas no Brasil, contra 6 mil na Coreia do Sul, país que tem cerca de um quarto da população brasileira.
(Valor Econômico)
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A agenda de inovação [no Brasil"> pressupõe mudança da estrutura industrial, com estímulo a setores intensivos em tecnologia. E pressupõe também apoiar as empresas em suas ações de alterar suas posições na cadeia de valor. As duas recomendações fazem parte do trabalho A Política de Inovação, preparado pela dupla de estudiosos, e apresentando no painel O Brasil e a Inovação - Chave do Desenvolvimento Moderno, o terceiro dos cinco em que estão divididos os debates do 25º Fórum Nacional que termina no dia 16 de maio, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Almeida e Pacheco destacam que as indústrias eletrônica e farmacêutica são internacionalmente as que mais inovam e investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Às duas, somam-se os segmentos de instrumentos médico-hospitalares, de ótica e instrumentação, aeronáutico e, em menor escala, os de informática, de máquinas e equipamentos e a indústria automotiva.
Para os dois especialistas, a inovação está intimamente associada à necessidade de inserção cada vez maior do país no comércio internacional e, por isso, eles defendem, em consequência, a continuidade da política de estímulo à internacionalização de empresas com potencial. Recentemente, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que essa política, popularizada como de eleição de campeões nacionais, esgotou-se, pelo menos temporariamente, por falta de mais empresas domésticas com potencial para se tornarem multinacionais.
Os autores ressaltam ser consenso entre os especialistas o aumento recente do apoio à inovação no Brasil, incluindo a aprovação da chamada Lei do Bem (incentivos fiscais para pesquisa e desenvolvimento) e da própria Lei de Inovação, além do aumento expressivo de linhas de financiamento do BNDES e da Financiadora e Estudos e Projetos (Finep). Apesar desses esforços eles avaliam que temos ainda um longo caminho para alterar o quadro da inovação no Brasil, destacando que aproximadamente dois terços de todo apoio dado ao setor privado para P&D vêm da renúncia fiscal da Lei de Informática, cujo alvo é o estímulo à Zona Franca de Manaus.
Excluída a Lei de Informática, segundo Almeida e Pacheco, o apoio brasileiro na forma de incentivos fiscais e subvenções representa metade do que dá a Espanha, um terço do que fazem Japão e Reino Unido e um quarto dos Estados Unidos e França. Rever esse quadro é uma tarefa urgente, afirmam, defendendo tanto a necessidade de ampliação dos incentivos fiscais como do apoio a fundo perdido na forma de subvenções, de modo a alcançar as pequenas e médias empresas.
Os autores também destacam outros dois aspectos quase consensuais: a falta e integração entre a pesquisa acadêmica e as empresas e a insuficiente formação de engenheiros e profissionais de outras ciências exatas, 6% de um total já baixo, contra quase 40% em países como China e Coreia do Sul. Para eles, o setor público brasileiro já gasta razoavelmente, 0,6% do PIB em inovação, mas no setor privado o gasto não passa de 0,5% do PIB, que seria um quarto do que se aplica nas economias mais avançadas. E concluem que a eficácia deve ser medida por sua capacidade de induzir o gasto privado em inovação.
Em outro trabalho sobre o tema que será apresentado no Fórum, Marcos Cavalcanti, professor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e André Pereira, pesquisador da Fiocruz, discordam que o Brasil invista pouco em ciência, tecnologia e inovação (1,16% do PIB em 2010). Para eles, o problema é que o país investe mal, focado na academia (publicação de artigos) em vez de estimular a interação entre os diversos atores para que a inovação chegue aos produtos comerciais.
Os dois pesquisadores constatam também que mais problemático do que a baixa formação de doutores é o fato de que a esmagadora maioria deles está trabalhando nas universidades como professores. Estudo da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia de Empresa Inovadoras (Anpei) citado pelos autores computou apenas 750 doutores trabalhando em empresas no Brasil, contra 6 mil na Coreia do Sul, país que tem cerca de um quarto da população brasileira.
(Valor Econômico)
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