Fazer ciência: do formal ao real

Data: 14/05/2013


Nádya Pesce da Silveira, sobre o 6º Encontro Preparatório do Fórum Mundial de Ciência


Bases culturais influenciaram durante décadas e continuam influenciando, em maior ou menor grau, a produção científica mundial. Os valores vigentes, combinados com a mentalidade dominante em uma sociedade, podem levar a uma produção científica uníssona, onde a produção do conhecimento obedece a uma lógica ou a uma necessidade premente, levando ao desenvolvimento tecnológico. Um exemplo bem conhecido de relação entre produção de conhecimento e inovação tecnológica é o advento das armas de fogo. Em um determinado período histórico, desapareceram as armas brancas, as quais deram lugar às armas de fogo, tudo movido por uma necessidade de guerras entre homens. Além do surgimento da indústria dos metais, neste período, a humanidade conheceu um enorme progresso nas ciências exatas e nas engenharias, sem mencionar outros aspectos do conhecimento altamente envolvidos na produção bélica.

As bases sociais de uma sociedade também costumam influenciar a produção científica. Normalmente, são elencadas as instituições, tais como academias científicas, universidades, até mesmo partidos políticos, como responsáveis pela disponibilização de uma base aos indivíduos cientistas. Desta forma, e normalmente em grupos, são produzidos novos conhecimentos. Estes, muitas vezes, culminam na produção de novas tecnologias ou produtos.

O ciclo de produção de conhecimento científico e obtenção de novas ferramentas tecnológicas já está tão arraigado em nossa sociedade que, mesmo artefatos altamente tecnológicos, são vivenciados pelas nossas crianças como "algo que aí está". Mesmo nós, adultos, percebemos nosso entorno sem espanto, utilizando toda e qualquer novidade ofertada comercialmente como algo que "está dado". O conhecimento formal também tem sido historicamente associado à cultura ou a produção cultural. Sabe-se que as referências locais têm sido progressivamente rompidas, dando lugar a referenciais internacionais ou universais para a produção científica. É, neste contexto, que ocorrerá em Porto Alegre o 6º Encontro Preparatório do Fórum Mundial de Ciência, nos dias 13 e 14 de maio, no Salão de Atos da UFRGS. Nesta ocasião, serão debatidos temas relacionados aos principais desafios da ciência no século XXI. As temáticas envolvendo questões do clima, da saúde pública e dos alimentos serão discutidas por renomados cientistas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A transversalidade do evento será garantida pelo destaque dado ao tema da educação, o qual perpassa todos os grandes assuntos a serem debatidos, e tem se constituído no principal desafio do nosso século. Com a parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, será uma bela oportunidade de exercitarmos nossas reflexões de cientistas, deixando um pouco o formalismo e mergulhando numa espécie de realismo, que a aplicação de nossos conhecimentos nos tem permitido, cada vez, mais neste novo Brasil.

Nádya Pesce da Silveira é diretora-presidente da Fapergs

Jornal do Comércio de Porto Alegre


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