Indústria pede agenda climática mais ampla

Data: 26/02/2009

Indústria pede agenda climática mais ampla


Os ministros internacionais de Finanças deveriam se envolver mais com a agenda da mudança climática. O tema ultrapassa a fronteira puramente ambiental de governos e empresas e se espalha pelas questões energéticas, estruturais, de desenvolvimento e de concorrência.

Esta recomendação surgiu em um encontro, encerrado ontem, de 15 representantes de confederações nacionais de indústrias em Copenhague, na Dinamarca. Era uma reunião preparatória à conferência do clima no final do ano, na capital dinamarquesa, de onde se espera saia um acordo mundial que dê novos horizontes ao Protocolo de Kyoto.

Estiveram presentes representantes dos Estados Unidos, Japão e Canadá, China, Índia, África do Sul e Brasil, Quênia e União Europeia, além dos anfitriões.

"Há uma demanda forte para que a área financeira dos governos entre mais no tema porque é preciso saber como irão se financiar as decisões", diz José Augusto Fernandes, diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Há um debate sobre novos mecanismos tributários ou como se caminhará para economias de baixo carbono".

A reunião, privada, sem governos ou objetivo negociador, foi convocada pela confederação das indústrias da Dinamarca e pela Business Europe, a mega entidade empresarial com sede em Bruxelas. Evidentemente, as discussões passaram pela crise econômica internacional e pela necessidade de se afastar qualquer ação protecionista deste debate.

"Este é o reconhecimento geral, mas, no fundo, as barreiras protecionistas estão sempre ameaçando", diz Fernandes. Há alguns projetos tramitando no Congresso americano e na Europa, por exemplo, que pretendem taxar o carbono das importações.

O primeiro-ministro da Dinamarca Anders Fogh Rasmussen passou mais de uma hora ontem com os empresários. Segundo o relato de Fernandes, destacou a "oportunidade verde" que o tema abre. Disse também que a meta que se desenha, de cortar drasticamente a emissão dos gases-estufa em 2050, deveria ter uma outra, intermediária e menos distante.

A grande questão continua sendo qual será a posição dos Estados Unidos nas negociações, considerando-se que há pouco tempo hábil para isso. O representante da indústria dos EUA teria se mostrado bastante cético quanto à ratificação de um acordo internacional, que saia em Copenhague, pelo Congresso americano. "Seriam necessários 67 votos, e hoje eles acham isso difícil."

Na esperada liderança americana no processo de discussão de um regime internacional do clima, a atitude da China é fundamental. Se os EUA são os maiores emissores de gases-estufa segundo o critério histórico, a China é o maior emissor atualmente. O país foi o primeiro, entre os emergentes, a ter um plano nacional de mudança climática, com foco em energia. "A percepção é que a China tem feito muito", diz Fernandes.

Alguns temas não avançam. A transferência de tecnologia dos países mais ricos para os demais é um nó histórico que não desata. "É um tema que não anda por definição, porque se trata de um campo privado", diz o executivo da CNI.

Fala-se, contudo, na criação de um centro internacional de pesquisas ou em mecanismos facilitadores para novas tecnologias que tenham grande impacto internacional. Nas propostas da CNI que foram levadas à reunião está o pedido de estratégias de transferência de tecnologia e instrumentos de financiamento que permitam que empresas pequenas e médias tenham acesso a equipamentos e processos mais limpos e adequados.



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