O biodiesel e a oleoquímica

Data: 27/02/2013


Angelo C. Pinto e Paulo A, Z. Suarez

O biodiesel faz hoje parte da matriz energética brasileira e, levando-se em conta os mais de 2 bilhões de litros anuais que são hoje produzidos e consumidos no Brasil, veio para ficar. Por outro lado, hoje se pode afirmar que o Brasil é líder mundial na produção de artigos científicos sobre biodiesel, em periódicos indexados ao Webof Science, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Isso é consequência de editais específicos lançados pelas agências de fomento à pesquisa e pelos recursos destinados ao desenvolvimento de projetos para o estudo deste biocombustível. A comunidade científica brasileira mostrou mais uma vez que na medida em que há recursos, os resultados são produzidos.

Entretanto, a oleoquímica é muito mais que a produção de combustível líquido. Trata-se de uma matéria-prima nobre com a qual se pode produzir insumos químicos para a produção industrial e intermediários de síntese de alto valor agregado, como mostra o número temático recente da Revista Virtual de Química sobre oleoquímica (www.uff.br/RVQ/index.php/rvq/index), coordenado pelos professores Paulo Anselmo Ziani Suarez da UnB e Simoni Margareti Plentz Meneghetti da UFAL.

De fato, o avanço no domínio de combustíveis de fontes renováveis tem que ser acompanhado de uma indústria oleoquímica voltada, também, para produtos de valor agregado alto. Assim, é necessário que o país invista no desenvolvimento de pesquisas que resultem não só em tecnologias para biocombustíveis, mas também em polímeros, lubrificantes, aditivos, etc. O Brasil é o país detentor da maior diversidade vegetal do planeta e um dos mais ricos em oleaginosas, as quais possuem não só composições químicas usuais como óleos diferenciados que tem suas cadeias já funcionalizadas, permitindo obter facilmente inúmeros insumos químicos de alto valor agregado. No entanto, em contraste com a quantidade de grupos que hoje se dedicam a estudar o biodiesel, com um olhar e objetivos similares aos dos anos 1930, são poucos os grupos de pesquisa no país que se dedicam a estudar em profundidade a oleoquímica. Nos anos setenta na Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC) foi feito um levantamento de plantas oleaginosas brasileiras e de seu potencial como matéria-prima. Estudos como este precisam ser retomados e incentivados.

Angelo C. Pinto é professor da UFRJ
Paulo A, Z. Suarez é professor da UnB

Jornal da Ciência


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