Calefação com energia do esgoto

Data: 19/02/2013



Cada vez que a água quente usada na cozinha ou no chuveiro vai pelo ralo, com ela também vai uma quantidade substancial de energia. Aproveitá-la custa pouco e só exige mecanismos simples de troca e transmissão de calor. Alguns já estão fazendo isso. Esta riqueza energética – que permite reduzir o consumo de combustíveis fósseis e as emissões de gases que aquecem a atmosfera – flui pelos canos de esgoto. E foi aí que a municipalidade da cidade de Fürth, no Estado alemão da Baviera, foi buscá-la.

Há dois anos, o governo da cidade utiliza a água das tubulações de esgoto instaladas nas proximidades do palácio municipal para aquecer o edifício durante o inverno. “Nas tubulações ligadas às cloacas da vizinhança circulam pelo menos 150 litros de água por segundo, com temperatura entre 12 e 16 graus centígrados, o suficiente para alimentar a calefação do palácio municipal”, disse ao Terramérica a engenheira encarregada da administração de edifícios na cidade bávara, Katrin Egyptiadis-Wendler.

“No outono de 2010, no contexto da lei alemã de promoção de energia renovável, trocamos o antigo sistema de calefação e instalamos um novo, a gás e muito eficiente, um mecanismo de troca e transmissão de calor ganho da cloaca”, explicou a engenheira. Os requisitos indispensáveis para recuperar a energia do esgoto são um volume constante de água fluindo pelas tubulações de pelos menos 15 litros por segundo e temperaturas não inferiores a 12 graus. “Isto é, a água tem de ser usada e não estar misturada com a da chuva, que é muito fria para nossos propósitos”, acrescentou Egyptiadis-Wendler.

Em Fürth, a prefeitura instalou uma série de trocadores de calor ao longo de 70 metros de tubulações de esgoto. Estes dispositivos absorvem o calor da água usada e, mediante uma bomba de calor, o elevam até 50 graus para injetá-lo no sistema de calefação do prédio, construído há mais de 170 anos. “A única energia extra que precisamos é a eletricidade para fazer funcionar a bomba”, disse Egyptiadis-Wendler. “Com este sistema fornecemos 70% da calefação consumida no edifício. Somente quando o inverno é muito frio necessitamos usar o gás que instalamos em 2010”, acrescentou.

Esta recuperação de energia implica, a cada ano, a emissão de 130 toneladas a menos de dióxido de carbono (CO2), o principal gás-estufa, e 14 toneladas a menos de partículas finas. Além disso, é economizado 65% do combustível que era utilizado antes da instalação do sistema e que chegava a cerca de 85 mil metros cúbicos de gás por ano. Desta forma, o investimento total no novo sistema de calefação, de 550 mil euros, estará completamente amortizado antes de 2018.

Apenas cerca de 30 prédios alemães, em particular grandes centros comerciais e hotéis, utilizam sistemas semelhantes para recuperar energia das cloacas ou do calor gerado dentro das instalações. No entanto, segundo a Associação Alemã de Água, Esgoto e Resíduos (DWA), seria possível instalá-los em muitos outros lugares, pois as condições necessárias para um bom funcionamento são relativamente fáceis de serem atendidas: proximidade da fonte de calor e um volume constante de fluido quente, para evitar perdas devido às distâncias e dispor de uma temperatura mínima regular.

“É muito simples absorver o calor das tubulações, seja de esgoto ou de ventilação. Contudo, é preciso avaliar se o ganho de energia justifica os investimentos necessários”, disse ao Terramérica o diretor-gerente da DWA, Johannes Lohaus. O método pode ser aplicado de maneira inversa durante o verão. O calor absorvido da água usada das tubulações, ou dos próprios edifícios, pode ser esfriado para alimentar o ar-condicionado.

Isto é feito por uma loja em Berlim, da rede de móveis e decorações Ikea. O prédio, de 43 mil metros quadrados, aplica no inverno um sistema idêntico ao de Fürth, absorvendo calor das águas de esgoto. E no verão o processo inverso retira calor do edifício e o transforma em fluido frio para realimentar o sistema de ar-condicionado. “Dessa forma não necessitamos de um sistema de climatização convencional e reduzimos nossas emissões de CO2 em 700 toneladas por ano”, disse ao Terramérica a porta-voz da Ikea, Simone Setterberg.

Esta reciclagem de calor tem, no entanto, um aspecto negativo: o esfriamento das cloacas coloca em perigo as bactérias que constituem um filtro natural de eliminação de impurezas da água de esgoto. “A eficiência das bactérias é maior se a água de esgoto é relativamente quente”, explicou Lohaus. “Se a água esfria muito com a reciclagem do calor, as bactérias não sobrevivem e é necessário ventilar as cloacas para obter o mesmo nível de limpeza produzido via bactérias, o que representa maior investimento em energia”, acrescentou.


Envolverde/Terramérica


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