O dilema da inovação

Data: 21/01/2013
A feira de tecnologia de Las Vegas, a Consumer Electronics Show (CES), chegou ao fim e o que ficou da edição de 2013 foi uma dúvida: as próximas inovações da indústria de eletrônicos continuarão vindo das grandes ou serão as startups de garagem que ditarão os rumos?

Durante a feira, pequenas e grandes empresas exibiram de igual para igual o que tinham de mais novo em termos de produto e pesquisa. A CES não é só a maior feira de tecnologia do mundo, mas também o primeiro evento anual do setor. A combinação faz dela o principal encontro de pessoas que querem saber para onde aponta o futuro da indústria. Ou ao menos era assim que costumava ser.

“Na CES não vemos inovação. As empresas vêm para mostrar avanços que elas acham interessantes, mas não são coisas que as pessoas estão comprando”, afirmou o analista Jia Wu, da Strategy Analytics, citando como exemplos as TVs 3D que não ganharam o grande público.

Para ele, a indústria da tecnologia vive hoje um momento de “evolução”, no qual as companhias se esforçam para aplicar suas novas tecnologias nos produtos já existentes e melhorá-los. Momentos assim são comuns após estágios de “revolução”, quando nasce algo novo que redefine todo o mercado – caso dos aparelhos da Apple com o iPhone e o iPad.

Avanços – Las Vegas não viu nenhuma revolução na edição deste ano. As empresas aproveitaram a feira para mostrar o que conseguiram fazer de melhor e diferente de produtos já conhecidos – e despertar o interesse de compradores e investidores.

As novidades ficaram reduzidas a algumas melhorias, só possíveis graças aos avanços na indústria de processadores. O mantra do mercado de eletrônicos continua o mesmo: aparelhos mais finos, leves, potentes e que consomem menos energia.

Exemplo disso foram os televisores, categoria que tradicionalmente é destaque na feira. Marcas como Sharp, Samsung, LG e Panasonic tinham estandes muito semelhantes, com TVs ainda maiores (entre 55 a 85 polegadas) e resolução de 4k (3840 × 2160 pixels), o que proporciona imagens de altíssima qualidade. A maioria delas chega ao mercado neste ano, mas a preços proibitivos – caso da Sony de 84 polegadas, que sai por US$ 25 mil.

Também havia muitos tablets – incluindo os que viram notebooks (híbridos). A maioria usa Windows 8 e todos eram muito parecidos. O que chamou a atenção foram os modelos de tablets gigantes, com telas de 20 a 27 polegadas. De tão grandes, são feitos para ficarem deitados, como mesas digitais.

Os smartphones seguiram o mesmo caminho e as maiores novidades não iam além de dispositivos com telas maiores. Já as câmeras ganharam conexão Wi-Fi e 3G/4G (pela rede de celular).

Já no setor automotivo, montadoras como GM e Ford exibiram seus novos sistemas para computadores de bordo, enquanto outras como Hyundai, Lexus e Audi mostravam protótipos de carros que andavam sozinhos e distinguiam o motorista por reconhecimento facial.

Quem inova – A Ford aproveitou para convidar desenvolvedores a criar aplicativos para seu sistema de bordo, numa estratégia parecida com a da Apple quando lançou o iPhone. “Nós não sabemos de onde a inovação vai brotar”, disse John T. Ellis, diretor global de tecnologia da Ford. “O que podemos fazer é entregar nossa tecnologia nas mãos das pessoas para que elas nos mostrem.”

É dessa maneira que coisas novas têm surgido. Para o analista da Strategy Analytics, Jia Wu, a estratégia é resultado também da inflexibilidade das grandes empresas. “Companhias como Apple, Cisco, Microsoft, Dell têm muita estrutura, dinheiro e mão de obra para inovar. Isso é positivo e é exatamente o que falta às startups. O problema é que sofrem pressão de investidores e não podem arriscar muito”, explica. “É o dilema da inovação.”

(O Estado de S. Paulo)


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