É necessário produzir para preservar Amazônia, defende geógrafa

Data: 21/01/2013
Os planejamentos para a Amazônia precisam estar atrelados a políticas para a região, e o investimento em produção é fundamental para promover a preservação do bioma. A avaliação foi feita pela geógrafa Bertha Becker, no primeiro simpósio Relações entre Ciência e Políticas Públicas, no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (16).
“A proposta de proteção não tem conseguido por si só preservar a natureza e nem gerar riqueza e conhecimento. Há a necessidade de produzir para preservar”, disse a professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O evento, com o tema “Propostas de Bertha Becker para o desenvolvimento da Amazônia”, foi realizado pelo Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG/MCTI) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES/MDIC).
“Além dos serviços básicos para a população, é importante gerar inovação, substituir o tipo de importação na sua essência e fomentar a indústria criativa local. Esses são elementos cruciais para o desenvolvimento amazônico”, acrescentou Bertha, que coordena o Laboratório de Gestão do Território (Laget) da UFRJ. Ela lembrou que realizou sua primeira visita ao norte do país no final dos anos 60 e, desde então, um de seus principais objetivos é organizar a base produtiva da região. “Isso deve ser executado de uma forma que seja rentável em todas as suas linhas de produção.”
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, avaliou que, para o fortalecimento da economia amazônica, é necessário priorizar as hidrovias e os aeroportos para o escoamento adequado da produção.
A coordenadora do simpósio, Ima Vieira, pesquisadora do Museu Goeldi, destacou, entre as contribuições da homenageada, as participações na construção da Política Integrada para a Amazônia Legal e do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras. “O seu conhecimento científico foi fundamental para a consolidação de propostas que ajudaram a viabilizar a produção de conhecimento regional”.
Desdobramento
Ima anunciou que outros dois simpósios aprofundarão o debate em torno do tema. A realização faz parte de um conjunto de ações do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, coordenado por ela, para disponibilizar quatro décadas da produção acadêmica digitalizada da geógrafa e de seus seguidores, por meio de um blog e de um DVD.
O secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, listou categorias do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da Amazônia Legal que Bertha Becker ajudou a construir. “Entre as principais, temos a defesa do coração florestal, a defesa do Pantanal e da cultura local e a contenção da frente de expansão das áreas protegidas, responsável por reduzir pela metade, em dois anos, o desmatamento na Amazônia – de 13 mil quilômetros [quadrados"> ao ano para 6 mil”. O polo logístico e a readequação do sistema produtivo do Araguaia e região também foram categorias mencionadas pelo ex-ministro do Meio Ambiente.
Minc ressaltou a capacidade de diálogo de Bertha com diversos interlocutores, desde os seringueiros até os militares e governadores, lembrando que ela sempre foi a favor de ajudar o extrativismo sustentável. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi apontada pelo secretário carioca como uma das instituições que podem impulsionar a transformação do setor produtivo da região, com a geração de conhecimento para o uso sustentável e seguro da biodiversidade.
O professor Francisco de Assis Costa, pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (Ufpa), ressaltou a relação entre ciência e política. Ele destacou três pontos que considera primordiais nessa união: o conhecimento como ciência, usado na revelação de um objeto específico, o conhecimento como técnica para a intervenção e o conhecimento como capacidade social instrumentada pela ciência.
Desconhecimento
O consultor para serviços públicos, com atuação na região Norte, Gilberto Siqueira, considerou que falta conhecimento sobre o potencial amazônico. “Brasília não conhece a Amazônia. Este é o motivo de os planos não engatarem. As maiores riquezas do país estão na floresta. Se isso não for considerado, o Brasil nunca será uma grande potência como nós esperamos que seja.”
Segundo Siqueira, o primeiro plano de transporte e logística regional foi feito pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), com objetivo de sinalizar onde deveriam ser aplicados recursos para o desenvolvimento econômico local. “Mas o investimento limitou-se a produção de commodities. Faltam gestores públicos que provoquem discussões que promovam ações concretas”, disse.
Já a mediadora Esther Bemerguy, secretária de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, concluiu o conjunto de comentários observando o empenho do governo federal em ampliar o número de ações destinadas à região. “Há um conjunto de políticas atualmente sendo pensadas para a Amazônia”, afirmou. Isso deve ser encarado como um chamamento para que todos que tenham algo a acrescentar para o tema participe do debate.”
A mesa de debate “As metamorfoses do Plano Amazônia Sustentável e a nova conjuntura de infraestrutura para a Amazônia” teve a participação de mais dois representantes do BNDES: o superintendente de Meio Ambiente, Sérgio Weguelin, e o chefe de Relações com o Governo, Antonio José Alves Júnior.
(MCTI)


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