As COP'S, a COP-18 e o 'feitiço do tempo'

Data: 28/11/2012
Suzana Kahn

Crescimento econômico não é sinônimo de qualidade de vida. Novas métricas precisam ser adotadas para gerar progresso, mas falta consenso para fechar acordo

A reunião preparatória para Doha, ocorrida em Bangkok, em setembro de 2012, trouxe elementos de preocupação quanto a qualquer avanço nas negociações climáticas. A pauta era similar às várias pré Conferências das Partes (COP). Ao se analisar os principais pontos de discussão que serão levados à COP-18, que começou ontem, em Doha, se tem a impressão que são as questões levadas para as discussões nas COP 12, 13, 14 ...

No filme o "Feitiço do Tempo", um repórter de TV (Bill Murray) vai a uma pequena cidade e querendo ir embora logo, ele, inexplicavelmente, fica preso no tempo, condenado a repetir sempre os mesmos eventos daquele dia.

Na COP-11, em Montreal, deu-se o início da discussão sobre os compromissos de longo prazo do protocolo de Kyoto, grupo denominado de KP. Na COP-13, em Bali, foi estabelecido um novo grupo, o LCA - para tratar das ações de longo prazo das partes que não estavam cobertas pelo KP, e, este conjunto, compunha o Plano de Ação de Bali (Bap) com os dois trilhos de negociação: KP e LCA. Esperava- se que as negociações chegassem a um acordo na COP-15, em Copenhague. Lá, o que se conseguiu foi um acordo político envolvendo um número grande de países e a prorrogação do KP e LCA. Não houve nenhum resultado prático, mas, pelo menos, não gerou nenhuma nova sigla. Finalmente a COP-17 criou a Plataforma de Durban (DP) que teria o mandato de elaborar, entre 2012 e 2015, um novo instrumento legal a ser adotado por todas as partes, a partir de 2020.

O que se espera da COP-18 é a continuidade dos grupos anteriores e a postergação da DP. Já que não foi concluída a discussão sobre KP e LCA, não há como iniciar a DP. Na plenária inaugural do grupo que trata da DP, verificou- se tons divergentes entre países desenvolvidos, em desenvolvimento e os Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China). Novos arranjos começam a ser formados.

Mas nem tudo é má notícia. A ciência, ao longo destas 18 COPs, avançou bastante. Os modelos matemáticos estão cada vez mais precisos, ainda que existam incertezas. O que não é mostrado com clareza são os impactos comparativos, custos envolvidos entre a ação de mitigação e a inação ou medidas de adaptação. No momento que isto estiver mais evidente, os negociadores, certamente, terão maior facilidade em chegar a um acordo, pressionados pela sociedade.

Outro avanço diz respeito a uma maior conscientização de que o crescimento econômico não traz o desenvolvimento e melhoria de qualidade de vida. Novas métricas precisam ser encontradas para gerir o progresso. Isto traz uma esperança no que se refere a valoração dos recursos naturais.

Do meio para o final do filme, o protagonista aprende as regras do jogo, já prevê os acontecimentos e se antecipa ao que as pessoas dirão ou farão e, finalmente, se dá conta de que é possível usar novos talentos. Quando isto finalmente ocorre, o protagonista é liberado e seus desejos realizados.

Assim como no filme, apesar de estarmos aparentemente parados entre a COP-3 e COP-11, talvez mudanças menos perceptíveis estejam ocorrendo e poderão nos levar a um final feliz com a estabilização das emissões de gases de efeito estufa em um nível que evite a interferência antropogênica perigosa no nosso sistema climático. Este era o objetivo ao se criar a Convenção Quadro de Mudanças Climáticas em 1992. Cabe então mostrarmos aos protagonistas das COPs que eles devem buscar seus talentos escondidos para sairmos deste aprisionamento.

Suzana Kahn é vice-presidente do Grupo de Mitigação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

O Globo


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