O potencial da inovação brasileira

Data: 27/11/2012
Kenneth G. Herd

O investimento do Brasil em inovação tem buscado acompanhar o ritmo do crescimento econômico registrado na última década. É consenso que houve importantes avanços, mas ainda há longa estrada a ser percorrida. Hoje, contudo, não restam dúvidas de que o país caminha para se tornar, num futuro cada vez mais próximo, verdadeiro exportador de conhecimento e tecnologia.

O potencial da inovação brasileira sempre foi uma realidade, mas as questões que pairavam sobre esse horizonte diziam respeito a quando e como ele seria explorado. Agora, diante da atenção dedicada ao tema, a pergunta é quando colheremos os frutos desse investimento - e quem mais gostaria de participar desse movimento, com retorno cada vez mais certo para empresas e para o mercado brasileiro como um todo.

Uma série de iniciativas e empreendimentos focados na inovação brasileira, incluindo projetos liderados pelo poder público e grandes multinacionais que apostam na capacidade do Brasil, possibilitou reunir os elementos necessários para tornar o país referência em pesquisa e desenvolvimento.

São vários os exemplos que merecem o reconhecimento da comunidade global de cientistas, pesquisadores e acadêmicos. No Rio de Janeiro, diversas empresas se instalarão no Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, área onde também está instalado o câmpus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o objetivo de fomentar a inovação. Polos tecnológicos também estão instalados em cidades como Campinas e São José dos Campos, em São Paulo.

Outra importante iniciativa é o Porto Digital, polo de desenvolvimento de softwares e economia criativa, localizado em Recife. Criado em julho de 2000, o local é hoje um dos pilares da nova economia de Pernambuco e figura como o maior parque tecnológico do Brasil em faturamento e número de empresas. Em 2010, 200 empresas e organizações de serviços associados, três incubadores de empresas, duas instituições de ensino superior e dois institutos de pesquisa foram responsáveis por um faturamento de cerca de R$ 1 bilhão - a maior parte (65%) advinda de contratos firmados com empresas de outros estados.

Todos os investimentos e iniciativas direcionados à inovação ajudaram a produção científica brasileira a superar a da Rússia, antiga potência nessa área. Segundo amplo levantamento da Thomson Reuters, que levou em conta as 10,5 mil principais revistas científicas do mundo, de 1990 a 2008, o Brasil avançou de 3.665 para 30.021 artigos científicos publicados, respectivamente. No mesmo período, a produção russa manteve-se estável, na casa dos 27.600 artigos, em média, por ano.

O levantamento também mostra que o Brasil caminha para superar nos próximos anos a Índia, que fechou 2008 com 38.366 artigos publicados, e se consolidar como a segunda maior potência científica entre os Brics - atrás apenas da China, que publicou 112.318 artigos naquele ano. Os números ainda indicam que os gastos com pesquisa e desenvolvimento no Brasil chegaram em 2007 a quase 1% do PIB, bem acima dos de outros países latino-americanos, embora ainda inferior aos 2% gastos nos Estados Unidos.

Além disso, a base de pesquisadores brasileiros vem crescendo. Em 2008, o Brasil formou cerca de 10 mil novos pesquisadores doutores, o que representa um crescimento de 10 vezes em 20 anos. Com isso, a média do ano foi de 0,92 pesquisador para cada mil habitantes, proporção semelhantes à de outros países em desenvolvimento. Esse crescimento permitiu ao país ser, hoje, o 13° maior produtor de pesquisa científica do mundo e, desde 2000, líder na produção de novos trabalhos desse tipo na América Latina, segundo os dados de 2012 da pesquisa anual sobre inovação, da Thomson Reuters.

O aumento no volume de projetos financiados pelo poder público levou à criação de um curso voltado a educar empresários e pesquisadores sobre a elaboração de projetos e a captação de recursos financeiros. A iniciativa é da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (Abipti), que reúne 170 entidades de pesquisa tecnológica e inovação e tem como objetivo reduzir os erros na elaboração de projetos para ampliar a concessão de subsídios aprovados pelo governo.

Essa demanda maior por pesquisa e desenvolvimento fez com que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação retomasse a linha de financiamento para pequenas e médias empresas interessadas em investir em inovação, iniciativa que ficou parada por dois anos. Entre 2012 e 2014, serão concedidos, por meio de concorrência pública, R$ 1,2 bilhão para companhias que buscam desenvolver novos produtos a serem colocados no mercado.

Todo esse contexto não somente revela os avanços brasileiros em inovação como também ajuda a criar ambiente favorável à instalação de novos centros de pesquisa no país. Diversos setores estratégicos da economia nacional têm colaborado para a produção científica local, tais como aviação, transportes, energia e saúde, todos fundamentais para o desenvolvimento e crescimento do Brasil.

Kenneth G. Herd é líder do Centro de Pesquisas Global da GE no Brasil.

Correio Braziliense


< voltar