Fontes renováveis ganham relevância

Data: 21/11/2012


Ao longo dos próximos dez anos, as fontes renováveis deverão aumentar sua participação na geração de energia no País, crescendo cerca de 5% anuais no período e passando de 43,1% da matriz energética para 45% em 2021, segundo o Plano Decenal 2021 elaborado pelo governo federal.

A expansão ocorrerá mesmo com o avanço da exploração gradual da camada pré-sal e da consequente ampliação do uso do gás natural. O resultado será reflexo do avanço das hidrelétricas na região Norte, do aumento da capacidade instalada de usinas eólicas, que deverão pular dos atuais 1,5 mil MW para 16 mil MW em 2021, e do crescimento médio de 8,1% por ano dos derivados de cana-de-açúcar, com destaque para o etanol. Entre 2012 e 2021, a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), órgão estatal responsável pelo planejamento do setor, prevê investimentos de R$ 1 trilhão no setor de energia, dos quais R$ 749 bilhões no setor de óleo e gás, R$ 269 bilhões em energia elétrica e R$ 79 bilhões à área de etanol e biodiesel.

"O Brasil vai se destacar como um grande produtor de petróleo, podendo ser um grande exportador também, mas a matriz deverá continuar limpa, já que continuaremos tendo usinas eólicas, hidrelétricas e os carros biocombustíveis", afirma Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE. "A curva entre oferta e demanda está equilibrada nos próximos quatro anos, com um sobra de energia entre 4.000 a 5.000 MW médios. E da expansão do sistema até 2020 cerca de 77% dela já está contratada", diz. A capacidade instalada no sistema nacional deve crescer 56% entre 2012 e 2021, pulando de 116,5 mil MW para 182,4 mil MW.

Um dos destaques será o avanço das usinas eólicas, que deverão chegar a 16 mil MW em 2021, acima dos 13 mil MW estimados em geração de biomassa. Estima-se que as usinas movidas pela força dos ventos já representem 0,9% da geração de energia, percentual que deverá crescer ainda mais diante da perspectiva de contratação de dois mil MW anuais de projetos eólicos até o fim desta década, o que também deverá consolidar o mercado brasileiro como um dos dez maiores do planeta para os fabricantes de equipamentos.

"Há três anos tínhamos dois fabricantes de aerogeradores no Brasil, hoje temos oito e devemos ter mais um em 2013. O Brasil deverá passar da décima-primeira posição para quarta ou quinta de aumento de capacidade anual do segmento", diz Tolmasquim. O potencial do setor é muito grande.
No início da década foi feito um estudo que apontou que o Brasil poderia chegar a uma potência instalada de 143 GW no segmento, dez vezes mais do que a capacidade da usina de Itaipu, uma das maiores do mundo. Mas a medição tinha sido feita com aerogeradores com altura inferior a 50 metros. Hoje usam-se equipamentos com altura superior a 100 metros. Quanto maior altura, maior a velocidade dos ventos.

"O potencial deve ser maior que os 143 GW, mas não sei quantas vezes. Algo que era sustentado apenas por subsídio se tornou bastante competitivo", diz Tolmasquim. "Há uma complementariedade importante com as usinas hidrelétricas, e é uma fonte limpa, o que chama a atenção de muitas empresas que querem adotá-la. Temos ainda muito o que expandir, nosso desafio é manter a contratação anual de 2000 MW", diz Elbia Mello, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

Outro destaque será o avanço da hidreletricidade, que responde por mais de 80% da geração de energia elétrica no Brasil. Estima-se acréscimo de 31,7 mil MW de geração hidrelétrica em dez anos, sendo que a região Norte será a nova fronteira. Cerca de 70% do potencial hidrelétrico brasileiro está na região amazônica.

Entre os projetos ainda não contratados, construtoras e fabricantes de máquinas e equipamentos estão de olho no Complexo de São Luiz dos Tapajós, que poderá reunir cinco barragens e ter uma potência instalada de 14 mil MW. O governo trabalha para colocar em licitação a megausina entre o fim de 2013 e início de 2014. O investimento deve superar R$ 15 bilhões.

"O mercado brasileiro de energia será um dos maiores do mundo nesses próximos anos", diz Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). A malha de transmissão de energia do país deverá se expandir em 47,7 mil quilômetros nos próximos dez anos, atingindo uma extensão de 150,5 mil km em 2021. A projeção do novo PDE inclui a implantação de 7,3 mil km de linhas de 800 kV de corrente contínua - as primeiras neste nível de tensão no país -, que escoarão até 8 mil MW produzidos pela usina de Belo Monte para a região Sudeste.

Na área de distribuição, o destaque será a adoção gradual das redes inteligentes (smart grid) de energia elétrica, o que poderá reduzir perdas do sistema interligado, aumentar a eficiência energética, mudar a relação entre concessionárias e clientes e permitir um novo avanço de fontes alternativas como solar e eólica na matriz.

A implementação deverá criar um mercado de pouco mais de US$ 36 bilhões até 2022, estima a consultoria Northeast, o que deve tornar o país um dos dez maiores mercados no mundo dessas redes modernas. O smart grid também poderá significar uma revolução no papel do consumidor, que, além de optar por tarifas diferenciadas, poderá gerar sua própria energia em sua residência e ter créditos com o sistema. "Além de racionalizar o uso da energia, o que elevará a produtividade e poderá exigir menos investimentos em novas usinas, ele poderá transformar o consumidor em micro gerador", diz Tolmasquim.

A implementação das redes permitirá que máquinas e equipamentos conversem entre si, buscando maior eficiência, e que cada eletrodoméstico tenha seu consumo em tempo real avaliado pelo consumidor. Este poderá ter à sua disposição tarifas diferenciadas por horário e poderá gerenciar o funcionamento de alguns eletrodomésticos, como uma máquina de lavar, que poderá ser ligada de madrugada, quando a energia fica mais barata. Pelo celular, poderá desligar ou ligar um aparelho para reduzir seu consumo. O smart grid tem um grande potencial não apenas de tornar a rede mais eficiente, como de reduzir perdas na rede e também de reduzir a necessidade de investimentos em novas usinas. Hoje as perdas no sistema elétrico brasileiro acarretam prejuízos superiores a R$ 8 bilhões anuais às empresas.
(Valor Econômico)


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