Mais divulgação para mais inovação: Desafios atuais da pesquisa científica no Brasil

Data: 25/10/2012
Samuel Nascimento

A vida acadêmica exige o cumprimento de formalidades que, apesar da importância intrínseca de cada uma delas, acaba gerando poucos efeitos positivos no cotidiano do pesquisador. Atualização do Lattes, elaboração e revisão de ementas e bibliografias de disciplinas, envio de relatórios de produtividade, tudo acaba servindo mais para o processo de avaliação dos cursos do que para o engajamento social e para o incentivo e divulgação das pesquisas científicas.



Se, de um lado, todos sabemos qual a importância de cada um desses documentos, de outro, é inadiável torná-los mais úteis e produtivos no dia-a-dia dos pesquisadores. Em todo o mundo há um esforço para dar maior visibilidade à atividade científica, visto que o desenvolvimento das sociedades depende cada vez mais da difusão da cultura da ciência e da inovação. Meses atrás, aqui no JC on-line (http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=81412), o presidente do CNPq, Glaucius Oliva, afirmou que é papel dos cientistas dar publicidade às atividades de pesquisa, mostrar experimentos e explicar projetos para o público, além de ligar o trabalho a inovações que contribuam com as políticas públicas e até mesmo para a criação de novos produtos a serem lançados no mercado.



Nesse sentido, os pesquisadores têm criado páginas pessoais na internet para veicular sua produção intelectual. Por sua vez, as instituições de ensino publicam informações sobre os cursos de mestrado e doutorado. Mas essas iniciativas perdem muito em eficiência por não estarem integradas umas às outras, nem minimamente padronizadas. Uma pessoa interessada em iniciar sua formação científica ficará facilmente perdida na web em busca dessas informações. Uma empresa que procure especialistas para seu negócio também terá grande dificuldade. Mas o principal problema é a incapacidade do atual modelo de alcançar a sociedade em geral para difundir a educação científica e os valores a ela inerentes.



É preciso ainda lembrar que as bases de dados dos programas de pós-graduação, o sistema Coleta Capes e a plataforma Lattes reúnem informações que acabam ficando muito distantes do grande público. Com a finalidade de fazer convergirem as obrigações burocráticas de avaliação e controle institucionais com iniciativas para a publicidade do conhecimento científico, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) acrescentou na plataforma eletrônica Lattes duas novas abas para divulgação pública. Em uma delas, os cientistas brasileiros devem informar sobre a inovação de seus projetos e pesquisas; e na outra, descrever iniciativas de divulgação e de educação científica.



É um novo cenário que se desenha para a ciência nacional. Felizmente, a academia já alcançou a devida autonomia crítica para definir seus objetos de pesquisa. Agora, o que se pretende é estabelecer uma relação construtiva com a sociedade que permita fazer a inovação surgir dos mais altos valores que conduzem a investigação científica livre. Ciência para desenvolver a vida das pessoas.


Samuel Pontes do Nascimento é mestre e doutorando em Direito na PUC Minas e pesquisador da Fundação Brasileira de Direito Econômico.

Jornal da Ciência.





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