Avanço de pesquisa de plástico de bagaço de cana depende do setor privado

Data: 22/10/2012

Depois de produzir o plástico verde com uso de etanol e o plástico biodegradável a partir de açúcar em escala comercial, o Brasil já tem o conhecimento para produzir também a resina biodegradável usando o hidrolisado do bagaço de cana.


A patente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo foi depositada no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) em meados de 2005.



O desafio, porém, é atrair parcerias do setor privado para alavancar a pesquisa e produzir o plástico de bagaço de cana em escala comercial, segundo Filomena Rodrigues, responsável pelo Laboratório de Biotecnologia Industrial do Núcleo de Bionanomanufatura do IPT.



Até agora, disse ela, nenhuma empresa quis assumir o risco de investir nessa pesquisa, cujo produto pode ser utilizado na produção de todos os tipos de embalagens plásticas. "A pesquisa precisa de investimentos para produção em escala de uma maneira economicamente viável", acrescentou Filomena.



Destacando a "falta de mais ousadia das empresas" para assumirem novos riscos na área de inovação, a cientista do IPT lembra que as pesquisas de plástico de bagaço de cana foram iniciadas sem a parceria do setor privado, ao contrário do que ocorreu com o estudo do plástico produzido com açúcar, também uma iniciativa do IPT; e com a resina verde produzida com etanol. Hoje o plástico biodegradável a partir de açúcar encontra-se em processo de produção comercial, pela Biocycle, empresa parceira desse produto desde o início.



Demanda baixa - Filomena concorda que a demanda pelo plástico biodegradável ainda é modesta, já que esse é um produto usado por grupos específicos, sob a influência do apelo socioambiental.



O custo do produto sustentável também inibe a demanda. A pesquisadora do IPT afirma que o custo de produção do plástico biodegradável, por exemplo, ainda não consegue concorrer com os de plásticos convencionais. "O plástico petroquímico é muito mais barato, é três ou quatros vezes menor do que o biodegradável", explica.



Uma das medidas para reduzir o custo de produção do plástico sustentável, segundo recomenda a pesquisadora, é a criação de formas de incentivo para estimular a comercialização desses produtos.



O diferencial do plástico biodegradável é o prazo de sua decomposição no meio ambiente, de até seis meses, no máximo, ao contrário da resina convencional (produzida com petróleo) que leva até 200 anos para se decompor na atmosfera. No processo de fabricação do plástico de bagaço de cana de açúcar é preciso hidrolisar (quebrar) o bagaço para fazer açúcar que, posteriormente, é consumido por uma bactéria que depois resulta nesse tipo de resina.



Paralelamente aos estudos do plástico de bagaço de cana, os pesquisadores do IPT estudam também produzir outras variedades de plásticos verdes utilizando outros tipos de resíduos (de biodiesel de soja e mamona) e de alimentos. Hoje o Brasil é pioneiro no desenvolvimento de plástico produzido com energia renovável, o que pode contribuir com a redução na emissão de gases que provocam o efeito estufa.



Subsídios da Embrapii - As empresas que se interessarem por qualquer projeto de plástico biodegradável podem receber subsídios concedidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) - criada em caráter experimental no início deste ano pelo governo federal. Já que essas pesquisas estão inseridas na área de Biotecnologia, um dos segmentos que fazem parte do projeto Embrapii sob a responsabilidade do IPT.



Além da área de Biotecnologia, são de responsabilidade do IPT, no projeto Embrapii, as pesquisas das áreas de nanotecnologia e metrologia de alta precisão. Pelo projeto, o IPT conta hoje com R$ 30 milhões de subsídios do governo federal - montante atrelado ao desenvolvimento de projetos inovadores. A empresa interessada em determinada pesquisa pode receber um terço (1/3) do valor da pesquisa, o mesmo valor desembolsado pelos institutos de pesquisas e empresas, em contrapartida.



Aderiram também ao projeto Embrapii o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Rio de Janeiro - que cuida de pesquisas de automoção e manufatura. E o Senai-Cimatec, da Bahia, que tem sob seu comando as pesquisas ligadas à energia e saúde.



(Jornal da Ciência)




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