Nos parques tecnológicos, uma simbiose da inovação

Data: 20/09/2012
Matéria-prima da competitividade, a inovação já é encontrada além das cadeias produtivas nacionais mais óbvias,aexemplodaindústria do petróleo, da aeronáutica ou do agronegócio e da mineração.
Hoje, o conceito é a vocação de vários pólos e parques tecnológicos q ue se m ul ti plicam n o País.
Eles são encontrados em cidades de todos os portes — de importantes capitais como Recife (PE), a pequenos municípios c om o Pa t o B ra n c o , n o Paraná, com pouco mais de 70 mil habitantes. São comuns, ainda, em cidades com vocação tecnológica, como a paulista São José dos Campos, ou no interior do Nordeste, em Campina Grande, a 125 quilômetros de João Pessoa (PB). O mais recente levantamento da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), de 2008, listava 74 iniciativas no Brasil, com 520 empresas e faturamento anual de R$ 1,68 bilhão. Hoje, calcula-se que existam 90 centros. E só o Porto Digital de Recife fatura R$ 1 bilhão. Esses centros caracterizam- -se pela criação de tecnologias, produtos,insumos emodelos de negócio que resultem na concretização de novos negócios.
Como bem resume o presidente do conselho administrativo do Porto Digital de Recife, Silvio Meira, a essência da inovação perseguida nos parques tecnológicos “é a produção de mais e melhores notas fiscais”. Novos horizontes. “No passado, boa parte da inovação oriunda nas empresas era produzida a partir dos seus quadros internos.
Nos parques tecnológicos, as empresasinteragem com centros de pesquisa e universidades, ampliando seus horizontes”, pontua o sócio-fundador da Innoscience, consultoria especializada em estratégia deinovação, Maximiliano Carlomagno.
“Um parque tecnológico é o resultado de uma política de Estado delongo prazo”, acrescenta Meira, do Porto Digital. Em Recife, o centro tecnológico conta com o apoio do município, do Estado de Pernambuco, além de várias linhas de crédito e de fomento de origem federal. Reúne perto de 200 empresas e 6,5 mil funcionários. Até 2025 espera-se que, ampliado o PortoDigital tenha outras 200 empresas e some 20 mil colaboradores altamente qualificados. Com forte vocação para o desenvolvimento de software, o Porto Digital do Recife abriga multinacionais como Accenture, Ogilvy, Samsung eMicrosoft, o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R.) e o Centro de Informática, da Universidade Federal de Pernambuco, ambos parceiros da Motorola em testes de software para celulares da marca. Menor, mas não menos importante, é a Tecnópole de Pato Branco (PR).
Este é outro parque tecnológico criado há 12 anos numa união de parceiros como prefeitura, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Núcleo de Tecnologia da Informação local, a iniciativa privada, assim como três instituições de ensino superior (locais e do governo federal). O esforço resultou hoje em 50 empresas e seus 6 mil colaboradores, atores de um polo de desenvolvimento de software e de eletroeletrônica.
Desenvolvimento regional. Itamir Viola, presidente da Tecnópole de Pato Branco (PR) e sócio-fundador da Viasoft – maior empresa de software do complexo, especializada em programas de gestão empresarial – informa que a presença do complexo foi crucial para a cidade. Em 2004 o orçamento do município não passava de R$ 56 milhões. Hoje, ultrapassam R$ 154 milhões anuais. No período, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da passou para 0,849, o terceiro melhor do Estado do Paraná. Segundo Viola, as várias empresas de software teoricamente concorrentes optaram por desenvolver soluções verticais — boa parte delas sobre as mesmas linguagens de programa- ção. Assim, seus produtos são como módulos complementares que podem ser adquiridos individualmente ou em conjunto. “Aqui, além de garantirmos um ambiente de desenvolvimento tecnológico, fomentamos sinergias”, informa ele. Em São José dos Campos, a criação de parque tecnológico parecia natural, dada a histó- ria da cidade, berço do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e da Embraer.
Desde sua criação, há cinco anos, o projeto recebeu R$ 1,15 bilhão, conta Horácio Forjaz, ex-presidente da Embraer e hoje diretor técnico do complexo. Estão no parque tecnológico a projetos especiais de empresas de porte como Embraer, Vale Soluções em Energia, Ericsson e Sabesp. Ali já foram criados mais de mil empregos, informa o executivo. “E o que garante a nossa capacidade de alavancagem é dispormos de importantes parcerias com universidade e com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)”, ressalta Forjaz. Cérebros no sertão. Vicente de Paula Araújo, diretor adjunto do Parque Tecnológico de Campina Grande, na Paraíba, já colhe os frutos de um centro maduro, iniciado em 1984, a partir da tradição na cidade dos cursos de engenharia da Escola Politécnica da cidade, hoje encampada pela Universidade Federal da Paraíba. “Havia uma oferta de quase todas as engenharias no municí- pio, as quais foram a base para a formação científica e tecnológica do futuro parque”, conta o pesquisador.
O parque de Campina Grande já conta com 80 empresas. Dessas, 20 estão fisicamente dentro das dependências; outras 20 usam boxeslocais e endereço para correspondência; enquanto as demais estão nas proximidades. Essa iniciativa privada já é responsável pela retenção na região de 400 empregos altamente qualificados. Hoje, os cérebros de Campina Grande são disputados por várias empresas como IBM e Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

O Estado de S. Paulo


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