A ciência e suas diferentes facetas

Data: 03/09/2012

A importância da ciência básica, os desafios da educação científica e as perspectivas para aprimorar a relação entre universidades e indústrias foram os principais temas discutidos no debate "As diferentes facetas da ciência", realizado na manhã de ontem (30) em São Paulo, no 1º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência, que acontece em novembro de 2013, no Rio de Janeiro.


Sob a coordenação de Vanderlei Salvador Bagnato, a mesa teve início com a apresentação das várias faces da ciência básica, fundamental, aplicada, exploratória e inovadora pelos olhos do diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz.



Segundo ele, o lugar do desenvolvimento da ciência não é só nas universidades, mas também nas empresas e nas escolas desde o ensino básico. "Em lugares onde os ambientes são estimulados por pesquisas científicas, as possibilidades de as ideias darem frutos são maiores do que em qualquer outro ambiente", disse.



"Mas para que serve a ciência básica?" Questionou o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Davidovich. Em sua apresentação, ele falou sobre a ciência básica como um instrumento essencial para a inovação em qualquer nível ou finalidade. Segundo ele, somente o investimento em longo prazo na educação poderá provocar o acúmulo de conhecimentos e de práticas científicas no ensino da ciência básica no Brasil, ampliando a cultura e a capacidade de fazer conexões entre educação, pesquisa e mercado (necessidade da humanidade).



"São exemplos tomados por algumas das histórias do desenvolvimento tecnológico do Brasil. Temos os casos da Embraer, Embrapa e Petrobras, o surgimento de todas estas empresas ao longo das décadas foi resultado da política de Estado com os fundos setoriais, com fins aplicados em pesquisas. É uma revolução para a pesquisa cientifica", conta Davidovich.



Para falar sobre a relação entre ciência e inovação tecnológica, o pesquisador Fernando Galembeck, da Academia Brasileira de Ciências (ABC), abordou os recursos limitados para as pesquisas, especialmente nos países com baixa renda per capita. Segundo ele, esse dilema se traduz em todos os níveis, em diversos grupos internacionais importantes e sob aspectos ligados as necessidades da ciência para a sustentabilidade e para a transição daquilo que se chama economia verde.



"Temos de pensar em como contribuir para resolvermos ou reduzirmos os grandes problemas da humanidade. Existem cientistas que estão discutindo sobre a reestruturação da ciência, mas qual inovação interessa? Quais satisfarão as necessidades emergentes? Poderá provocar mudanças radicais? Tem impacto econômico, estratégico ou social? São essas as discussões que precisamos alavancar", disse.



Divulgação cientifica - Com o tema "Educação e divulgação de ciências: desafios e perspectivas", o pesquisador Marcelo Knobel, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), compartilhou questionamentos sobre o que é importante na divulgação das pesquisas científicas e a importância do ensino básico da ciência.



"Temos um caminho muito longo a percorrer em busca do ensino da ciência básica com excelência, pois não temos políticas claras para o incentivo de ciência, tecnologia e pesquisa. Há poucos livros e editoras, mas alguns já são referências como as revistas Ciência Hoje, Ciência & Cultura, e lugares como museus, zoológicos e institutos ligados ao setor, mas todos com poucos recursos. Se não temos recursos para a iniciativa da própria pesquisa, imagina para a divulgação", questiona.



O despreparo de alguns professores e a instabilidade de programas educacionais foram apontados como graves obstáculos para melhorar a educação da ciência no País. "Posso concluir com uma única pergunta: não é estratégico termos mais programas para a iniciação científica antes da graduação? Mas o nosso problema é mais extenso, pois nossos professores não estão perfeitamente qualificados, pois muitas vezes os estudantes não têm fundamento básico da ciência e isso fica evidente quando estes jovens chegam ao ensino médio", disse.



Novos negócios para a ciência - O pesquisador e professor Roberto Lotufo, da Agência de Inovação da Unicamp, apresentou os mecanismos e a importância de se conectar os centros de pesquisas das universidades com as pesquisas industriais. Segundo ele, foi nos anos 80 que o governo dos Estados Unidos deu poder para as universidades que já pensavam em atrair empresas. Foi nesta época que surgiram os primeiros escritórios de transferência de tecnologia no país, posteriormente na Europa e no final dos anos 90 no Brasil.



"Sabemos que a inovação tecnológica se inicia pela necessidade das empresas, mas as ideias podem ser criadas e previstas em universidades com a missão de integrar a educação, o avanço tecnológico e a inovação na busca pelas soluções dos problemas da sociedade. Existem várias oportunidades de interação entre as universidades e as empresas, tanto para incentivar as pesquisas entre os nossos alunos quanto para aumentar o impacto no desenvolvimento do Brasil", disse.



E a regra vale tanto para projetos colaborativos como para a relação entre as universidades e as empresas. Ele citou o caso da Petrobras como um exemplo de sucesso. Existem mais de centenas de projetos sendo desenvolvidos por meio de parcerias e incentivos com as universidades brasileiras.



"A indústria que tem o relacionamento muito próximo com a universidade consegue enxergar melhor a capacidade de sua produção. Outro ponto importante para gerarmos novos negócios é estimular o empreendedorismo nas universidades, como ocorrem nos países mais desenvolvidos e com maior produção científica", finalizou.



(Rodrigo Machado para o Jornal da Ciência)





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