A importante missão de um divulgador científico

Data: 30/08/2012
Julio Abramczyk


A morte do pioneiro do jornalismo científico da Espanha, Manuel Calvo Hernando, aos 88 anos, no dia 16, em Madri, lembra importante ciclo de incentivo à divulgação da ciência na imprensa da América Latina, com especial destaque para o Brasil.



Calvo Hernando ajudou a criar, em países da América Central e do Sul, associações de jornalismo científico, visando despertar o interesse das novas gerações para a divulgação da ciência.



Bacharel em direito, preferiu a atividade de jornalista nas páginas do diário "Ya". Em 1955, ao cobrir a 1ª Conferência Mundial de Usos Pacíficos da Energia Atômica, organizada pela ONU, em Genebra, descobriu a ciência e a importância de tornar acessível à maioria o conhecimento de uma minoria, como dizia em suas palestras. Desde então, até mesmo quando assumiu o cargo de subdiretor do jornal, continuou a escrever sobre ciência.



Como pioneiro do jornalismo científico espanhol, dizia que o conhecimento dos avanços da ciência e da tecnologia pela população a ajudaria a decidir sobre seu futuro. Em 1969, iniciou uma série de cursos e palestras na América Latina quando, em colaboração com o venezuelano Aristides Bastidas, fundou a Associação Ibero-Americana de Jornalismo Científico.



Em 1970, a convite do professor José Marques de Melo, ministrou curso na Escola de Comunicações Culturais da USP, cujas lições, destaca Marques de Melo, "foram basilares para a aprendizagem e o exercício crítico do jornalismo científico".



Calvo Hernando incentivou a fundação da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, criada em 1978. Graças ao seu empenho, São Paulo foi sede, em 1982, do 4º Congresso Ibero-Americano de Jornalismo Científico, realizado concomitantemente com o 1º Congresso da ABJC. A repercussão dos congressos resultou, na década de 80, no surgimento de editorias de ciência e tecnologia nos principais jornais do País.



Há dez anos, durante o 1º Congresso Internacional de Divulgação Científica realizado na USP pelo Núcleo José Reis e pela Associação Brasileira de Divulgação Científica, proferiu sua última conferência no Brasil, quando analisou os desafios ligados à ética na divulgação científica.



Em um dos cursos que ministrou na Espanha, um aluno perguntou sobre as qualidades necessárias para ser jornalista científico. Respondeu: "Em primeiro lugar, deve ser jornalista e conhecer o ofício. Depois, deve ter amor especial ao conhecimento e uma curiosidade universal, além de espírito pedagógico".



Não houve sepultamento do corpo de Hernando. Ele doou seu corpo a uma faculdade de medicina.



Em www.manuelcalvohernando.es podem ser lidos alguns de seus artigos, como o "Decálogo do Divulgador da Ciência" por ele criado.


Julio Abramczyk, médico formado pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp,

Folha de S. Paulo


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