Helena Nader: só políticas de Estado na educação e ciência garantem avanço do País

Data: 20/08/2012

Durante o 64º congresso na capital maranhense, as mais de 100 sociedades científicas que compõem a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) fecharam questão em torno de dois desafios: garantir dinheiro dos royalties de petróleo para pesquisa e inovação e garantir a aprovação e a implementação de alocar 10% do PIB em educação.


"Como enfrentar o desafio de ter o 6º PIB mundial e estar colocado na 70ª posição em torno da educação?", disse a bióloga Helena Nader, presidente da entidade, em entrevista à Revista Sustentabilidade. "O que defendemos é que para ter cidadãos plenos e ter poder sobre eles mesmos, é preciso saber ler, entender o que lê e fazer operações matemáticas".



Mais de 20 mil pessoas participaram no mês passado do congresso da SBPC que teve como tema 'Ciência, Cultura e Saberes Tradicionais para Enfrentar a Pobreza'. Destas, umas seis mil participaram dos debates, simpósios, workshops e palestras que tomaram São Luis. Para Helena, foi uma demonstração de força da ciência brasileira.



Mas, apesar do ponto alto da frequência, compatível com a posição brasileira de contribuir com 2,7% do conhecimento científico mundial, o clima também foi de protesto e espanto com a recente posição do governo brasileiro de cortar repetitivamente o orçamento da ciência no País e o baixo desempenho da educação.



Em uma análise dos recentes avanços econômicos e sociais, Helena concluiu que o Brasil conseguiu colocar quase todas as crianças na escola primária e reduzir a pobreza por meio de programas como o Bolsa Família, mas agora é preciso dar um passo além. Para ela está na hora de garantir estes avanços em lei, melhorar a qualidade e garantir que as crianças e jovens continuem na educação "Todas as crianças entram na escola, mas o que ninguém fala é que aos 12 anos esta criança evade", disse. "Ou se reverte isso ou o Brasil vai ficar a reboque".



Helena faz uma ligação direta entre o nível educacional e o nível de desenvolvimento tecnológico brasileiro. "Educação é ciência e é programa de Estado", concluiu.



Para ela, o caminho da educação é paralelo ao reconhecimento oficial da produção brasileira, onde a ciência nacional deve ser estimulada para fechar o círculo, principalmente nas áreas onde o País tem liderança como agricultura - pela Embrapa -, medicina tropical. Mas o caminho é longo, já que falta constância no fomento científico e resistências culturais.



"O papel da Universidade não é só formar recursos humanos, é gerar conhecimento", lembrou. "Temos que nos orgulhar da nossa produção científica que é regularmente citada em publicações científicas indexadas mundo afora, mas enquanto nos Estados Unidos estes pesquisadores vão para as empresas, no Brasil 80% ficam na academia".



Ela disse que investir neste setor requer política de Estado por isso que, durante o Congresso, as sociedades científicas, a Academia Brasileira de Ciências e outras entidades ligadas à ciência, tecnologia e inovação apoiaram as medidas legislativas para garantir o investimento de 10% do PIB em educação e as propostas de alocar 50% dos royalties do petróleo em educação, ciência e tecnologia.



Presente no congresso do SBPC, o ministro de Ciência Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, teve de ouvir as críticas do setor sobre os recentes cortes no orçamento. "Enquanto não investimos, o mundo continua fazendo. Fiquei surpresa com o corte no orçamento do MCTI no primeiro ano, que foi trágico, mas cortes por um segundo ano...", lamentou. "Espero que isso passe. Confio no ministro".



Fonte: Revista Sustentabilidade

Íntegra: http://revistasustentabilidade.com.br/helena-nader-da-sbpc-so-politicas-de-estado-na-educacao-e-ciencia-garantem-avanco-do-pais/






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