Parceria sueco-brasileira na inovação

Data: 15/08/2012
Leda Camargo e Magnus Robach

A Copa do Mundo de 1958 foi um marco histórico para os suecos, que chegaram a disputar a final, mas o maior triunfo, desnecessário dizer, pertenceu aos brasileiros, que venceram a partida por 5 a 2, lançando suas fabulosas carreiras como integrantes da nação com a seleção de futebol mais bem sucedida do mundo. É sugestivo lembrar o documentário intitulado "1958, o ano em que o mundo conheceu o Brasil", [de José Carlos Asbeg">.



Essas memórias criaram laços duradouros entre nossos países. E amanhã as duas seleções voltam a se encontrar em Estocolmo no mesmo estádio, Råsunda, para o último jogo a ser disputado antes da sua demolição, para dar espaço para a construção de uma nova arena. Edson Arantes do Nascimento, Pelé, abrirá o jogo que contará ainda com a presença de outros 13 jogadores das duas seleções que participaram da final em 1958.



Esse é também um bom momento para refletirmos sobre o que esses dois países, tão distantes e tão diferentes, como a Suécia e o Brasil, podem fazer juntos. E para isso, um importante seminário empresarial será realizado na capital sueca, com a participação de pesos pesados da área industrial e comercial de ambos os países e que contará com a presença do vice presidente do Brasil, Michel Temer e de Sua Majestade a rainha Silvia da Suécia.



Apesar de empresas suecas terem participado até das obras do Corcovado e do bondinho do Pão de Açúcar, foi por volta de 1958 que a indústria sueca começou a estabelecer uma forte presença no Brasil, a ponto de hoje São Paulo ser considerada "o maior parque industrial sueco" em termos de número de empregados. Electrolux, Scania, Volvo, Sandvik, Alfa Laval, SAAB Technologies e tantas outras empresas renomadas em solo brasileiro.



A estabilidade econômica e o progresso social que o Brasil tem alcançado, em conjunto com o clima de otimismo que prevalece no País, são bens cruciais no atual contexto global de incertezas. O Brasil esforça-se para diversificar sua economia e promover um crescimento baseado em tecnologia. Áreas de excelência, tais como a aeroespacial e a agricultura inovativa se destacam.



Os suecos têm por base sua tradição de criatividade industrial e científica para permanecerem competitivos, e a chave do sucesso é o constante esforço de inovação. Isso demanda investimento e, acima de tudo, uma respeitosa interação entre a comunidade científica, as instituições públicas e o empresariado. A pesquisa é orientada pela demanda. Há um sistema que consistentemente envia boas ideias ao mercado competitivo das indústrias. O processo de inovação é aberto e colaborativo. O sistema de educação é decididamente orientado para o desenvolvimento de mentes independentes.



A Suécia tem pontuação alta nesses quesitos: pelo segundo ano consecutivo foi eleita pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), agência especializada das Nações Unidas, o segundo país mais inovador do mundo.



O Brasil procura transferência de alta tecnologia, mas também precisa considerar como suas políticas globais podem reforçar a capacidade inovadora nativa. Os suecos se esforçam para aumentar sua presença em mercados em crescimento e procuram construir redes globais de inovação, abertas, sem agendas ocultas.



A possibilidade de construção de uma parceria de inovação entre o Brasil e a Suécia é, portanto, bastante evidente. Na verdade, ela já existe, porém, deve ser perseguida com mais vigor. Para que isso aconteça, os dois países deveriam:



* Intensificar o diálogo sobre como criar o melhor clima possível para inovação;

* Focar esforços em projetos de inovação conjuntos na área de tecnologia ambiental, como, por exemplo, transporte, energia renovável e florestamento sustentável;

* Desenvolver ainda mais plataformas comuns, com o objetivo de facilitar a execução de ações conjuntas, tal como o Centro da Inovação Sueco-Brasileiro;

* Engajar parques científicos em ambos os países;

* Usar ao máximo as oportunidades oferecidas pelo programa Ciência sem Fronteiras e por programas suecos do mesmo tipo, que foram desenvolvidos para reforçar os laços entre instituições de pesquisa, e criar competência para empreendimentos industriais conjuntos.



O jogo de amanhã em Råsunda simboliza a amizade baseada em acontecimentos passados. Uma parceria em inovação pode levar nossas economias e relações industriais a uma nova dimensão, estabelecida com solidez, pois baseadas no aproveitamento de vantagens mútuas aos dois países.


Leda Lúcia Martins Camargo é embaixadora do Brasil na Suécia e Magnus Robach, é embaixador da Suécia no Brasil.

Valor Econômico


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