LHC identifica provável bóson de Higgs

Data: 05/07/2012


Num feito que ficará para sempre marcado na história, físicos do CERN (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares) anunciaram nesta quarta-feira (4) terem encontrado uma nova partícula, com características compatíveis com o almejado bóson de Higgs.



A descoberta, feita com dois instrumentos do LHC (Grande Colisor de Hádrons), o maior acelerador de partículas do mundo, foi anunciada numa teleconferência na sede do CERN, em Genebra (Suíça), transmitida ao vivo para a abertura da 36ª Conferência Internacional em Física de Altas Energias (ICHEP), em Melbourne, Austrália.



O bóson ganhou esse nome em homenagem ao físico escocês Peter Higgs, um dos vários cientistas que desenvolveram a teoria de como as partículas poderiam ter massa, mais tarde incorporada ao Modelo Padrão.



Trata-se da mais completa teoria física já desenvolvida, que explica em detalhes como funcionam todas as partículas e forças da natureza, exceto a gravitação (que ainda é província exclusiva da relatividade geral). Praticamente tudo nele já havia sido experimentalmente confirmado anteriormente, exceto o bóson de Higgs. É a última peça do quebra-cabeça.



"A descoberta do Higgs coroa um dos maiores feitos da humanidade, desde sua concepção intelectual, baseada em noções de beleza e simetria, aos incríveis avanços tecnológicos necessários para materializar esta descoberta", diz Ronald Shellard, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF).



Questões em aberto - Os pesquisadores das colaborações CMS e ATLAS - nomes dos dois experimentos responsáveis pelo achado - ainda são cautelosos ao afirmar que a nova partícula é mesmo o bóson de Higgs.



Os dados mostram além de qualquer dúvida que há uma novidade: uma partícula com energia de 125 GeV (giga-elétronvolts) que decai, entre outras possibilidades, em um par de bósons Z (já conhecidos), que depois se dissolvem em outras partículas. É o resultado desses decaimentos sequenciais que é observado nos detectores do acelerador. A partir dele, os cientistas fazem a "engenharia reversa" do processo para identificar as características originais da partícula.



"Apesar de os eventos [de colisões de partículas no acelerador"> sugerirem que estejamos diante do bóson de Higgs, a confirmação de que se trata realmente da partícula predita requer mais medidas comparativas", afirma Sérgio Novaes, físico da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe do CMS.



Concorrência - Na segunda-feira (2), os americanos chegaram a divulgar suas últimas análises dos velhos dados, que mostravam a indicação de uma partícula com as características do bóson de Higgs e uma energia entre 115 e 135 giga-elétronvolts (GeV), com 90% de confiança. Entretanto, ainda estava longe do grau de exigência da comunidade para tratar o resultado como uma descoberta. Somente, agora, com os resultados do LHC é possível cravar a existência da nova partícula, com energia de 125 GeV.



Fim ou recomeço? - A descoberta do Higgs sempre foi anunciada como principal meta para a construção do LHC. Agora que ele provavelmente foi encontrado, pode ficar para o público uma sensação de vazio. Mas o sentimento não é compartilhado pelos físicos.



"Em primeiro lugar, há um equívoco em focar muito no bóson de Higgs", afirma Shellard. "Todos concordamos que o bóson de Higgs não vale US$ 10 bilhões. Essa máquina, o LHC, foi concebida para explorar a natureza! A descoberta do Higgs coroa o maior feito intelectual da história da humanidade até agora, uma teoria que explica uma infinidade de fenômenos naturais. Mas, para o LHC, ela é apenas o começo."



Brasil no CERN - Para fazer parte dessa aventura de desbravamento de maneira mais intensa, o Brasil discute desde 2010 a possibilidade de se associar ao CERN, e uma nova etapa acaba de ser cumprida para que isso se torne realidade. O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, já aprovou o envio de um documento que descreve as qualidades técnicas e científicas do Brasil e que dá andamento à negociação.



"Demos um passo importante para que o Brasil seja um país protagonista das grandes descobertas científicas", diz Raupp. "Essa ação também terá como consequência mobilizar a indústria para participar dos avanços tecnológicos significativos que são gerados na interação com o CERN."



As conversas começaram ao final do governo Lula, sob a batuta do então ministro Sergio Rezende, mas ficaram paradas durante o ano passado por conta da crise econômica. Agora voltaram a avançar.



Assim que o Conselho do CERN receber o relatório, irá nomear uma comissão para verificar pessoalmente as instalações nacionais de pesquisa. Uma vez que o Brasil seja aceito como membro, o acordo a ser assinado entre as partes ainda precisará ser aprovado pelo Congresso Nacional para entrar em vigor.



Mas os físicos brasileiros já se animam com a perspectiva de fazer parte desse esforço para desvendar os mistérios que residem além das teorias científicas consagradas, acessíveis através das colisões geradas pelo LHC.

(Ascom da SBF)






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