Redução histórica nas emissões de CO2

Data: 04/07/2012

Os Estados Unidos registraram a maior redução de contaminação por dióxido de carbono (CO2) nos últimos seis anos em comparação com outros países, embora em escala mundial a concentração deste gás de efeito estufa tenha alcançado cifras históricas. “As emissões de CO2 nos Estados Unidos caíram 92 milhões de toneladas em 2011, equivalentes a 1,7% em relação ao ano anterior, principalmente pela troca do carvão para o gás natural na geração de eletricidade e um inverno excepcionalmente ameno, o que reduziu a demanda”, afirma um estudo divulgado pelo site da Agência Internacional de Energia.

“Agora, as emissões nos Estados Unidos caíram 430 milhões de toneladas, ou 7,7%, desde 2006, a maior redução de todos os países ou regiões. A mudança foi causada por menor uso de combustíveis no transporte (devido a melhorias na eficiência, maior preço do petróleo e crise econômica que provocou queda na circulação de veículos) e a uma substancial troca do carvão para o gás na geração elétrica”, acrescenta o estudo.

“Basta para dar às pessoas alguma esperança de que, talvez, a humanidade não esteja empurrando o meio ambiente para um contexto de juízo final”, disse Bruce Niles, diretor da campanha Beyond Coal (Além do Carbono), do Sierra Club. “Obviamente, durante anos fomos os maiores contribuintes do aquecimento global, ao que parece liberando cada vez mais emissões. A maior parte do problema era que continuava piorando”, pontuou.

“Finalmente, já não estamos na situação de não fazer nada. Conseguimos uma redução superior à de qualquer país nos últimos oito anos. E não levamos a sério a liderança. É uma mistura de ações do governo de Barack Obama e das normas da EPA (Agência de Proteção Ambiental), comunidade após comunidade e Estado após Estado fazendo sua parte”, destacou Niles à IPS.

As emissões de dióxido de carbono por habitante agora estão no mesmo nível de 1964, segundo uma análise do jornal Vancouver Observer. Contudo, isto não significa que a contaminação geral seja a daquela época. A média por pessoa é menor, em parte, porque a população norte-americana aumentou desde aquele ano, explicou Niles. A campanha Além do Carbono obteve vários êxitos fechando usinas a carvão e evitando a abertura de novas. “Nosso trabalho contra o carvão começou há uma década”, contou. “Estivemos a maior parte dos primeiros seis a oito anos freando a construção de novas usinas movidas a carvão. Paralisamos aproximadamente 90%”, acrescentou.

O Sierra Club afirma que impediu a construção de 169 das 200 novas usinas a carvão que estavam previstas. Foram construídas 22 centrais, a maioria antes que começasse a campanha nacional, segundo Niles. E nenhuma foi construída desde outubro de 2008, salvo uma no Estado do Mississippi, e que é objeto de disputas. No final de 2009, a campanha começou a mudar seu foco e se concentrou no fechamento das usinas existentes. Cerca de 112 já anunciaram que fecharão, o que representa 14% do total.

Jamie Henn, diretora de comunicações da 350.org, afirmou que uma das razões para a indústria abandonar o carvão é a chegada do relativamente barato gás natural. Entretanto, alertou ser pouco provável que a substituição do carvão pelo gás natural ajude com o problema global da contaminação por gases-estufa nos Estados Unidos. Segundo Henn, “parte do xis da questão é que o gás natural pode reduzir as emissões contaminantes no curto prazo, mas tanto a lógica econômica quanto a do carvão apresentam falhas. Existem vazamentos de metano vinculados com a produção e o armazenamento do gás natural”.

Em termos de dano ambiental, cada partícula de metano é 32 vezes tão nefasta quanto uma de dióxido de carbono, embora se degrade antes e não permaneça tanto tempo no meio ambiente, afirmou Henn. “É pior do que o carvão porque o metano é um perigoso gás-estufa. Este é um motivo de preocupação, talvez esta redução seja leve, mas não será mantida a tendência de baixa (se forem considerados os equivalentes de CO2, como o metano). Esses ganhos se estabilizarão”, acrescentou.

Os ativistas concordam que uma das razões para que a contaminação por dióxido de carbono tenha diminuído nos Estados Unidos nos últimos anos é a queda da economia. A crise, ironicamente, foi boa para o meio ambiente. Os ativistas também atribuem a queda da contaminação a uma eficiência maior no uso dos combustíveis e aos esforços gerais na conservação e duplicação do uso de energias renováveis, como a solar e a eólica, nos últimos anos.

Porém, há muito por fazer: mais energia solar e eólica, menos carvão e menos gás natural, maior eficiência energética, bem como no uso de combustíveis, e mais conservação. Para seguir a tendência atual e cumprir o objetivo fixado no Acordo de Copenhague, de reduzir em 17% os gases contaminantes até 2002, mais famílias dos Estados Unidos terão que rever seu próprio consumo.

“O cidadão europeu médio usa 50% menos carvão do que o norte-americano. Isto é, não vivem na periferia nem usam veículos esportivos utilitários. Costumam ter casas menores, sair mais e comprar menos”, afirmou Henn. Antes podia parecer trivial algo assim como de que serve fazer sacrifícios pessoais se o problema só vai piorar. No entanto, uma das consequências do estudo da Agência Internacional de Energia é mostrar que as diferentes ações para reduzir a contaminação nos Estados Unidos têm um impacto. Isso poderia servir de motivação para fazer mais.

IPS


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