Faltam bases sólidas para a atração de investimento

Data: 28/06/2012
O avanço dos negócios sustentáveis exige o fortalecimento das bases econômicas para fomentar empresas e iniciativas voltadas para tecnologias verdes, serviços ambientais e produção limpa. O foco na preservação ambiental tem de ser integrado aos sistemas de financiamento vigentes - evitando o distanciamento entre o discurso e a ação.


Os desafios englobam a criação de mecanismos eficazes para financiar os projetos, a adaptação do apetite pelo retorno financeiro por parte do investidor, a elaboração de projetos com maior musculatura e a precificação dos recursos naturais. "Precisamos de métricas para avaliar o valor das reservas e o potencial dos negócios. O retorno financeiro dos investimentos requer uma nova estrutura de custos", defende Ana Carla Fonseca Reis, economista e diretora da Garimpo de Soluções.



Ela explica que, enquanto avaliarmos a natureza como um recurso gratuito, será difícil provar a competitividade das soluções verdes. Como exemplo, cita o polêmico projeto para construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. "Se os custos e os recursos ambientais fossem considerados, energias alternativas como eólica e solar se mostrariam mais atraentes na comparação." A lógica é a de que não há valor sobre o que está em cima da terra, o que coloca a questão apenas como territorial. "A avaliação de risco e retorno tem de englobar o capital natural. Sem isso, o fluxo de investimentos não vai chegar. Os projetos têm de fazer sentido econômico", completa Mario Monzoni, coordenador do centro de estudos de sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas.



Para Monzoni, é preciso adaptar os instrumentos financeiros. A economia verde (ou de baixo carbono) precede uma transição que exige políticas públicas e a criação de um ambiente de negócios mais favorável à expansão de soluções. "Ainda subsidiamos a economia tradicional, sem penalizar quem produz de forma destrutiva. Se compararmos o volume de dinheiro envolvido, aplicamos pouco na sustentabilidade." Entre os avanços, ele cita a questão do crédito de carbono, que já foi para o balanço das empresas e é uma forma de enxergar o custo ambiental.



Apesar do potencial brasileiro para a economia verde, os investimentos privados têm acontecido, em grande parte, por meio de fundos filantrópicos. O ideal é que haja capitalização também por meio de investidores e fundos de risco. "Nosso principal desafio é desenvolver as cadeias produtivas. Negócios verdes são rentáveis, mas para ampliar as fontes de recursos, os segmentos precisam estar organizados", afirma Mirela Sandrini, diretora de operações do Fundo Vale para o Desenvolvimento Sustentável.



Ela ainda destaca a necessidade de medir os resultados dos projetos, ensinando os empreendedores a traçar objetivos claros e a aprimorar a gestão. "Existe uma mudança de comportamento também na filantropia. Para que o projeto avance, o investidor passa a acompanhar e exigir o alcance das metas." A disposição de ensinar empreendedores a gerir os negócios tende a atrair novos investidores. A receita inclui melhora no desempenho das operações, maior competitividade e qualificação de mão de obra. "O investidor quer retorno do dinheiro aplicado. Temos capacidade para oferecer isso", comenta Mirela.



Sidney Chameh, conselheiro da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP) lembra que o segmento de capital de risco é novo no Brasil, para todos os segmentos, e ainda tem dificuldade para avaliar projetos sustentáveis. "Não percebo uma estrutura de fundos que busque negócios verdes, as iniciativas são isoladas."



Para ele, a questão não é falta de interesse. O mercado de capitais também está atento às questões da sustentabilidade. Faltam projetos bem elaborados e atrativos, que tragam previsões de retorno. "A criação desse ambiente depende de maior disposição do investidor para aplicar em economia verde - mesmo com ganhos reduzidos se comparados a outras opções - e das empresas e instituições em criar negócios rentáveis. É uma via de mão dupla", afirma Chameh.



Além de construir bases sólidas para o investimento, há um longo caminho para dar segurança jurídica à economia verde. "Marcos regulatórios bem definidos são requisitos de qualquer cadeia produtiva", lembra Manoel Serrão, coordenador de mecanismos financeiros do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Como exemplos, ele cita as incertezas presentes no novo Código Florestal e a carência de regras para projetos de exploração da biodiversidade. "A empresa começa a trabalhar e não tem garantias sobre a propriedade intelectual ou ao acesso à biodiversidade. A partilha dos resultados também é incerteza constante."



Na parte financeira, a burocracia atrapalha bastante. As inconsistências nas regras são, na visão dele, as maiores vilãs. Os concessionários escolhidos para serviços como o levantamento de ativos ambientais e projetos de manejo não têm acesso às linhas de financiamento disponíveis. As concessões não valem como garantia para obter recursos e, para chegar ao licenciamento, é preciso realizar o plano de manejo. "Mas como fazer isso sem dinheiro para o mapeamento dos potenciais da reserva, que pode levar até três anos?", questiona.

(Valor Econômico)






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