Rio+20: Fórum de cientistas termina pedindo mais aproximação entre pesquisa e política, priorização da educação e intercâmbio internacional

Data: 19/06/2012


Terminou na última sexta-feira (15) o Fórum Internacional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu durante a semana passada na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/Puc-Rio. O evento, organizado pelo International Council for Science (ICSU), era um dos encontros prévios à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, e teve uma Sessão-Diálogo de Alto Nível em seu último dia, que contou com personalidades do mundo da ciência e política de diversas partes do mundo.



Entre os representantes brasileiros da sessão figuravam o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp; a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis; o presidente do CNPq, Glaucius Oliva, entre outros. O presidente do ICSU, Yuan Tseh Lee, abriu o evento destacando a necessidade de "discutir, se engajar e colaborar", em consonância com grande parte dos palestrantes, que sublinharam a importância de aproximar ainda mais a ciência da política e da sociedade.



O ministro de CT&I brasileiro começou sua intervenção afirmando que "só a ciência pode oferecer alternativas para ultrapassar as crises que possam aparecer". E fez um resumo das principais conclusões ao longo dos cinco dias de fórum, destacando, por exemplo, a necessidade de estabelecer ações que relacionem políticas de sustentabilidade com crescimento populacional e estrutura etária; a necessidade do avanço da CT&I no sentido de equacionar a redução de emissões de carbono dos processos e distribuir a produção alterando o padrão de consumo; as evidências de que a crise ambiental atual foi criada pelo ser humano; o desafio de assegurar água e comida de qualidade para a população de nove bilhões que o mundo terá em 2050; políticas públicas para urbes sustentáveis; biodiversidade e serviços ecossistêmicos como pilares para a economia verde inclusiva e incorporação de conhecimentos tradicionais ao sistema de CT&I.



Papel da CT&I - Raupp também sublinhou o lançamento da plataforma Future Earth Research for Global Sustainability, "nova forma de organizar a pesquisa científica envolvendo pesquisadores, tomadores de decisão e usuários dos resultados do planejamento de projetos". "Somente com a colaboração da C&T se farão os ajustes que devem ser propostos tanto no âmbito da Rio+20 quanto nos desdobramentos desse encontro nos anos subsequentes. CT&I são o que dão métrica e credibilidade a todas as esferas dos debates ambientais", sentencia o ministro.



O diretor-executivo do ICSU, Steven Wilson, informou que o Fórum contou com cerca de 500 participantes de 75 países e mais de 100 conferencistas que discutiram temas como desastres e eventos naturais extremos, governança e energia, além dos citados por Raupp. E enumerou entre suas mensagens-chave o aumento da colaboração internacional e a intensificação do papel crítico da ciência, além da necessidade de maior engajamento (político e social) dos cientistas, aspecto ressaltado também por outros palestrantes.



Helena Nader sublinhou a importância da educação e afirma que, para alcançar a sustentabilidade global, ela deveria ser priorizada, para, em seguida, apontar para C,T&I. Ruth Landenheim, vice-ministra de CT&I da Argentina, reforçou a ideia, dando como exemplo a feira Tecnópolis, megamostra de ciência, arte e tecnologia em Buenos Aires que atraiu em 2011 quatro milhões de visitantes, "um estímulo para a formação".



Tarja Halonen, ex-presidente da Finlândia, também ressaltou o papel da educação, especialmente nos níveis básicos, e, além disso, apoiou a colaboração com detentores de conhecimento tradicional e indígena. A Finlândia está entre os países europeus que possivelmente ratificarão o Protocolo de Nagoya, já que nela existem importantes comunidades tradicionais.



Rio+20 - Doug-Pil Min, embaixador de C&T da Coreia do Sul, e Jozsef Palinkas, presidente da Academia Húngara de Ciências, compararam as expectativas da Rio+20 com as discussões da Rio-92 e, apesar dos "argumentos repetidos" em alguns setores, há otimismo. "Nunca é tarde, ainda temos tempo para mudar", acredita Palinkas. Físico de formação, ele sublinhou o "importante papel" das ciências sociais na conscientização da sociedade e governos a respeito do desenvolvimento sustentável.



Malegapuru Makgiba, vice-presidente do ICSU para temas de planejamento científico, opina que não se deve "repartir o conhecimento" e sim fazê-lo "convergir", lembrando que ele está ligado também à identidade dos povos, enquanto Johan Rocksström, co-presidente do Future Earth Transition Team, destacou que a geração atual de jovens cresce ouvindo falar de desenvolvimento sustentável. "Eles sabem que essa transição não só é necessária como também desejável", conclui.



(Jornal da Ciência)





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