Como inovar usando tecnologias não patenteadas

Data: 14/06/2012
Há poucas patentes depositadas no Brasil em áreas importantes do conhecimento, relacionadas a tecnologias bem assimiladas pelo mercado, e essa ausência de proteção no mercado interno pode ser aproveitada pelas empresas instaladas no País. A estratégia foi demonstrada pelo palestrante internacional Paul Germeraad, presidente da Intellectual Assets, na manhã desta terça-feira (12 de junho) na XII Conferência Anpei, que termina amanhã em Joinville, Santa Catarina.

Germeraad falou sobre o tema “Propriedade Intelectual: Oportunidades de Negócios com Tecnologias Não Patenteadas” durante a sessão do Comitê Temático de Gestão da Propriedade Intelectual da Anpei, atividade que integrou a programação geral da XII Conferência e foi aberta para todos os inscritos no evento. A mesa foi coordenada por Letícia Socal da Silva, da Braskem, que também coordena o Comitê Temático.

Também participou da mesa Eduardo de Mello e Souza, que apresentou um case de empreendedorismo ligado à negociação de patente de um produto do setor odontológico desenvolvido por brasileiros. A atividade se encerrou com Denise Gregory, diretora de Cooperação para Desenvolvimento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que falou do processo de modernização da autarquia.

“Quando falamos de patentes, muitos pensam que é um instrumento legal que exclui os outros, mas, na verdade, são documentos que mostram como fazer e usar o que há de melhor no mundo em termos de tecnologia”, destacou Germeraad. Ele apresentou gráficos que mostram a concentração de pedidos de patentes pelas empresas desenvolvedoras de tecnologias líderes feitos nos países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, França, Grã-Bretanha.

“A maioria dessas tecnologias está disponível para China e Índia, por exemplo, que recebem um terço desses pedidos. É uma oportunidade de ouro para esses países e para o Brasil”, completou. Germeraad chama essa estratégia de utilizar tecnologias não patenteadas de “caronista”, ou seja, “pegar carona”, copiando tecnologias não protegidas no País, evoluindo para a combinação de patentes e tecnologias não patenteadas aqui, para chegar às inovações próprias.

Eduardo de Mello Souza mostrou um case sobre o desenvolvimento do Biogenie, um equipamento compacto e de alta precisão que produz próteses dentárias sobre medida. O produto foi idealizado pelo cirurgião dentista Silvio De Luca, ao observar que não havia máquinas capazes de produzir próteses dentárias com a precisão necessária para a criação de próteses personalizadas. Como inventor independente, De Luca fez um pedido de patente em 1997 e, posteriormente, se uniu a um grupo de quatro engenheiros que estudavam Robótica na PUC-RJ para desenvolver o protótipo do equipamento.

As inovações geraram novos pedidos de patentes, depositadas também nos Estados Unidos e na Europa. Para fabricar o produto, fizeram parceira com uma empresa do Rio Grande do Sul e outra de São Paulo. Participaram de uma feira de negócios na Alemanha, onde fecharam negócio com uma empresa local. “Eles foram corretos, mas brutais na negociação. Tentaram destruir nossos cálculos de mercado, criticaram nossas análises clínicas, mas estávamos preparados para rebater”, contou.

Denise Gregory, do INPI, comentou que a inclusão da infraestrutura e cultura da propriedade intelectual é um ponto da agenda da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) da qual a Anpei participa, e que está incluído na agenda estratégica do INPI. “Em recente viagem aos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff disse a empresários brasileiros que inovação se mede por patente, o que amplia a responsabilidade do INPI. Estamos contratando mais 250 novos servidores, que serão somados aos um mil que temos hoje”, afirmou.

Denise também falou sobre o que o INPI dispõe hoje para auxiliar as empresas que queiram seguir a estratégia proposta por Paul Germeraad de utilizar tecnologias não patenteadas. “Temos uma base de acesso aberta ao público e o trabalho do Observatório Tecnológico, que tem foco nas áreas de saúde, defesa, energia e biotecnologia”, enumerou. O Observatório produz documentos que tratam de patentes que caducaram por abandono, estão expirando ou em vias de expirar ou que não foram depositadas no Brasil dentro desses setores.


ANPEI


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