Os segredos para agilizar a transferência de tecnologia

Data: 14/06/2012


Delegar poderes e competências é requisito fundamental para que universidades e institutos de pesquisa consigam ser eficientes nos processos de transferência de tecnologia. Esta foi a recomendação dada por Gennaro Gama, gerente sênior de Tecnologia da Fundação de Pesquisa da Universidade da Georgia, durante uma palestra na XII Conferência Anpei, que se encerra hoje (13/6) em Joinville (SC). Ele participou do painel “Parceria Universidade-Empresa – Catalisador de Inovações Locais, Nacionais e Globais”, realizado na manhã de hoje como atividade do Comitê Temático Promovendo a Interação ICT-Empresa da Anpei.

“Na Universidade da Georgia, notamos que a estrutura burocrática era danosa para a organização, então criamos mecanismos de delegação de poder. Hoje, o tempo que gastamos entre o final da negociação com a empresa e a assinatura do contrato pelo vice-presidente executivo da Fundação é de 15 minutos”, contou. “É preciso ter vontade de otimizar os processos, de pensar fora da caixa, e não concentrar poder nas mãos de uma pessoa ou um grupo de pessoas”, completou.

Gama é brasileiro, mas está há mais de 20 anos nos Estados Unidos, e tem larga experiência em processos de interação com empresas e transferência de tecnologia. Ele explicou que na interação entre universidades e empresas é preciso partir de conceitos comuns.

Inovação, disse ele, não é transferência de tecnologia, números de patentes depositadas, estatísticas de performance, mas sim a implementação de novas ideias, sistemas, produtos e serviços que trazem benefícios para a sociedade. “Assim, quando os dois lados se juntam, os impactos dessa interação devem ser medidos de acordo com as consequências sociais, em níveis regional, nacional ou global”, apontou.

Para ele, as universidades estão no centro do sistema da “economia da inovação” e esta é uma situação irreversível. Além das funções tradicionais de ensino, pesquisa e extensão, agregaram-se novos papéis às universidades. Elas influenciam a formulação de políticas públicas, a criação de empregos e o fluxo de capital. Prestam serviços como treinamento e testes de novas tecnologias, formam e incubam novas empresas, têm participação acionária em companhias, licenciam tecnologias, e formam cultura empreendedora.

A importância da exclusividade em propriedade intelectual diminuiu na economia da inovação, e se valoriza o trabalho colaborativo e a difusão das informações. Centros tradicionais de produção e controle da informação perderam esse controle e o conhecimento passou a ser global com o advento da internet. As fronteiras entre as áreas de conhecimento se diluem a cada dia e o especialista absoluto é substituído pelo generalista ou por grupos de vários especialistas reunidos ara atuar conjuntamente em projetos de pesquisa.

Nesse contexto, o setor acadêmico passou a valorizar em excesso os indicadores numéricos, como número de patentes e tecnologias licenciadas, deixando o aspecto qualitativo em segundo plano, de acordo com Gama. “Quando o foco está nos números, presta-se mais atenção às indústrias de fronteira do que às tradicionais”, comentou. Para ele, quando essas indústrias tradicionais não são os parceiros preferidos, os serviços de extensão são sacrificados. Contudo, a indústria tradicional é a coluna dorsal da economia.

Gama também mostrou um relatório de 2008 que mostra o impacto econômico das atividades de transferência de tecnologia de um grupo de mais de 200 universidades nos Estados Unidos. Foram 648 novos produtos, 5.039 novas licenças e 395 novas companhias formadas naquele ano. “Contudo, outra pesquisa, da Cambridge University, mostrou que o licenciamento de tecnologia é um dos últimos fatores apontados pelas empresas como a atividade de maior impacto na interação com as universidades”, contrapôs. As principais atividades de impacto mencionadas pelas companhias são a prestação de serviços, o auxílio na gestão de recursos humanos, o apoio no estabelecimento de estratégias de mercado e marketing e a resolução de problemas.

No cenário atual, novos pontos críticos apareceram na parceria entre universidades e empresas. No caso das primeiras, ele citou a falta de tempo, a burocracia, os recursos e benefícios insuficientes. Para as empresas, os problemas são a falta de recursos, a ausência de programas ou políticas que facilitem as interações, a burocracia, a dificuldade em identificar parceiros, a obtenção de benefícios não suficientes e problemas de propriedade intelectual.

Gama encerrou sua apresentação destacando o crescimento econômico brasileiro, mas lembrando que a participação do setor mais inovativo, de alta tecnologia, foi pequeno nesse processo. “Como disse Paul Germeraad em sua apresentação ontem na Conferência, por que não olhar para o que já foi testado pelo mercado e não está protegido aqui? Não é preciso reinventar a roda”, sugeriu. “Mas, se o País quiser ter um futuro, terá de fazer investimento em inovação em empresas e universidades locais”, completou.


ANPEI


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