O futuro que nós queremos

Data: 05/06/2012
Ban Kin-Moon

Há 20 anos, aconteceu a Cúpula da Terra. No encontro no Rio de Janeiro, os líderes mundiais concordaram com um plano ambicioso para um futuro mais seguro. Procuraram equilibrar as exigências do crescimento econômico e as necessidades de uma população crescente com a conservação dos recursos mais preciosos: ar, terra e água. Concordaram que a única maneira de fazê-lo era romper com o velho modelo econômico e inventar um novo. Chamaram-no de desenvolvimento sustentável.



Duas décadas depois, voltamos ao futuro. Os desafios que a humanidade enfrenta hoje são praticamente os mesmos, só que maiores.



Aos poucos, percebemos que estamos entrando numa nova era. O crescimento econômico global se combinou com o populacional, criando uma pressão sem precedentes sobre os ecossistemas. Não podemos continuar queimando e consumindo nossas formas de prosperidade. Porém, não adotamos a solução óbvia, a única solução possível hoje, como era há 20 anos: o desenvolvimento sustentável.



Felizmente, temos uma segunda chance. Em poucos dias, os líderes mundiais se reunirão de novo no Rio para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Mais uma vez, a cidade oferece uma oportunidade geracional para definir um novo rumo em direção a um futuro que equilibre as dimensões econômica, social e ambiental.



Mais de 130 chefes de Estado e de governo vão estar lá, com cerca de 50 mil líderes empresariais, prefeitos, ativistas e investidores - uma coalizão global para a mudança. Mas o sucesso não é garantido. Para assegurar nosso mundo para as gerações futuras, precisamos da parceria e envolvimento de todos os líderes, dos países ricos e pobres, pequenos e grandes.



Se eu oferecesse conselhos como secretário-geral da ONU, concentraria nos três "conjuntos" de resultados para que a Rio+20 seja um divisor de águas.



Primeiro, a Rio+20 deve inspirar um novo pensamento - e ação. Em muitos lugares, o crescimento estagnou. Os empregos estão em movimento retardatário. As lacunas entre os ricos e os pobres estão crescendo. Vemos a escassez alarmante de alimentos, combustível e recursos naturais.



No Rio, os negociadores vão se basear no sucesso dos objetivos de desenvolvimento do milênio, que têm ajudado a tirar milhões da pobreza. Uma nova ênfase sobre a sustentabilidade pode oferecer o que os economistas chamam de "triple bottom line" -crescimento econômico com aumento dos empregos associado à proteção ambiental e inclusão social.



Em segundo lugar, a Rio+20 deve ser sobre pessoas: um encontro que ofereça esperança concreta para a real melhoria no dia a dia. As opções antes das negociações incluem a declaração de um "fome zero" do futuro: zero desnutrição em crianças por falta de alimentação adequada, desperdício zero de alimentos e insumos agrícolas nas sociedades onde as pessoas não têm o suficiente para comer.



A Rio+20 também deve dar voz àqueles que ouvimos com menos frequência: mulheres e jovens. As mulheres sustentam o peso de metade do mundo, merecem tratamento igualitário. E os jovens são o rosto do nosso futuro. Estamos criando oportunidades para os quase 80 milhões que vão entrar no mercado de trabalho a cada ano?



Em terceiro lugar, a Rio+20 deve convocar para uma ação: não desperdiçar. A mãe terra tem sido boa para nós. Façamos a retribuição da humanidade, respeitando seus limites naturais.



Como muitos dos desafios são globais, exigem uma resposta global. Não é o momento para brigas superficiais. É momento para os líderes do mundo e seus povos se unirem no propósito comum em torno de uma visão compartilhada de nosso futuro: o futuro que nós queremos.

Ban Kin-Moon é secretário-geral da ONU.


Folha de S. Paulo


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