BNDES anuncia R$ 5 milhões para a Rio+20

Data: 04/06/2012
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai patrocinar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que ocorre de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro, com recursos no valor de R$ 5 milhões. A informação é do diretor de Meio Ambiente do banco, Guilherme Lacerda.



Em contrapartida, o banco terá um estande no Parque dos Atletas, em Jacarepaguá, próximo ao Riocentro, local de realização da conferência oficial da ONU. Ali, os visitantes poderão conhecer os fundos de financiamento geridos pelo banco para a área do meio ambiente, além dos demais produtos financeiros da instituição. A ideia é aproveitar o momento para a "difusão de projetos que temos no banco para o meio ambiente e a área social", disse o diretor.



O assessor da presidência do BNDES, Fabio Kerche, disse que o BNDES já vem apoiando a Rio+20 por meio da cessão de dependências, no edifício-sede, para o comitê de organização do evento. "O banco emprestou salas para a organização da Rio+20 faz algum tempo. A presença do banco e seu compromisso de apoiar a Rio+20 são muito fortes. O banco entende que esse evento é muito importante e, por isso, vai dar todo o apoio".



O presidente do banco, Luciano Coutinho, e seus principais executivos participarão do evento oficial, no Riocentro, entre os dias 20 e 22 de junho, quando estarão reunidos no local chefes de Estado de mais de 110 países.



Guilherme Lacerda não confirmou, nem descartou, que esteja em estudo no banco o lançamento de uma nova linha de crédito destinada a financiar projetos sustentáveis. "Nós estamos sempre procurando alternativas para dar condições de investimento a empresas, entidades do setor público e cooperativas nessa direção".



A questão ambiental é considerada prioritária na gestão de Luciano Coutinho no BNDES, tanto que foi criada uma superintendência específica para o setor. Segundo Lacerda, o meio ambiente permeia todas as áreas do banco. "O elemento de respeito ambiental, no sentido amplo do termo, tem que considerar não apenas stricto sensu a questão ambiental, mas a convivência dos projetos com as comunidades, a questão social, a questão cultural das regiões. Isso está definido e normatizado nos grandes projetos e, também, nos projetos menores, sejam eles de regiões de fronteira, regiões agrícolas, mas também nas regiões urbanas, muito adensadas, com áreas sociais, que tenham impacto forte no espaço".



Ainda durante a Rio+20, o BNDES lançará um novo filme sobre o Fundo Amazônia, fundo constituído em grande parte por doações do governo da Noruega e voltado para apoiar projetos de preservação na região amazônica. "Nós estamos com projetos grandes para fazer um monitoramento mais amplo com algumas fundações do Norte do país sobre a questão do desmatamento", adiantou Lacerda. O primeiro filme, um documentário sobre a biodiversidade da Amazônia, foi lançado em 2009.



Clima - A falta de uma sinalização clara sobre a inclusão das questões climáticas nas discussões da Rio+20 é um elemento limitante para os resultados do evento. A crítica é do consultor em gestão ambiental e sustentabilidade Cláudio Langone.



O engenheiro, que foi secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente em 2003, afirma que, "sem avanço no estabelecimento de metas muito fortes para a redução da emissão de gases do efeito estufa, não vamos avançar na economia verde. Economia verde é sinônimo de economia de baixo carbono, que só pode ser obtida com mudanças na matriz de produção e consumo mundial."



Já a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, faz questão de destacar que o objetivo da Rio+20 é discutir o desenvolvimento sustentável e a governança sobre o tema. Segundo ela, temas como as convenções do Clima, da Biodiversidade e da Desertificação - todos discutidos há 20 anos na Rio92 - não serão negociados agora.



"Esses espaços foram instituídos na Rio92, que criou a Convenção das Partes do Clima, por exemplo. A Rio+20 vai discutir o desenvolvimento sustentável, a governança sobre o tema e os objetivos com seu instrumento de confecção, que é a economia verde", disse. Izabella Teixeira explicou que os debates sobre segurança energética, hídrica, alimentar e a erradicação de pobreza, que estão na agenda do evento, vão tratar de outros temas como o do clima.



Langone, no entanto, não acredita que o alerta seja suficiente para colocar o clima como prioridade durante a conferência. Para ele, a Rio+20 vai terminar sem essas definições e o resultado dessa soma, de baixa expectativa com o contexto mundial de crise econômica, pode ser uma resolução final "sem sal".



"Os países que mais poderiam puxar essa liderança são os europeus, que seriam os aliados preferenciais do Brasil nessa questão. Mas a comunidade europeia está limitada pelo contexto da crise. O cenário nublado para os próximos anos impede que os europeus assumam compromissos muito fortes", avaliou.



Para o consultor, os países precisam buscar as brechas de oportunidades que apontem um processo de construção progressiva do desenvolvimento sustentável. Langone acredita que o Brasil deve assumir um papel de liderança nesse debate. "O Brasil tem coisas em escala para mostrar, como na área de energia. O grande avanço da [energia"> eólica é um fenômeno mundial. A parte de construção sustentável é um setor muito consistente aqui, que está gerando oportunidades de negócios e um número significativo de empregos verdes. E ainda temos a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos", enumerou.



Plataforma 20 - Envolver mulheres da chamada nova classe C em iniciativas que tenham como princípio o desenvolvimento sustentável é uma das três propostas da Plataforma 20, documento lançado ontem (31) pela Rede Brasileira de Mulheres Líderes pela Sustentabilidade, sob coordenação do Ministério do Meio Ambiente. O documento será apresentado na Rio+20.



Elaborada pelo grupo chamado Margaridas de Salto Quinze, que reúne cerca de 200 mulheres, entre legisladoras, empresárias, representantes do Judiciário, do Executivo e do terceiro setor, a plataforma apresenta 15 medidas em três áreas. Os objetivos são aumentar o número de mulheres em cargos de gestão, favorecer o empreendedorismo sustentável e o consumo consciente.



Pesquisa apresentada no documento revela que a sustentabilidade é um conceito difícil de ser entendido no dia a dia. Por meio da plataforma, a Rede Brasileira de Mulheres quer focar ações que traduzam o conceito principalmente para a classe C, "em geral, mais influenciada por um padrão televisivo de consumo que não considera certos valores".



"A televisão veicula, digamos assim, os valores do mercado e do gosto popular. Tem muita dificuldade de incorporar novos valores. Por isso, o que a gente quer é um diálogo muito franco e aberto com a mídia para incentivar que a sustentabilidade conste de programas e novelas", disse a secretária de Articulação e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente, Samyra Crespo.



A Plataforma 20 também cita pesquisa mostrando que 70% das compras no Brasil são escolhidas pelas mulheres e diz que é "preciso tirá-las do piloto automático", onde o consumo é "sinônimo de felicidade e identidade pessoal", chamando a atenção para a "melhor escolha de produtos". A entidade defende que essa conscientização se dê por meio de campanhas que valorizem o papel das mulheres nesse processo, com linguagem acessível.



"Não adianta falar às mulheres que comem comida congelada quando chegam em casa para ir à feira comprar produtos orgânicos. Isso está fora da realidade delas. Mas é possível orientar para o não desperdício de alimentos", disse Lúcia Costa, responsável pela pesquisa, que levou o título O que o Brasil Pensa do Meio Ambiente e do Consumo Sustentável - Mulheres e Tendências de Consumo.



O documento para a Rio+20 traz ainda medidas para aumentar o número de executivas em cargos de gestão até 2020, principalmente nos Conselhos de Administração, "inserindo a sustentabilidade no coração dos negócios e das empresas". De acordo com dados da Plataforma 20, de 2.647 posições em diretorias e conselhos fiscais, as mulheres ocupavam 204 em 2011.



Ao defender mais mecanismos de acesso a crédito e aos meios de produção, como a terra, voltado às mulheres, a Rede Brasileira também sugere mais parcerias para aumentar a reciclagem de produtos e mais treinamento para "inserir empreendedoras no comércio justo".

(Agência Brasil)



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