Reciclagem em Belo Horizonte/MG só atinge 7% e pode deixar catadores sem serviço

Data: 13/01/2009

Reciclagem em Belo Horizonte/MG só atinge 7% e pode deixar catadores sem serviço


A crise mundial está atingindo em cheio os catadores de material reciclável de Belo Horizonte. Além de menos produtos disponíveis para coleta, o quilo do papelão que há seis meses custava R$ 0,25 agora vale R$ 0,05. Também caiu de R$ 1 para R$ 0,60 o quilo de garrafa pet.

Ambientalistas e especialistas em coleta seletiva temem que os catadores voltem a mendigar nas ruas por falta de ocupação e geração de renda. Alertam ainda que pode parar no lixo o que poderia ser reaproveitado na reciclagem. Em Belo Horizonte, a quantidade de material reciclado é de 7% do total de lixo gerado na cidade.

Um galpão de reciclagem localizado na Avenida do Contorno, no Barro Preto, Centro-Sul de Belo Horizonte, recebia há dois meses material reciclável de 80 catadores todos os dias. Com a crise, são apenas 30. “Eu gastava quatro horas para encher meu carrinho de papel e papelão, mas agora eu preciso trabalhar até oito horas”, reclamou Ronaldo José Carlos, 35 anos. Além da pouca oferta de material para coletar, ele afirma que os caminhões contratados pela Prefeitura de Belo Horizonte para fazer a coleta seletiva estão passando antes deles e levam tudo.

Trabalhando há 12 anos como catador nas ruas de Belo Horizonte, Ronaldo José alega que até outubro ganhava entre R$ 430 e R$ 450 por mês, mas em dezembro conseguiu apenas R$ 350. Foi por causa da queda na renda que o ex-pedreiro João Medeiros de Mello, 45 anos, desistiu de catar latinhas na Região Sul de Belo Horizonte. “Eu ganhava R$ 4 por quilo, mas os donos de galpões queriam me pagar apenas R$ 1,50”, reclamou. Pai de três filhos, ele afirma que está vivendo de doações de parentes e vizinhos.

O proprietário do galpão, Marcílio Alves dos Santos, 34 anos, que há 18 anos atua no setor, disse que até outubro vendia mensalmente 120 toneladas por mês de material para a indústria, mas agora comercializa a metade. Ele afirma que uma indústria de reciclagem de Juiz de Fora, na Zona da Mata, e outra localizada em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão em processo de concordata por causa da crise.

O coordenador do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável, José Aparecido Gonçalves, consultar da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reciclável, teme que a crise faça com que alguns catadores voltem para as ruas para mendigar. “É um problema social muito sério e que precisa ser olhado pelas autoridades”, reclamou.

Uma das alternativas que José Aparecido aponta é a Prefeitura de Belo Horizonte contratar os serviços dos trabalhadores informais do setor. Ele explica que a empresa contratada no ano passado para fazer a coleta seletiva recebe pelo roteiro percorrido. “O ideal seria que o pagamento fosse pela quantidade. Como isto não acontece, a empresa não tem compromisso de fazer a coleta. Na maioria das vezes, o catador passa e leva o material sem receber nada da prefeitura”, declarou.

Um dos argumentos do líder para convencer a Prefeitura de Belo Horizonte a pagar os catadores é o de que o índice de material que não é aproveitado é de 8% quando a coleta é feita pelo trabalhador informal. Segundo José Aparecido, quando a coleta é feita por caminhões de uma empresa chega a 40% o índice de material que não é aproveitado, ou seja, é lixo mesmo. “Há um apelo social das pessoas em separar material reciclável para o catador”, explicou.
Levantamento feito pela Asmare revela que os cerca de 220 catadores filiados à entidade na Região Centro-Sul recolhem 380 toneladas por mês. Já os outros 480 trabalhadores informais conseguem evitar que 980 toneladas de material reciclável sejam jogados nos aterros.




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