Brasil, o país do futuro_

Data: 01/06/2012
Antonio Carlos Campos de Carvalho

Os cortes realizados no orçamento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação demonstram que o Brasil ainda não conseguiu superar seu destino como país do futuro, um futuro que ficará cada vez mais distante. O orçamento de C,T&I foi cortado em 2011, e novamente agora em 2012, atingindo valores menores que o orçamento de 2010. Para quem, como eu, participou até recentemente dos comitês que julgam auxílios e bolsas para pesquisa no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os novos cortes indicam uma situação ainda mais calamitosa na alocação de recursos para pesquisa, que atingirá de forma mais aguda os jovens cientistas.



Nota-se, aqui, uma primeira contradição do sistema. Enquanto o Programa Ciência sem Fronteiras estimula a formação de novos pesquisadores, o sistema de C,T&I não provê recursos para que esses jovens possam desenvolver seus projetos de pesquisa. Mesmo sem o Ciência sem Fronteiras, o número de doutores formados no Brasil já atinge cifras respeitáveis (mais de 10 mil por ano) demandando que o financiamento a pesquisa seja expandido anualmente para que o País não perca o investimento no capital humano.



Enquanto no Brasil se fala em aumentar a taxa de crescimento e se diminui o orçamento de C,T&I, na China o que se vê é exatamente o oposto. O país planeja reduzir sua taxa de crescimento de 8 para 7,5%, mas aumentará substancialmente seus investimentos em pesquisa. Na área de pesquisa básica o aumento será de 26% sobre o investido no ano anterior, atingindo a cifra de 5,14 bilhões de dólares. Este valor, alocado pelos chineses apenas para pesquisa básica, supera o orçamento global do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. O orçamento global que o governo chinês alocará para ciência e tecnologia em 2012 atinge a cifra de 36,23 bilhões de dólares - um aumento de 12,4% sobre o valor de 2011. Para os programas das Universidades de Elite na China, um programa que deveria ser copiado no Brasil, a expansão de recursos será de 24% sobre o ano anterior.



Dentro da filosofia de que o progresso de uma nação se faz à custa de investimentos em educação e ciência, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, busca "integrar de modo mais estreito ciência e tecnologia com a economia".



No Brasil, onde proliferam economistas nos postos de governo, parece não haver a percepção de que o progresso e o futuro da nação dependem de ciência e educação. O País continua a se comportar como um grande cassino, onde dinheiro se multiplica, às custas de juros escorchantes. Para pagar os juros da dívida os cortes orçamentários atingem indistintamente os investimentos, mesmo aqueles mais essenciais ao progresso do País.



Até o momento, apenas o Ministério da Educação tem sido poupado dos cortes, e a Capes tem de fato conseguido aumentar seu orçamento. A continuar a tendência atual teremos no futuro mais uma invenção genuinamente brasileira, a pós-graduação sem pesquisa, pois enquanto o orçamento da Capes aumenta, o do CNPq e da Finep (para financiamento a fundo perdido) diminuem.



Seguir o exemplo chinês, investindo recursos cada vez maiores em educação e ciência, é o único caminho para garantir que nosso destino não seja o do eterno país do futuro.

Antonio Carlos Campos de Carvalho é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenador de Ensino e Pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia e membro da Academia Brasileira de Ciências.


Jornal do Brasil


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