Desafio do saneamento básico

Data: 31/05/2012

Desafio do saneamento básico





O esgoto é hoje o principal vilão ambiental do país, dizem especialistas do setor. O problema é identificado mesmo em médias e grandes cidades que já dispõem de boa infraestrutura, a exemplo de Sorocaba. Foi aqui que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 11.524 pessoas ainda convivem com esgoto a céu aberto.

O número representa apenas 2,02% dos 571.442 habitantes contabilizados pelo Censo de 2010, mas longe da frieza das estatísticas, é uma parcela bastante significativa de famílias expostas a condições deficitárias de saneamento. Dados do instituto apurados nesse mesmo ano, mostravam que quase 100 milhões de brasileiros ainda viviam sem coleta de esgoto, situação que favorece o surgimento de doenças graves que poderiam ser facilmente evitadas.

Doutor em ecologia pela Universidade de Montpellier, na França, e pesquisador há três décadas da estatal Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Evaristo de Miranda diz que o país só trata 10% do seu esgoto e o restante acaba indo para os rios. Sorocaba, por sua vez, trata quase 98% dos dejetos, um percentual expressivo se comparado com o quadro nacional, mas que mesmo assim deixa milhares de pessoas em situação de risco.

O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) contesta os números do IBGE, mas reconhece que existem 42 pontos sem coleta ou afastamento do esgoto e anuncia que até agosto a cidade vai alcançar 100% na taxa de saneamento básico. A autarquia ressalta que o município ocupa posição de destaque (8º lugar) no ranking do Instituto Trata Brasil. Sobre os 2,02% de habitantes afetados pela falta do serviço de saneamento, o Saae explica que são locais situados abaixo das tubulações, como é o caso de algumas localidades em Brigadeiro Tobias, Parque São Bento 2, parte do bairro Santa Terezinha e até nas proximidades da Estação de Tratamento de Esgoto (ETA) do Saae, no Cerrado. São áreas que dependem de bombeamento ou outra dificuldade técnica.

Ainda analisando os números do IBGE no levantamento de 2010, apurou-se que 172.355 residências têm banheiro ligado à rede de esgoto (96,41%); outros 1.289 possuem fossas sépticas (0,72%) e 917 contam com fossas rudimentares (0,09%). Complementam esses percentuais os 159 (0,09%) que lançam o esgoto em valas e 1.051 (0,59%) despejam os dejetos em rios e lagos.

A parcela de sorocabanos que não conta com saneamento básico, proporcionalmente, é pequena, entretanto são contribuintes que pagam seus impostos e por isso têm todo o direito de cobrar pelos serviços básicos. É o caso da dona de casa Agda Batistela Pereira, moradora da rua Projetada 1, no Parque São Bento 2, que resumiu em reportagem de Leandro Nogueira (pág, A8, edição de ontem), a sua queixa sobre a propaganda do governo municipal sobre o tratamento de 100% do esgoto da cidade: "Isso é propaganda enganosa", disse. É uma reclamação justa de quem encara o problema na porta de sua casa todos os dias.

Só quem convive com o mau cheiro, moscas e dejetos correndo pelas ruas pode avaliar a urgência de uma solução para o problema. É um desafio que a administração municipal terá que assumir para atingir a excelência no saneamento básico da cidade.


Notícia publicada na edição de 30/05/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
FONTE:http://www.cruzeirodosul.inf.br/acessarmateria.jsf?id=391097


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