IEN comemora 50 anos

Data: 25/05/2012


O Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), unidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), está comemorando em maio meio século de existência. Ontem (23), uma cerimônia que marcou a data contou com a presença de praticamente todos os ex-diretores vivos o IEN, além de dirigentes das principais instituições do setor, como a Cnen, representada pelo presidente Angelo Fernando Padilha; Eletronuclear, Indústrias Nucleares do Brasil e centros de pesquisa.



A solenidade foi marcada pela emoção e um dos ex-diretores mais aplaudidos foi Alcyr Maurício, que, após receber uma placa comemorativa, declarou que o Instituto foi o local onde mais se realizou profissionalmente. "Encontrei aqui profissionais de altíssimo nível, interessados em levar o IEN para frente", recorda. O cinquentenário também foi comemorado com a inauguração de uma exposição sobre a história e realizações do IEN e o lançamento da revista comemorativa 'IEN 50 Anos: Tecnologia Nuclear para o Brasil'.



O atual diretor do IEN, Paulo Augusto Berquó de Sampaio, lembrou que a produção constante de ciência e tecnologia é relativamente recente no País, sendo intensificada depois da 2ª Guerra Mundial, e que, portanto, o IEN forma parte do início da C&T no Brasil. Ele também recordou que, cinco décadas atrás, a Ilha de Sapucaia, onde se encontra o Instituto, era usada como depósito de lixo. Berquó comparou a "transformação" do lugar às transmutações da energia nuclear.



História - Em 1962, o IEN foi criado por meio de um convênio entre a Cnen e a Universidade do Brasil (atual UFRJ) para abrigar um pequeno reator nuclear, o Argonauta, e desenvolver tecnologia nuclear. O Argonauta é utilizado para pesquisa e ensino até hoje. Entre as principais contribuições do IEN estão as atividades no âmbito da engenharia de reatores nucleares, produção de radiofármacos (substâncias radioativas aplicadas em medicina) em cíclotron, química de materiais estratégicos, desenvolvimento de instrumentação nuclear e sistemas de confiabilidade humana.



Em 1974, foi instalado no IEN um tipo de acelerador de energia variável chamado cíclotron para pesquisas em física nuclear e aplicações de técnicas nucleares, também em operação até a presente data. Junto com um segundo cíclotron bem mais moderno, inaugurado em 2003, o acelerador é utilizado para a fabricação de três tipos de radiofármacos.



Por sua vez, a área de instrumentação do IEN, em 30 anos de existência, desenvolveu mais de 60 protótipos para a área nuclear, inclusive módulos eletrônicos para as usinas das centrais nucleares de Angra dos Reis. Já o Laboratório de Extração por Solventes, transferido para o IEN em 1992, desenvolveu técnicas de obtenção de materiais estratégicos como urânio e terras raras com alto grau de pureza, enquanto o Laboratório de Interfaces Homem/Sistema (Labihs), que conta com um simulador adquirido da Coreia do Sul, foi inaugurado em 2003 para o estudo de fatores humanos e o desenvolvimento de interfaces.



Projetos - Entre as atividades do IEN, Berquó, que trabalha há 30 anos no Instituto, destaca, ao Jornal da Ciência, o atendimento da sociedade por meio da produção de radiofármacos. "Atendemos a vários hospitais e estamos recebendo recursos adicionais do Ministério da Saúde para expandirmos nossa produção e também para implantar normas de produção cada vez mais adequadas aos padrões de qualidade", detalha.



Ademais, o diretor sublinha o papel da pós-graduação do IEN e também os esforços de outros institutos no resto do País "para pôr em contato profissionais experientes com as novas gerações", com a intenção de "não se perder esse conhecimento". "Além disso, na área de produção de conhecimento, nós estamos nos qualificando na produção acadêmica. No entanto, ainda lutamos muito para que esse conhecimento transborde no setor nuclear", relata.



Ele aponta o envolvimento do IEN no projeto do reator multipropósito da Cnen, destinado à produção de radiofármacos, desenvolvimento de materiais para tecnologia de reatores nucleares e produção de feixes de nêutrons, "muito importante para o estudo de ciências básicas". "É um reator muito agregador", resume.



O diretor do IEN sintetiza a trajetória do Instituto em uma palavra: perseverança. "Perseverança, porque ainda existem obstáculos para se fazer ciência no Brasil, um país com muitas outras urgências. Por um lado, investir em C&T é trabalhar essas urgências, mas numa outra escala de tempo e isso faz com que alguns recursos não possam ser investidos. Porém, de hoje em diante, a palavra relacionada ao IEN seria confiança", conclui.



(Jornal da Ciência)





< voltar