Brasileiro não encontra ambiente favorável à inovação, aponta pesquisa

Data: 24/05/2012

O brasileiro é otimista por natureza. A afirmação, que já virou máxima, também foi constatada em uma pesquisa da General Electric (GE) sobre inovação, feita com 2.800 executivos em 22 países. O empresário que atua no País é o que mais acredita que o ambiente para a inovação está melhorando - essa é a posição de 96% dos entrevistados. No entanto, ele tem os pés no chão quanto ao cenário concreto.


De acordo com a pesquisa, o brasileiro avalia que o ambiente ainda é desfavorável para a inovação. O País ficou na 17ª posição no ranking de percepção do ambiente, com 52 pontos (na classificação, quanto mais próximo de 100 mais favorável à inovação é o ambiente percebido no país), atrás de China, Índia e África do Sul.



Entre os 200 executivos entrevistados no País, 89% responderam que a inovação precisa ser localizada para atender às necessidades específicas do nosso mercado - a média global de pessoas que concordam com essa afirmação ficou em 74% e, em todos os países desenvolvidos, menos de 80% dos entrevistados concordaram.



"Se você consegue resolver problemas locais importantes, a demanda será muito grande e, naturalmente, cria-se uma oportunidade de negócios e de lucro", diz Reinaldo Garcia, presidente e CEO da GE para a América Latina. Ele acredita que o foco local em investimentos em inovação conduz ao crescimento, ainda que não seja bem essa a visão dos empresários em outros países. Garcia exemplifica citando a obtenção de energia por meio de aterros sanitários, presentes em grandes cidades brasileiras. "A GE desenvolveu motores que queimam os gases de aterros sanitários. É geração de energia através de um resíduo. Transformamos lixo em um ativo."



No Brasil, os empresários apontaram o setor da construção como aquele que tem o maior potencial de crescimento impulsionado pela inovação (21%) - para os outros países, a construção aparece em 4º lugar, atrás do setor de energia, de saúde e de telecomunicações. A demanda do setor da construção no País, alavancada nos últimos anos pelos grandes eventos esportivos que serão realizados aqui e também pela expansão de projetos de habitação no governo Lula, ajuda a explicar essa aposta no setor. "A urbanização ainda é uma das necessidades das grandes cidades que existem no País. À medida que essas cidades ficam maiores é necessário ter um plano de urbanização e soluções de construção civil que atendam às suas necessidades. E também há muita necessidade de infraestrutura geral nas cidades do País", explica Garcia.



Para o CEO da GE, um exemplo atual é a necessidade que os prédios têm por capacidade de gerar sua própria energia. "As necessidades aqui são diferentes e, se existe demanda, acabam criando uma indústria de muita inovação voltada para a sua realização."



A percepção dos empresários brasileiros é que falta intensidade e eficiência no suporte governamental à inovação. Somado a isso está o excesso de burocracia, que atrasa o desenvolvimento de iniciativas inovadoras. Garcia cita que o registro de uma patente no Brasil leva cerca de 8,5 anos, sendo que o mesmo processo nos Estados Unidos ocorre em três anos.



Em contrapartida, ele aponta um avanço na última década na atração de centros de pesquisa para o País, o que cria um clima mais favorável à ciência e ao desenvolvimento de novas tecnologias. "O governo percebeu que não pode inovar se não houver pessoas para conduzir esse processo e começou a incentivar a atração de laboratórios e centros de pesquisa", diz Garcia. "Precisamos de cientistas, engenheiros, técnicos. O "Ciência sem fronteiras" e o "Programa jovem cientista" são fundamentais. O jovem precisa pensar em ciência como um assunto legal."



Talvez, por essa mentalidade ainda não ser disseminada, o brasileiro ainda não reconheça o sucesso da alocação de recursos para a inovação em saúde. Apenas 58% acreditam no êxito da inovação na melhoria da qualidade da saúde das pessoas nos próximos dez anos, enquanto 81% dos entrevistados na pesquisa global concordam com tal afirmação. "É preciso descobrir, de fato, as oportunidades que temos no Brasil. Por exemplo, uma área muito importante para qualquer país é a autossuficiência em vacinas. Estamos acordando para isso", diz Garcia.



O executivo da GE acredita que falta iniciativa das universidades, que têm o foco na pesquisa, em fazer uma caça à iniciativa privada para alavancar os seus estudos. "É o setor privado que vai prover os recursos financeiros para levar a pesquisa adiante. Sozinha, a universidade até pode desenvolver projetos interessantes, mas encontrará dificuldade em expandi-los. As universidades estrangeiras estão sempre procurando parcerias. Elas vão atrás disso, está no seu DNA."



Apesar da percepção geral da pesquisa de que o empresariado ainda desacredita em um ambiente efervescente para a inovação no Brasil, Garcia vê um movimento de transição. "Existe o sentimento de que nós podemos inventar aqui, de que não é preciso copiar de fora". Entre os brasileiros, 95% dos empresários que responderam à pesquisa acreditam que a inovação é a principal alavanca para tornar a economia mais competitiva.

(Valor Econômico)






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