A extinção como parte da história da Terra

Data: 24/05/2012

O biofísico Henrique Lins de Barros, que apresentou o livro 'Biodiversidade em Questão' no CBPF, afirma que a sociedade atual vive em constante clima de "medo", que vai desde o temor ao terrorismo à preocupação com a perda de recursos naturais.


"Se não há extinção [de espécies">, não há renovação e a vida se extingue". A afirmação foi proferida pelo biofísico Henrique Lins de Barros, durante seu colóquio no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) ontem (22), Dia da Biodiversidade. Na ocasião, o pesquisador lançou o livro 'Biodiversidade em Questão', publicado pelas editoras Fiocruz e Claro Enigma.



Barros alertou para a tendência de os pesquisadores apresentarem "uma série de estatísticas", "nem sempre confiáveis" quando o tema é biodiversidade e que a ciência é vista ao mesmo tempo como "vilã" (por promover a alta tecnologia) e "a última solução" para as crises. "É uma questão existencial. Somos responsáveis pelo desenvolvimento que está levando à crise global", destaca, lembrando que "é uma situação de variáveis múltiplas, o que torna difícil separar a biodiversidade e mudanças climáticas".



Assim como no livro, o biofísico recordou que parte do "processo de deterioração do meio ambiente" começa na época dos descobrimentos e lembrou que a extinção sempre foi parte da História. Porém, longe de aceitar passivamente os processos de desaparecimento de espécies, Barros responsabiliza também os humanos, já que "os indicadores mostram que a ação antrópica leva a uma extinção mais rápida".



No entanto, ele lembra também que, com o desenvolvimento da ciência e do conhecimento do meio, as espécies foram mais bem caracterizadas. "Ficamos sabendo mais das extinções em comparação com o século XIX ou XVIII. Então, há um pouco de catastrofismo, pois, afinando nossa caracterização, qualquer mudança é notada", pondera.



História da vida - Barros explica que o livro tem como intenção contar, "para um público mais amplo", não especialista, a história da vida na Terra, com suas transformações. Dividida em oito capítulos, a obra começa abordando o problema da perda da biodiversidade e como isso compromete o futuro da humanidade. No segundo capítulo, o autor analisa a chegada dos europeus às Américas e procura mostrar como a preservação da biodiversidade está ligada ao respeito à diversidade cultural.



Em seguida, são apresentados os trabalhos de Lineu, Darwin, Lamarck, Darwin e Wallace, dentre outros. Já os capítulos 5 e 6 são dedicados à idade da Terra e à trajetória da vida no planeta. E nos dois últimos capítulos, são mostrados os fenômenos catastróficos e a atual preocupação com a preservação da biodiversidade, que aponta para uma mudança de hábitos e políticas.



Contradições - O pesquisador ressalta que a sociedade atual vive em contradição e dá como exemplo a busca por um aumento na longevidade humana enquanto, por outro lado, incentiva-se o controle de natalidade. E assegura que o planeta tem capacidade de abrigar mais gente, porém, não com o mesmo padrão de vida de países do primeiro mundo como os Estados Unidos, onde, em geral, se consome mais.



Apesar de sublinhar que a ação antrópica é responsável por uma perda de recursos naturais "sem possibilidade de reparação", Barros pondera que atualmente se vive em constante clima de "medo". "Medo de esgotarmos os recursos terrestres, medo do aquecimento global, medo ao terrorismo. Temos medo o tempo inteiro, apesar de termos menos no Brasil". Para ele, dominar por meio do medo é comparável a educar uma criança usando recursos para assustá-la. "A sociedade está dominada pelo medo. Desde a II Guerra Mundial há uma ameaça de catástrofe", conclui.



(Jornal da Ciência)





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