Senado debate inovação para sustentabilidade

Data: 17/05/2012
Rico em recursos naturais, o Brasil poderá tornar-se líder na chamada bioeconomia, disse nesta terça-feira (15) o diretor de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Paulo Mól Junior. Mas para isso, alertou, o País deverá facilitar o acesso de pesquisadores ao seu vasto patrimônio genético, a partir do qual poderão ser fabricados novos tipos de fármacos, cosméticos e alimentos.



Em audiência pública sobre o tema "Inovação para a Sustentabilidade", promovido pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), o diretor da CNI observou que o Brasil detém aproximadamente 15% da biodiversidade de todo o planeta. Mas até hoje não chegou a catalogar nem 10% das espécies que existem em seu território. A dificuldade de se obter uma autorização de pesquisa do Comitê do Patrimônio Genético, advertiu, acaba motivando a pirataria de espécies genéticas e o registro no exterior de produtos obtidos a partir dessas espécies.



"Ficaria feliz de ver esse tema entrar na agenda do País. Destravar as pesquisas liberaria um eixo espetacular de pesquisas no Brasil, para que possamos trabalhar de maneira sustentável com impactos econômicos relevantes. Aí está um exemplo claro de como a agenda de inovação e sustentabilidade poderia avançar", afirmou Mól durante a audiência.



Ainda durante a audiência, o gerente-executivo de Relações Institucionais do Instituto Ethos, Henrique Lian, observou que a crise econômica atual pode transformar-se em uma "excelente oportunidade" para que chefes de Estado e de governo e atores da sociedade civil, aí incluídos os empresários, repensem o modelo de desenvolvimento. Em sua opinião, os empresários podem passar "de espectadores a protagonistas e agentes sociais de mudança".



"Vivemos um cenário no Brasil em que temos tudo o que o mundo deseja para a nova economia, com recursos renováveis como as marés, terra agricultável e água doce. Precisamos transformar tudo isso em negócios verdes, que seriam nossas vantagens competitivas", recomendou.



Por sua vez, o professor José Carlos Barbieri, da Fundação Getúlio Vargas, ressaltou a necessidade de se observar se as inovações atendem aos três pilares do desenvolvimento sustentável - econômico, social e ambiental. Para ele, o Brasil deveria adotar uma política de inovação para a sustentabilidade.



Durante o debate, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) observou que o Brasil até hoje não conseguiu constituir uma "cultura de inovação". Ainda existem "áreas do setor público", a seu ver, que "não compreendem a necessidade de tratamento diferenciado para a inovação".



Ao concordar com os expositores sobre a importância da biodiversidade para o País, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) pediu ao governo que dê prioridade ao Centro de Biotecnologia da Amazônia, que, como observou, "não funciona". O senador Jorge Viana (PT-AC) disse que a Rio+20 será uma boa oportunidade para que o mundo adote outro tipo de índice - além do produto interno bruto (PIB) - para medir o progresso das nações, incluindo indicadores sociais e ambientais. Por sua vez, o senador Sérgio Souza (PMDB-PR) ressaltou a necessidade de produção de alimentos e de energia com sustentabilidade ambiental.



Metas da Rio + 20 - O potencial econômico da biodiversidade brasileira também foi ressaltado pelo secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre. Ele recordou o exemplo da indústria de beneficiamento do açaí, cujo faturamento já se aproxima daquele obtido pela indústria madeireira. "O Brasil tem que acordar para um de seus grandes potenciais", disse Nobre.



O secretário também falou sobre as metas a serem estabelecidas durante a Rio+20, a serem propostas para o período de duas décadas para a população mundial. Entre elas, estão a garantia de fornecimento de água para todos, agricultura sustentável, acesso ao alimento e redução das emissões de gases.



Durante a apresentação das metas, foi ressaltada a necessidade de consolidação dos pilares social, econômico e ambiental e o funcionamento harmônico entre as três áreas, passo considerado fundamental para o desenvolvimento sustentável do planeta. Outra questão importante sugerida para o sucesso da convenção mundial é que os acordos ratificados entre as lideranças mundiais sejam implementadas em curto prazo.



Um fator considerado primordial, na visão do MCTI, para o sucesso da Rio + 20, é que exista uma interface entre as ferramentas oferecidas atualmente pela agricultura mundial, destinadas ao processo produtivo, com as novas tecnologias proporcionadas pela comunidade científica. A iniciativa é considerada útil para otimizar a produção e evitar desperdícios. A expectativa do ministério é que o evento gere resultados concretos mundialmente nesse setor.



Entre as metas consideradas fundamentais, citadas por Carlos Nobre, estão "o melhor aproveitamento da água segura, com distribuição para 100% da população, já que 1,5 bilhão de pessoas no planeta não tem acesso à água em quantidade e qualidade". Hoje, quase um bilhão de pessoas ainda passam fome crônica no mundo, enquanto um grande número está no processo contrário e sofrem com a obesidade.



Outra meta sugerida é a estabilização da área utilizada pela agricultura mundial. Nos países desenvolvidos, a ciência e tecnologia têm sido as principais parceiras da agricultura moderna, que se caracteriza pelo aumento de produtividade e não pela expansão da área. Nobre citou dois exemplos para ratificar a questão. "Europa e América do Norte, ao mesmo tempo em que diminuíram a área plantada, aumentaram em 50% sua produção. A agricultura competitividade no futuro será a produtiva".



Reduzir em 30% as emissões de gases que contribuem para efeito estufa. A queima de combustíveis fósseis para produção de energia e conversão de área de florestas para agricultura são as maiores contribuições para o aquecimento global, enquanto a produção de energia gera 21% dos gases. O secretário lembrou que o Brasil já possui um programa avançado nesta área, no Ministério da Agricultura, que é o Programa da Agricultura de Baixo Carbono.



Outra meta é reduzir de 70% para 60% o uso da água de superfície na agricultura, pois é o setor que mais utiliza este recurso no mundo. A expectativa é que utilização do volume de água diminua, ao mesmo tempo em que a produção de alimentos aumente, utilizando novos recursos proporcionados pela ciência.



O aumento da utilização das energias renováveis de 13% para 30% foi outro ponto importante apontado pelo secretário. "O Brasil já utiliza 45% de energia renovável, sendo o país com maior potencial de energias renováveis no mundo, incluindo a medição por quilometro quadrado. Em energia eólica, estamos em segundo lugar e biomassa, o maior potencial do mundo, além da solar. Somando todas elas, somos maiores tanto no potencial como na densidade". Nobre lembrou que estudos recentes prevêem que, em 2050, o mundo irá depender de 80% de energias renováveis.



Ele comentou ainda sobre a meta de aumentar o total de áreas protegidas de 5% para 10%, incluindo continentes e oceanos. Nesse quesito, o Brasil está dando exemplo, com a redução do nível de desmatamento. A expectativa é que, até 2020, o País tenha condição de zerar o desmatamento líquido, isso significa que é possível plantar mais árvores em florestas do que desmatar. "Dentro desse prazo é perfeitamente exeqüível, até porque plantar florestas é uma atividade econômica muito importante para o país", ratificou Carlos Nobre.

(Informações da Agência Senado e Ascom do MCTI)





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