Embrapa busca parcerias com o setor privado

Data: 15/05/2012

Até 2013, devem sair da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para merecidas aposentadorias, mais de dois mil profissionais, entre doutores e técnicos. Trata-se de um rude golpe para um corpo de pesquisadores altamente especializados nos mais diversos campos da biotecnologia, formados ao longo dos 39 anos de existência do principal centro de pesquisa da agricultura brasileira. Outros 2,5 mil jovens profissionais já estão em processo de contratação para substituir os funcionários aposentados.


"O desafio, agora, é colocar na cabeça desses novos profissionais o que é a Embrapa, uma empresa responsável pelas principais transformações da agricultura brasileira, focada em soluções inovadoras para tornar o setor competitivo dentro e fora do território nacional", avalia Pedro Arraes, presidente da empresa.



Não é uma tarefa fácil, de acordo com o executivo. Com 47 centros de pesquisas espalhados por todo o País, a Embrapa trabalha atualmente com 1,2 mil projetos de pesquisa, em diferentes segmentos da agricultura, e a cada ano lida com processos de renovação de pesquisas em torno de 250 projetos. "A Embrapa tem que servir como instrumento de diversificação de opções para o produtor rural. E isso exige um esforço muito grande, o que está para além das próprias forças da Embrapa. Em um país como o Brasil, com seus ecossistemas complexos, diferentes microclimas e microrregiões, a Embrapa não vai conseguir atender a todos sozinha. Temos que fazer parcerias com a iniciativa privada", sustenta Arraes.



Segundo relato do ministro Mendes Ribeiro Filho, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as parcerias da Embrapa com o setor privado aumentaram nos últimos anos. São hoje 5.529 contratos de parceria dentro do modelo público-privado. Alguns exemplos são de pleno sucesso. Com a multinacional alemã Basf, a Embrapa desenvolveu a variedade de soja Cultivance, tolerante a herbicidas, já aprovada para cultivo comercial pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).



A experiência de trabalho conjunto com a norte-americana Monsanto tem sido mais frutífera. De 2005 até o início deste ano, a Embrapa já recebeu do Fundo de Pesquisas Monsanto cerca de R$ 29 milhões para financiamento de quase 40 projetos nas mais diversas culturas - milho, trigo, soja, arroz, feijão e para solução de problemas que afetam um grande número de produtores.



"Nossa parceria público-privada caminha em duas vertentes: o financiamento de projetos de pesquisas com biotecnologia e o licenciamento de tecnologias [para soja, milho, algodão, entre outras"> para o banco de germoplasma da Embrapa. Nesse último caso, é um processo longo, demanda muito tempo para geração de pesquisas e de materiais para comercialização", destaca Catharina Pires, gerente de assuntos corporativos da Monsanto no Brasil. Segundo ela, o licenciamento mais antigo é o de soja transgênica cultivada com base na tecnologia RR da Monsanto, aprovada para comercialização pela CTNBio, em 2005.



"A ideia é compartilhar transferência de tecnologia através dessas parcerias. No momento, estamos aprofundando esse tipo de iniciativa para desenvolver novas tecnologias e soluções para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável", destaca Catharina.

O esforço requer muito investimento. A Embrapa, segundo Arraes, tem o privilégio de ter seu orçamento em franco crescimento nos últimos anos. "Inclusive, para fazer novas contratações de pessoal, cujo quadro estava em constante decréscimo", diz. As verbas orçamentárias da empresa, acrescenta ele, passaram de R$ 607 milhões, em 2000, para R$ 955 milhões, em 2005, e este ano giram em torno de R$ 2 bilhões. "Não dá pra dizer quanto vai ser aplicado diretamente na pesquisa [o mercado estima em R$ 200 milhões">, mas é um orçamento bastante interessante", afirma.



Os desafios são cada vez maiores, avalia. Entre as prioridades da empresa para este ano, para "uma agricultura mais verde", estão o Programa AgroPensa, um núcleo de inteligência estratégica para nortear os projetos de pesquisa, as inovações para o setor sucroalcooleiro e energético, e o lançamento do programa Conserva Brasil, que tem a missão a longo prazo de conservar a biodiversidade brasileira. "O Brasil tem que avançar muito em várias áreas, e a Embrapa pode contribuir bastante. Mas isso custa dinheiro e precisamos manter ou aumentar esse orçamento", diz.



A participação do setor privado nas instituições públicas de pesquisa é bem vinda, sem dúvida, garante Arraes, mas não se deve ter muitas ilusões. Mesmo o principal instituto de pesquisas agronômicas dos Estados Unidos não recebe mais do que 14% da iniciativa privada, assinala. "A Embrapa busca ferozmente atingir um patamar de participação do setor privado na faixa de 5% a 10%, porque isso nos daria mais flexibilidade de recursos fora do tesouro nacional e mais apoio para atender as demandas de toda a cadeia produtiva", diz Arraes.

(Valor Econômico)





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