Sustentabilidade é saber o que usar, quando usar e como usar

Data: 04/05/2012
Formada em engenharia química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cristina Moreno dedicou anos de sua vida às atividades empresariais, com destaque para o setor de papel e celulose. Atuou nas áreas de tecnologia da informação, processos de fusão, aquisição e sustentabilidade. Após aposentar-se, decidiu ir em busca de um mundo mais justo, harmonioso e sustentável, então, Cristina se tornou uma voluntária da Carta da Terra. Hoje ela é a coordenadora da iniciativa no Brasil.

A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos que busca construir uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. O documento é estruturado em quatro grandes tópicos:

* Respeito e cuidado pela comunidade da vida;
* Integridade ecológica;
* Justiça social e econômica;
* Democracia, não-violência e paz.

A carta busca inspirar as pessoas e diferentes setores da sociedade para um novo sentido de interdependência global. Em entrevista ao EcoDesenvolvimento.org, a coordenadora Cristina Moreno explica o significado da Carta da Terra e até onde a iniciativa quer chegar.

EcoD - O que é sustentabilidade para Cristina Moreno?

Cristina Moreno – Vou fazer uma brincadeira! Na verdade, a sustentabilidade é a gente viver exatamente daquela maneira que, quando éramos crianças, deveríamos viver: respeitando e cuidando de todos e de tudo aquilo que a gente partilha.Sustentabilidade

EcoD – E de que maneira podemos alcançar à sustentabilidade?

CM – A Carta da Terra nos convida a perceber duas coisas importantes. A primeira é que a gente está procurando um universo sustentável. Ele só será possível se tivermos países sustentáveis, organizações sustentáveis e famílias sustentáveis. Por isso, é importante que todos façam a sua parte.

A outra é o compilado de princípios éticos, com uma visão absolutamente sistêmica. Uma das coisas que talvez seja difícil para a conquista da sustentabilidade, seja olharmos a temática de maneira fragmentada, o que não é. Esse olhar permeia todos os segmentos que estão expressos nos quatro pilares da carta.

EcoD – A Carta da Terra, então, é um documento de orientação?

CM – Sim. Uma maneira mais amorosa da gente cuidar do planeta Terra e de todos aqueles que aqui habitam. Uma espécie de cartilha.

EcoD – E como entender os quatro pilares da carta?

CM – Primeiro é preciso entender que a carta tem dois momentos. Ela é um documento e um movimento. Esse movimento são as ações realizadas para que o documento não seja esquecido. A carta retrata a vontade de um mundo melhor. O pilar central é o de respeitar e cuidar da comunidade divina, onde realmente está todo o conceito do amor, além de estar imbuída a gratidão pela Mãe Terra.

EcoD – Mas como fazemos para cuidar da comunidade divina? Para isso a gente tem o segundo pilar: a integridade ecológica. Nele olhamos a ecologia em total profundidade. Este é destinado às empresas, que precisam refletir sobre as ações que realizam.

CM – O terceiro pilar é a justiça social e econômica. Não dá pra gente ter uma integridade ecológica se as pessoas que vivem neste universo não têm acesso justo e sustentável às coisas.

E tudo isso só vai ser possível se a gente tiver o quarto pilar que é democracia, não a violência e paz. E o que é o bacana da carta? É que não importa muito de qual pilar a gente vem, porque vamos percorrer todos os outros.

EcoD – Como foi processo para elaborar a carta?

CM – Ela foi feita através de uma consulta que demorou oito anos para ser elaborada. A ação avaliou os povos da terra, desde cientistas e organizações, a tribos indígenas. Por isso, retrata essa vontade do mundo melhor. Ela começou a ser rascunhada durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, mas só foi concluída em 2000. O lançamento aconteceu em junho daquele ano, no Palácio da Paz, com direito a presença da rainha Beatrix da Holanda.

EcoD – Depois de um tempo foi criada a Carta da Terra Internacional (CTI). Esse foi o início do movimento de para que a carta não fosse esquecida?

CM – Exato. Nossa preocupação era não perder a carta, pra que não fosse apenas mais uma declaração. Assim, reunimos um grupo de voluntários para formar um conselho, que hoje tem um pequeno núcleo na Universidade da Paz, na Costa Rica. Montamos uma estrutura para revisar as estratégias para manter sempre viva a Carta da Terra.

EcoD – Como as pessoas podem contribuir com esse desenvolvimento no dia a dia?

CM – Esse é um exercício que requer duas coisas: muita humildade para entender que não somos o centro das coisas, mas que somos parte desse bem maior. E requer muito desprendimento porque, no fundo, o que a gente está pedindo? Eu não quero abrir mão dos avanços tecnológicos que temos, mas precisamos entender como estamos usando esses avanços.

A grande dificuldade da mudança é sair do patamar que a gente está acostumado para ir pra outro, e isso envolve espiritualidade. Digo “espiritualidade” por significar cuidar do bem comum, onde estamos acima das coisas materiais. Esse é o trabalho de cada indivíduo, começar a abrir mão do que não precisa ter, vivendo com mais integridade.

EcoD – Carta da Terra e a Rio+20. Quais as expectativas?

CM – Primeiro de tudo, perceba que a ideia começou na Eco-92, o pessoal tentou fazer com que a carta virasse um documento da cúpula, porém ela só foi rascunhada. Hoje ela é um documento, então é mais que lógico que a carta esteja presente neste momento, 20 anos depois e no Brasil, exatamente onde ela começou a ser elaborada. Segundo que, vários conselheiros da carta estarão presentes no evento. Mas, o mais importante é o trabalho que está sendo feito nessas ações preparatórias da ONU. Estamos tentando introduzir a carta como um marco ético para as questões de economia verde. Essa é a nossa grande vontade!

(EcoD)




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