Uma maneira diferente de ensinar

Data: 02/05/2012
A importância de repassar conhecimento às crianças e jovens como se fosse uma diversão. Centenas de anos depois, a prática ainda não é uma regra, mas está se tornando parte da rotina de alguns pesquisadores e estudantes em diversas partes do Brasil e do mundo. E no Norte do País não é diferente, segundo conta o diretor do campus Oriximiná da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Domingos Picanço Diniz.



Diniz apresentou a palestra "A Inclusão da Formação Científica no Ensino Básico" no último sábado (28) durante a Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorreu no fim de semana em Oriximiná (PA). Ele mostrou um modelo de curso de graduação de professores onde ensino, extensão e pesquisa se aliam de forma orgânica, visando otimizar o máximo a formação do aluno do ensino básico. É o chamado Programa de Ação Interdisciplinar (PAI), que, no caso de Oriximiná, foi aplicado em 80% das escolas urbanas.



O PAI funciona da seguinte forma: pesquisadores orientam alunos de graduação (no caso do modelo aplicado, alunos de licenciatura e bacharelado de Ciências Biológicas) a repassarem conhecimento para alunos de ensino básico de uma forma diferente. Isso inclui das clássicas experiências científicas fora da classe a atividades culturais como teatro, jogos e confecção de histórias em quadrinhos. Tudo para despertar o interesse pela ciência.



Curiosidade e vislumbre - "Desenvolvemos o trabalho para o público infanto-juvenil, fase da vida em que a curiosidade e o vislumbre do mundo começam a inquietar a mente deles", conta Diniz. "A pergunta é fundamental, é o carro-chefe do programa. No PAI é proibido não perguntar. Portanto, os alunos de graduação têm que se habituar tanto às perguntas [dos alunos"> quanto à ausência delas", conta o professor.



Ele lembra que quando o aluno passa a ser "parte do processo de construção do conhecimento" é mais fácil o "despertar da investigação". E para o monitor, as vantagens são muitas, pois ele aprende a gerenciar conhecimento novo, a sistematizar, a trabalhar verdades científicas para executar o conteúdo. As famílias acabam se beneficiando também, já que o jovem ou criança passa a levar o conhecimento para dentro de casa e até "criar um novo comportamento" no seio familiar, "produzindo ações que resultam em qualidade de vida".



Diniz divulgou resultados muito positivos. 97% dos pais dos alunos afirmam que o interesse pelos estudos aumentou desde que os jovens entraram no programa. O palestrante acredita que educar as crianças e adolescentes é muito mais fácil do que os adultos, pois os primeiros estão "ávidos e não têm medo", enquanto o adulto é mais resistente. Ele alerta para o "perigo" de uma sociedade analfabeta cientificamente, lembrando que elas criam um ambiente propício para o aparecimento de totalitarismos, por exemplo.



Parfor - Por outra parte, o professor do Instituto de Educação Matemática e Científica da Universidade Federal do Pará (UFPA), Licurgo Brito, apresentou um tema afim: "O Plano Nacional de Formação Docente (Parfor/Capes) na Amazônia". Cedido para a Secretaria Estadual de Educação do Pará, ele hoje coordena o Parfor no estado.



Brito apresentou os desafios da formação de professores desde a visão acadêmica e gerencial. Entre elas, as mudanças de paradigmas na educação. "Antes, para ser professor, bastava saber o conteúdo. Hoje, é preciso saber para quem, onde, para quê e como esse conhecimento será repassado", conta.



Ele também apresentou alguns dados recentes sobre a situação dos professores de educação básica no Brasil. Em 2010, existiam cerca de dois milhões de professores nessa área, sendo 82% deles na rede pública. "67% deles têm nível superior. Ou seja, são 600 mil que não têm graduação", alerta. No Pará, são 73 mil professores de educação básica e 91% deles estão na rede pública. E menos da metade tem nível superior: 46%.



Brito conta que o Parfor tem grande parte de sua adesão no Norte (48%) e Nordeste (42%), restando ao Sul, Sudeste e Centro-Oeste os menores índices de matrículas: 4%, 5% e 1%. "Não é por falta de necessidade que estas regiões têm poucos inscritos no Parfor. Isso se deve ao desespero do Norte e Nordeste, que têm ânsia por ascensão e melhoria", justifica.



(Jornal da Ciência)






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