Um legado científico para o Pará

Data: 27/04/2012

O Programa LBA de Santarém, tema de palestra na próxima Reunião Regional da SBPC que começa amanhã, representa um marco no estudo científico do oeste do estado.


Ele foi responsável pela criação do primeiro curso de graduação em Física Ambiental do Brasil. Ajudou a elaborar e aprovar o primeiro projeto de mestrado da região de Santarém (PA) e em 2012 participou da criação do primeiro curso de doutorado da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Tudo isso teve a influência do Programa LBA, que nasceu do Experimento Larga Escala na Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA) e vem marcando uma nova era científica no oeste do Pará.



O trabalho do LBA de Santarém, um dos escritórios do programa, será tema da palestra do pesquisador e coordenador científico do LBA na região, Rodrigo da Silva, na Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que começa amanhã (26), em Oriximiná (PA). O público-alvo almejado, segundo Silva, são os estudantes de ensino médio, apesar de ele acreditar que haverá interesse dos alunos de graduação também.



"A ideia é apresentar primeiro a importância do programa no Brasil, país que tem papel de liderança nessa pesquisa. A segunda parte será especificamente sobre o que está acontecendo em Santarém, mostrar para eles que [o trabalho"> é real, é concreto e palpável", conta o pesquisador, que acredita que uma das principais funções do LBA é despertar o interesse dos futuros pesquisadores.



Treinamento em educação - Silva explica que o programa tem vários componentes científicos temáticos, como os que tratam da Física, da Química, das dimensões humanas, do uso e ocupação das terras da Amazônia, por exemplo. Mas, em sua opinião, o componente mais importante é o de treinamento em educação. "É o verdadeiro legado para o futuro da ciência", acredita.



Ele revela que o setor de treinamento em educação do LBA está em Santarém, mas que o componente existe em todo o programa, que tem escritórios no Acre, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Pará, Rondônia, São Paulo e Tocantins. "O LBA de Santarém está servindo como catalisador para uma revolução científica de conhecimento na região", ressalta.



Atualmente, o LBA de Santarém tem seis grandes projetos ou macroprojetos, a partir dos quais nasceram por volta de vinte subprojetos (como teses e dissertações). São cerca de 40 pesquisadores da região, muitos deles atuando em mais de um projeto, mas se forem considerados os estrangeiros envolvidos, as pessoas que vão de Belém, Manaus e outras cidades, há cerca de 100 profissionais trabalhando no LBA de Santarém. "Além da UFOPA, temos o núcleo do Inpa, da Embrapa, além de pesquisadores das universidades privadas que participam", detalha Silva.



Agricultura, rios e raízes - O projeto de Silva, por exemplo, já rendeu cinco dissertações, uma tese e duas supervisões de pós doutorado. Financiada pelo CNPq, a pesquisa está avaliando o impacto ambiental nas trocas de energia e massa nos diferentes usos da terra na região. "Estudamos como a conversão da floresta em campo agrícola, para produzir soja ou milho, impacta esses fluxos de massa e energia; é uma questão fundamental para o controle climático", exemplifica.



Outro macroprojeto está relacionado à maneira como os grandes rios influenciam, por meio de suas circulações próprias, as quantificações de troca de carbono entre ecossistema terrestre e atmosfera. Silva lembra que o rio Tapajós, por exemplo, por ser muito grande, tem uma circulação que consegue barrar ventos alísios. Além dos rios, também são estudados lagos e regiões alagadas, que podem funcionar como sumidouros ou emissores de carbono.



A Embrapa está conduzindo outro dos macroprojetos, uma pesquisa sobre o impacto do nitrogênio na agricultura da região. Sua deposição na floresta está afetando negativamente o cultivo, os lençóis freáticos, os igarapés, entre outras implicações ambientais. O sensoriamento remoto frente a eventos extremos (como o El Niño) na floresta e a dinâmica das raízes também são temas chave para o desenvolvimento dos projetos de Santarém.



"Nós viemos residir aqui com a certeza de que mudaríamos a atmosfera científica da região. Não daria para ficar só atuando no curso de Física Ambiental porque todo potencial da infraestrutura de pesquisa que existe em Santarém é muito grande", conta Silva.



Números - O LBA passou de experimento a programa de Governo em setembro de 2007, marcando uma nova era em sua trajetória. O trabalho, que havia começado em 1998, era mantido por acordos de cooperação internacional (com instituições como a Nasa), gerenciado pelo MCTI e coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A transformação em programa governamental renovou sua agenda científica e hoje o LBA, ainda sob a coordenação científica do Inpa, é uma das maiores experiências de ciência do mundo na área ambiental, com cerca de 150 projetos (2/3 deles finalizados), que contaram com a participação de mais de 280 instituições nacionais e estrangeiras.



Em quase 15 anos de pesquisas, mais de 500 mestres e doutores brasileiros foram formados no LBA. O número de cientistas brasileiros envolvidos ronda 1500 e cerca de outros 1000 vieram de países amazônicos, de nações europeias e dos Estados Unidos. O programa tem três grandes áreas integradas: a interação biosfera-atmosfera, o ciclo hidrológico e as dimensões sócio-políticas e econômicas das mudanças ambientais.



O LBA tem contribuído para melhorar, por exemplo, os modelos de previsão climática; para medir as emissões de carbono das hidrelétricas na Amazônia e o potencial uso do metano para geração de energia elétrica adicional nas usinas e para realizar novas medidas reais de densidade da madeira no sul da Amazônia.



Apesar dos bons resultados, Silva conta que os cortes no orçamento do MCTI em 2012 ameaçam o funcionamento do LBA. No caso do escritório de Santarém, o recente apoio da Ufopa é importante, já que a universidade pode ajudar a reduzir custos operacionais, como aluguel e utilização de telefone e internet, abrigando os escritórios.



Jornal da Ciência





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