O papel das fundações de apoio é muito importante nesse novo cenário da inovação

Data: 13/04/2012

Confira a entrevista da presidente da SBPC, Helena Nader, no Informativo da FAI-UFSCar.


O Brasil passa por um novo momento em que a inovação deve ser vista como um dos pilares na construção de um país sócio-economicamente sustentável. As fundações de apoio têm um papel fundamental neste cenário, mas para isso elas precisam repensar sua posição nesse ambiente inovativo. Essa é a opinião da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader. Professora titular da Unifesp, membro titular da Academia de Ciências de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências, entre outras atribuições, Helena esteve no 29° Encontro das Fundações de Apoio, realizado em novembro, em Manaus, representando a SBPC. Na entrevista a seguir, Helena fala sobre o papel da SBPC, o cenário científico e tecnológico e as fundações de apoio neste ambiente



Qual o papel da SBPC na história da ciência e tecnologia no Brasil?

A SBPC foi criada em 1948 por um grupo pequeno de cientistas e também amigos da ciência. Ela começou em uma época em que o mundo estava se rediscutindo, pensando nas novas demandas e rumos que deveria tomar e, sobretudo, o papel que a ciência viria a ter para atender essas novas expectativas. Ela teve a função de congregar pela primeira vez cientistas do País. A partir dela começam a surgir novas sociedades científicas, que divulgavam seus dados científicos na reunião da SBPC. Ela cresceu de tal maneira que não tinha espaço e tempo para atender a todas as sociedades e elas começaram a sair e montar seus próprios congressos. Em meados da década de 60 começa a ditadura e a SBPC entra em uma outra fase: ela se torna uma voz firme contra o regime, abrindo espaço para a discussão democrática. Gosto de recordar que em 1977 a SBPC iria fazer sua reunião anual na Universidade Federal do Ceará e foi proibida. Tentou-se mudar para a USP, mas também foi proibido. Então Dom Paulo Evaristo Arns autorizou o evento na PUC. Nesta fase a SBPC teve ênfase na política, não a científica e sim a voltada à redemocratização. A SBPC nunca deixou de ter um papel político científico importante, por exemplo, na a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (1985).



E como a SBPC está atuando hoje?

O papel continua sendo o de interlocutor. Representamos mais de 100 sociedades científicas. Temos cada vez mais uma presença constante dentro do cenário político pela defesa à educação, saúde e ciência. O governo, em todos os níveis, reconhece isso. Em Brasília somos chamados para opinar em diversos assuntos. A nossa bandeira é a educação, ciência, tecnologia e entrou a inovação. Na nossa visão isso é uma cadeia.



Como a senhora avalia o governo no tratamento dessas questões?

O governo FHC teve acertos e erros. Acertos, podemos citar a criação dos fundos setoriais. Por outro lado, o ministro da Educação, Paulo Renato, foi trágico para a universidade brasileira. Ele tinha uma visão de que o investimento tinha que ser só no ensino básico, fundamental e médio. Ele errou. Se não faz a cadeia (educação, ciência, tecnologia e inovação) ela quebra. Aí vem o governo Lula e entre os acertos eu coloco o de investir ainda mais. Ele enxergou que a cadeia estava quebrada, então criou a expansão do sistema terciário, entraram as escolas técnicas e ensino superior. A SBPC, na gestão do Marco Antonio Raupp (atual ministro de CTI) começou a batalhar pela criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Este é um projeto que foi amplamente discutido pela SBPC.



A inovação está na agenda política.

Por isso que a sigla é "Empresa Brasileira", em analogia com a Embrapa, que deu certo. Esse agora é o papel da inovação, que tem que ser articulado com as universidades. Temos gargalos muito graves, temos legislações boas, porém as interpretações são complicadas.



Atualmente temos um cenário com uma boa posição do Brasil na produção de artigos, mas com uma posição inferior quando se analisa o fator inovação.

Vai ficar pior. Eu vejo que, infelizmente, no Brasil de hoje existe uma diferença entre o discurso e a prática. Diz-se que se quer inovação, cobra-se das universidades e das empresas a inovação. Tudo isso custa. Não se inova do zero. Inova se tem ciência e desenvolvimento de tecnologia. A não ser que inovar seja comprar o pacote do exterior. Eu não acho que produzir o tablet em SP é inovar. Qual nosso produto? O Brasil inovou na agricultura.



Universidades e empresas não estão conversando?

Não estão conversando em alguns aspectos e as empresas têm que ter motivação. O Brasil tem que fazer o que a China e Índia fizeram: investimento e obrigação. Nesses países as empresas têm a obrigação de contratar doutores e produzir ciência. Qual carro brasileiro temos? Qual computador brasileiro temos?



Temos editais públicos na área de inovação voltados às empresas. O que falta?

Não podemos ser autossuficiente em tudo. Deveríamos selecionar algumas áreas em que já temos alguma competência científica que pode embasar essas inovações e fazer parcerias. Tem que ter alguém para fazer essa intermediação. Precisamos de cultura e formação. A educação nossa é muito recente.



Considerando este cenário de inovação, a parceria entre setor produtivo e universidades, como a senhora vê as fundações de apoio?

As fundações de apoio também são algo recente e não foi trivial elas serem aceitas dentro da comunidade acadêmica porque muitos achavam que estavam relacionadas com a privatização. A fundação teve que primeiro se estabelecer como fundação de apoio, ajudar no dia a dia da universidade, o que não incluía tecnologia e nem inovação. Ela dava força na educação e ciência. O papel das fundações nesse novo cenário é muito importante.



As fundações precisam repensar seu papel nesse ambiente inovativo?

Sim, além de capacitar seu pessoal. Eu acho que a fundação pode e dever dar um retorno no que diz respeito às pessoas que a universidade precisa formar. Ela pode ser mais proativa.



Esta foi a primeira vez que a SBPC participou do Encontro das Fundações de Apoio. Como a senhora vê esse convite do Confies?

Eu vejo mais um parceiro que fala a mesma língua. Não é porque a fundação está ligada à universidade que deve ser vista como uma extensão. Ela tem sua autonomia. O papel das fundações é fundamental.



FAI-UFSCar





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