Cientistas reunidos em Londres debatem propostas para a Rio+20

Data: 28/03/2012
Cerca de 2,8 mil especialistas de todo mundo estão reunidos em Londres para participar do "Planet Under Pressure" ("planeta sob pressão"), que começou ontem (26) e vai até quinta-feira. O objetivo é reunir cientistas da área ambiental para tentar influenciar a pauta de discussões da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio. Uma nova ferramenta vai ajudar os pesquisadores a entender melhor o aquecimento global. Londres abriu nesta segunda-feira o Centro de Medição de Carbono (CCM, em inglês), que permitirá obter dados mais precisos sobre as emissões de CO2.



Organizado pelos programas da ONU ligados à área ambiental - International Programme of Biodiversity Science (Diversitas), International Human Dimensions Programme on Global Environment Change (IHDP), World Climate Research Programme (WCRP) e International Council of Scientific Unions (ICSU) -, o Planet Under Pressure deverá gerar uma carta de recomendações para a Rio+20 baseada em todo o conhecimento científico disponível acerca das mudanças climáticas. Um vídeo, publicado nesta segunda-feira, mostra como ocorreu um grande aumento dos lançamentos de gases-estufa no mundo nos últimos anos.



"Será a última oportunidade de manifestar nossos pontos de vista e questionamentos. Destacar que a ciência já avançou o conhecimento e tem contribuições significativas para dar às discussões ambientais. Tentaremos evitar que a Rio+20 se torne um evento puramente político", disse Carlos Joly, coordenador do programa Biota-Fapesp e diretor do Departamento de Políticas e Programas Temáticos da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em nota divulgada pela Fapesp.



O documento oficial que será discutido na Rio+20 ainda está sendo formulado. Mas seu primeiro rascunho já foi divulgado, tendo sido considerado excessivamente genérico pelos pesquisadores da área ambiental.



Novos dados pretendem sensibilizar os diplomatas negociadores para chegar a acordos mais ambiciosos. Estudo publicado neste domingo na revista "Nature Geoscience", por exemplo, indica que o aquecimento global deve ser mais severo do que se sabia até então. Cerca de dez mil simulações, muitas das quais feitas em computadores pessoais de voluntários dentro do projeto climateprediction.net, indicam que as temperaturas globais podem subir entre 1,4 e 3 graus em 2050.



O CCM também pretende influenciar as discussões ambientais, produzindo dados mais precisos sobre os efeitos das mudanças climáticas, além de desenvolver tecnologias limpas para o meio ambiente. Os especialistas vão verificar se produtos desenhados para ter baixas emissões de CO2 estão cumprindo este objetivo.



"Os dados das estações terrestres e dos satélites são inseridos em modelos científicos para chegarmos às conclusões acerca do aumento do nível do mar e de outros impactos sobre o clima", disse Jane Burston, diretora do CCM. "Portanto, quanto melhor sejam os dados, mais confiáveis serão os modelos e as previsões".



Críticas - O representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) na Conferência Planet Under Pressure, em Londres, Carlos Joly criticou duramente, na abertura da reunião, os preparativos do Brasil para a organização da Rio+20. "Esperávamos mais dos documentos e da agenda oficial do encontro", afirmou. "Entendo que não é uma conferência ambiental, mas sim calcada nos três pilares, social, econômico e ambiental. Porém, o que está acontecendo é que clima e biodiversidade, por exemplo, estão de fora da conferência. Está faltando ciência. Estamos perdendo espécies num ritmo sem precedentes, somos um dos países de maior biodiversidade, e não estamos cobrindo isso bem na Rio+ 20. Vale lembrar que não teremos os pilares econômico e social sem o ambiental".



Joly afirmou ainda que está faltando peso político à conferência. Segundo ele, dos 60 chefes de estado que já confirmaram presença, a grande maioria é da América Latina e da África. "Os mais importantes [neste tema"> não estão lá. Os que têm peso político, como EUA, União Europeia, China, Japão [não confirmaram presença">. E essa será uma oportunidade única, não podemos esperar mais 20 anos", declarou.



O representante do MCTI disse que o rascunho (draft zero) do documento que a ONU levará para as negociações da Rio+20 é vago demais. "O Brasil tem um corpo diplomático reconhecido por sua capacidade de negociação e de articulação. Como anfitriões, deveríamos nos colocar mais presentes, ter um papel diferenciado, estar liderando mudanças. Precisamos de um esforço conjunto para evitar um fracasso. Por exemplo, se os chefes de estado estiverem lá e concordarem que o planeta tem limites que devemos considerar, entender e respeitar, já é meio caminho andado, mas sem isso, fica muito difícil", disse.

(O Globo)





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