Por uma macroeconomia ambiental na Rio+20

Data: 01/02/2012

Mário Ramos Ribeiro


O Brasil não possuirá a Amazônia através de armas ou de mapas ou de discursos ufanistas. Não adianta acordar invocado! Faz-se urgente uma revolução tecnológica na Amazônia, uma macroecomia ambiental capaz de produzir conhecimento, inovação, tecnologias próprias e também customizar as tecnologias dos países mais desenvolvidos para gerar crescimento sem entropia.



O governo federal - desde as sesmarias, registre-se - não tem uma ação concertada para a Amazônia. Existem projetos isolados e ações desconectadas, que vagam, ad libitum, sobre o espaço amazônico. Se o resto do mundo, em especial, os países mais ricos, sabe mais sobre a região do que os brasileiros, sem dúvida alguma a falta de concerto entre a intenção e o gesto é uma das principais causas.



Conhecimento é poder e este é incompatível com o vácuo político, com a falta de apetite da União para exercê-lo, nem com a transferência desta responsabilidade para os governos estaduais. No que se refere à Amazônia, faltam ambos, a tal ponto que "qualquer aventureiro poderá vir a fazer uso da coroa" por aqui. O fato é que nem o Brasil, nem nós - gente da Amazônia - conhecemos e, consequentemente, desejamos, podemos tornar e manter brasileira a Amazônia - "A última página do Gênesis", como escreveu Euclides da Cunha.



À medida que nos aproximamos da Conferência da ONU em junho de 2012 - a Rio+20 - e nos distanciamos de Copenhague - a malograda reunião sobre a mudança climática em dezembro de 2009 e que substituiria o Protocolo de Kyoto - prossegue a pressão internacional pela interrupção de atividades econômicas tradicionais na região, chegando a beirar a hostilidade.



O jornal Financial Times (05/05/2011) revelou a expressão que vem sendo usada frequentemente contra quem tem a "ousadia" de fazer qualquer ponderação contra a ecolatria dominante: "climate change deniers". Ao pé da letra seria apenas os que "negam, contestam ou são contra a mudança climática". Mas como bem nota o jornalista Gideon Rachman, a expressão está sendo usada em tom pejorativo: "a frase - escreve Rachman - 'contestador das mudanças climáticas', traz uma aura desagradável. Relaciona os que contestam a corrente científica principal sobre o aquecimento global com os 'contestadores do holocausto'". O bordão dominante grita: é proibido pensar!



Falta foco nas políticas públicas voltadas para a Amazônia. É fundamental que se veja o todo (a macroeconomia ambiental) para então descer aos detalhes (a ação de política econômica). Há muita energia desperdiçada, muito esforço pulverizado. Mas para onde deve ser apontada a mira? Para que ponto devem convergir as ações voltadas ao interesse nacional de abrasileirar a Amazônia?



A maioria dos estudos técnicos e científicos que trata do fenômeno do crescimento econômico, bem como a experiência histórica dos Estados Unidos, da Ásia e do velho mundo identifica um "ativo intangível" como o responsável pelo crescimento com integração: a inovação tecnológica (cf. Aghion, P. e Howitt, P., "The Theory of Endogenous Economic Growth", CUP, 1989, bem como os estudos disponíveis nos sítios eletrônicos da OCDE, do Banco Mundial e do Bureau de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos).



Se não quisermos reinventar a roda é para a inovação tecnológica que devemos apontar o binóculo. A Amazônia não está entre as regiões do planeta com capacidade de gerar tecnologias de ponta. Mas seguramente precisa ser transformada em um polo que possa pelo menos absorver as tecnologias já existentes.



O núcleo da política pública deve ser promover a inteligência, gerar inovações e difundi-las de forma racional. Tudo o que existe como projeto para a Amazônia deve passar pelo teste: produz conhecimento? Induz a inovações? Tudo que não se enquadrar dentro da estratégia de ação concertada para acelerar o crescimento com integração a partir de núcleos de conhecimento inovador deve ser esquecido.


Mário Ramos Ribeiro é doutor em Economia pela USP, docente da UFPA e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa).

Jornal da Ciência

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