Inovação é fundamental para as PMEs crescerem

Data: 23/11/2011

Responsáveis por cerca de 20% do PIB, por 60% da mão de obra empregada e representando 90% das empresas instaladas no País, as pequenas e médias empresas têm um papel fundamental no Brasil e sua competitividade é estratégica.


Luiz Barreto, presidente do Sebrae Nacional, avalia que os indicadores vêm melhorando nos últimos anos. "Isso pode ser visto pelo aumento nas taxas de sobrevivência das empresas nos dois primeiros anos de existência", diz. "Há uma década, apenas metade das empresas sobrevivia a esse que é o período mais crítico para a empresa. Hoje, 73 a cada 100 empresas ultrapassam os dois primeiros anos de atividade no País."



Barreto sabe, no entanto, que é preciso avançar mais e para isso é preciso estimular a inovação no âmbito das PMEs. Somente em 2011, o Sebrae já atendeu mais de 30 mil pequenas empresas com projetos de inovação, inclusive com os chamados Agentes Locais de Inovação, consultores que procuram ativamente as empresas para oferecer soluções. Além disso, por meio de programas como o Sebraetec, o serviço de apoio à pequena empresa subsidia em até 90% o custo de pequenos empreendedores com projetos de inovação.



O esforço ainda esbarra em uma resistência cultural dos próprios empresários, conta Barreto. "Muitas das pequenas empresas ainda veem a inovação como algo distante da sua realidade, o que não é verdade", diz o presidente do Sebrae. "Inovar é uma necessidade, em especial para os pequenos negócios que já estão há mais tempo no mercado, que precisam se renovar. Ainda existe uma barreira cultural de se achar que basta a experiência para se tocar o negócio", lamenta.



A inovação - defende Barreto - será fundamental para que as PMEs brasileiras aproveitem ao máximo o bom momento da economia.



Para Marco Tulio Zanini, coordenador do Mestrado Executivo da Ebape/FGV, no entanto, isso não é tão simples. Na opinião do economista, o ambiente institucional no Brasil não estimula a inovação. "Além disso, na maioria das pequenas empresas o nível profissional e a qualidade da gestão ainda são baixos", diz. Por esses motivos, acredita, as PMEs no Brasil não chegam a ter o mesmo peso na economia que possuem em países como o Japão e os Estados Unidos. "Temos de reconhecer o esforço do Sebrae, mas ele ainda é insuficiente para criar escala e mudar essa situação."



Zanini acredita que alguns entraves provocados pelo famigerado Custo Brasil têm um peso ainda maior para as PMEs. "A contratação de obra, por exemplo, é um ônus enorme para os pequenos empresários", diz. Por outro lado, também vê a necessidade de mudar a mentalidade dos pequenos empreendedores brasileiros. "A maioria reclama do governo, mas não sabe enxergar sua própria capacidade de buscar vantagens competitivas, investindo pouco em agregar valor a seus produtos."



Universidade - A Universidade Corporativa do Sebrae encampa três novas iniciativas a partir deste mês. O projeto Saber, de disseminação de conteúdo didático pela internet; o Eu Ensino, Eu Aprendo, de oferta de cursos livres ministrados por colaboradores do órgão, e a ampliação da biblioteca virtual, que pode passar de 250 títulos para 100 mil livros nos próximos meses.



O investimento nas ações supera US$ 1 milhão, até 2015. Também está em andamento a capacitação de 1,2 mil gestores e agentes de inovação para ajudar na adoção de normas técnicas e certificações entre os pequenos negócios.



"O projeto Saber é uma plataforma colaborativa on-line para qualquer tipo de registro que os empregados do Sebrae queiram fazer", explica Paulo Volker, gerente-adjunto da Universidade Corporativa. A novidade permite que conteúdos sejam publicados e compartilhados, pela internet.



"Vamos contratar consultores externos que ofereçam tutoriais de aperfeiçoamento de texto para os funcionários." A meta é que, em três anos, todo colaborador do Sebrae já tenha usado a ferramenta para publicar algum material. A rede pode receber desde notas de reuniões e relatórios de viagens, até teses de doutorado.



A ferramenta de colaboração foi desenvolvida pela canadense Open Text. O programa é o mesmo usado em páginas colaborativas de grandes portais na internet. Inclui recursos de georreferenciamento, capazes de indicar as unidades do Sebrae que mais colaboram na produção e na distribuição de conteúdo. O material publicado também poderá ser encontrado na biblioteca virtual do Sebrae, que recebeu investimentos de R$ 300 mil. Também será possível baixar todo os arquivos digitalizados em smartphones. O acervo tem 250 títulos e a entidade está negociando com uma editora internacional de conteúdo para ampliar o conjunto para 100 mil volumes.



No programa Eu Ensino, Eu Aprendo, a ideia é oferecer cursos livres ministrados pelos colaboradores do Sebrae. "Vamos estimular a organização de treinamentos dentro do sistema Sebrae", diz Volker. "Uma consultora que viajou à China, por exemplo, pode dar um curso sobre as empresas que visitou e ajudar mais pessoas a ter informações sobre o país."



A Universidade Corporativa tem quase mil professores e 5% do quadro de ensino são de colaboradores do Sebrae. "Queremos elevar essa participação para 30% e reduzir despesas com a contratação de professores. É preciso acabar com o hábito de achar que todo treinamento tem de ser feito com terceiros ou consultores externos."



A Universidade Corporativa foi criada em 2008 e até o início de 2011 era parte da unidade de gestão de pessoas do Sebrae. Em fevereiro, tornou-se uma célula autônoma dentro da entidade, com um orçamento de R$ 12 milhões anuais. 88% dos colaboradores do serviço já passaram por treinamentos na central de ensino, de acordo com Volker. Até agora já foram ministrados quase 300 tipos de cursos e eventos de capacitação para 23 mil pessoas.



Os programas incluem cursos regulares de 20 a 30 horas, aulas sob demanda e baterias de desenvolvimento individual. No ano passado, foram oferecidos 1,9 mil treinamentos on-line, 1,8 mil cursos de formação de multiplicadores e 88 MBAs corporativos. Foram treinados 608 consultores e 250 agentes locais de inovação (ALI).



Recentemente, o Sebrae aprovou proposta para a oferta de cursos de mestrado aos colaboradores, a partir de convênios com instituições do Brasil e do exterior. A intenção é criar um grupo de especialistas em gestão e criação de políticas inovadoras nas pequenas empresas.



Por conta das viagens que precisa fazer como coordenadora nacional de aquicultura e pesca do Sebrae-Nacional, Newman Costa matriculou-se há três meses em um curso de inglês on-line na Universidade Corporativa. O programa tem duração de um ano. "O formato é perfeito para quem vive viajando", diz a executiva, que gerencia 58 projetos em 19 estados. Newman decidiu investir no treinamento por conta das missões internacionais que precisa participar e pelo aumento de visitantes estrangeiros, interessados no trabalho da rede Sebrae.



Até junho de 2012, o braço de ensino do Sebrae e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) vão capacitar 1,2 mil gestores e agentes de inovação para apoiar 30 mil empresas na adoção de padrões de mercado. Os investimentos somam R$ 9 milhões em oficinas de capacitação de multiplicadores. Serão priorizados dez setores nas aulas, como móveis, têxtil e alimentação. O estímulo à certificação pretende abrir novas perspectivas de ganhos aos empresários durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Segundo o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, o turista estrangeiro é mais seletivo e prefere produtos certificados.



De acordo com dados da Associação Brasileira de Educação Corporativa (Abec) e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), há cerca de 300 instituições de ensino corporativo no Brasil. Entre os alunos, 87% pertencem às áreas executiva e administrativa das organizações.

(Valor Econômico)





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